30 | (Não sou) Dona de mim

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"Me perdi pelo caminho
Mas não paro, não
Já chorei mares e rios
Mas não afogo, não"

("Dona de mim", IZA)

— Então eu serei seu encanador faz-tudo pra sempre? — De súbito, ele me acertou com essa

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— Então eu serei seu encanador faz-tudo pra sempre? — De súbito, ele me acertou com essa.

Hoje tá que tá.

— Pra sempre? — Meneei a cabeça para afastar os pensamentos e não me concentrar naquelas palavras. — Para, Ítalo. Isso não tem graça.

O verde dos seus olhos parecera escurecer, aproximando-se do castanho escuro que ele insistia em vender — como se eu comprasse aquela mentira boba —, deixando seu olhar ainda mais severo.

Ítalo era o curioso caso da pessoa de olhos claros que esconde o fato ao invés de se amostrar, com direito a fotos conceituais com close na íris, em diferentes ângulos, preenchendo o Instagram.

Também era o curioso caso do homem que fala sobre eternidade para uma mulher casada, que já ouvira aquele juramento anos atrás e ainda aguardava o cumprimento dos votos.

Eu o conhecia há poucos meses. A maior parte do nosso tempo juntos, perdemos numa dinâmica de gato e rato, na qual eu sempre o encurralava e o arranhava com minhas garras. E, logo agora, ele vinha com aquela conversa?

— Modo de falar. — Contornou o próprio ato falho ao notar meu incômodo.

— Aham... — demonstrei minha incerteza no tom de voz. — Não sei você, mas pra Leandro foi modo de falar mesmo.

Ítalo engoliu em seco. Naquele instante, fiquei com o pé atrás. Questionei-me se havia passado do ponto no quesito honestidade.

Ele conhecia meus problemas conjugais até demais. Não havia necessidade de bater naquela tecla outra vez.

— Certas pessoas não sabem valorizar o que têm. — Ele correu o braço por trás de mim e apertou meu ombro. — Falo por experiência própria.

— Sua menina malvada? — Quis confirmar. Ele assentiu. — Qual foi o caso?

— Helena. — Revelou o nome de sua vilã. — A segunda criatura mais bonita que eu já vi nessa vida. — Afastou-se um pouco. Inclinou-se para frente, apoiando os cotovelos sobre os joelhos e cruzando as mãos sob o queixo. — Eu, com meus 19 anos de pura falta de juízo, inventei de namorar com uma das moradoras do condomínio onde trabalhava.

"Os pais dela eram contra, minha mãe vivia me dando conselho pra ter cuidado com ela, mas eu não ouvi a voz da razão. E aí já sabe, né? Quem não ouve conselho, ouve coitado.

"Não demorou pra eu receber uma rasteira. Peguei a menina no flagra se agarrando com o professor particular dela. Quase dei uma surra naquele desgraçado, quase perdi meu emprego. Esse foi o caso.

"A primeira e última vez na qual me apaixonei por alguém, pus o meu na reta a troco de desilusão. Ganhei um par de chifres, dor de cotovelo e a constante sensação de que, se eu deixar alguém entrar na minha vida, serei sacaneado de novo."

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora