16 | Tenho um coração

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— Papa! — Uma menina pequena adentrou a casa correndo, passou zunindo por mim e se pendurou no pescoço dele, presenteando-o com um abraço espirituoso

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— Papa! — Uma menina pequena adentrou a casa correndo, passou zunindo por mim e se pendurou no pescoço dele, presenteando-o com um abraço espirituoso.

Ele tem uma filha? Ergui uma sobrancelha. Isso explica muita coisa. Essa disciplina militar com as regras de convivência furrecas do condomínio, por exemplo. Pais de meninas tendem a ser superprotetores e rígidos. Ou só ausentes, como o meu.

— Salvo pelo gongo. — Entreouvi seu murmúrio.

Ao desvencilhar-se dele, a garota virou para mim e saltou com a mesma empolgação para me envolver com seus braços. Eu não sabia que precisava daquele abraço até a criaturinha me agarrar como se eu fosse digna de tanto carinho.

— Oi, tia — cumprimentou-me, ainda me apertando.

Acho que ela gostou de mim.

— Oi, princesa! Qual o seu nome?

— Dandara. Papa que escolheu — expôs.

Nome de mulher forte, atestei, admirando-o. Com essa intensidade num abraço... A garota levava jeito. Além de porteiro, visionário.

— Que lindo — elogiei com sinceridade. — Quantos anos você tem? — Adorava a sabatina do primeiro contato com crianças. Elas sempre se empolgavam com questionamentos triviais.

— Tenho, hum... — Ela contou nos dedos. — Sete aninhos.

— Nossa, isso tudo?! — Mimetizei surpresa, tomando a liberdade de consertar o lacinho da trança dela, que se entortara no abraço.

— Você é namorada do papa? — perguntou de imediato, ainda de frente a mim, desinibida, com a típica curiosidade sem filtros das crianças.

Gargalhei, tratando de cobrir minha boca para não parecer uma despirocada. Deus me livre, mas quem me dera. Ítalo me lançou uma olhada de esguelha, impossível de decifrar se era reprovação, receio ou mais uma dose de vergonha.

Oh, querida, seu papa não gostaria de me namorar nem se eu viesse pintada de ouro e com um dote milionário. Ele só vem me acudindo porque deve ter um coração enorme por debaixo de tanto músculo.

— Não, titia — esclareci. — Eu e o seu papa somos apenas... — O que somos mesmo? Gato e rato?

— Amigos — ele interveio.

Dandara anuiu, parecendo gente grande.

— Papa nunca trouxe os amiguinhos pra cá — revelou. — Quer brincar? — Ela mudou de assunto num instante, como quem desliga um interruptor.

— Danda, a tia não é mais criança — explicou-lhe Ítalo. — Por que não chama um colega de sua idade?

— Quero sim — atropelei-o. Interagir com pessoas decentes que não me julgavam uma vagabunda dramática e insensível estava me fazendo bem. Não custava nada brincar com uma garota tão meiga.

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora