38 | Dá-me tua mão

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"Agora que subi ladeira, sossego
Que a poesia em minha horta choveu
Eu te quero aqui"

("Tantinho", Carlinhos Brown)

Subimos ao último andar em lados opostos

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Subimos ao último andar em lados opostos. Entre nós, um espaço vago que parecia nos distanciar por quilômetros. Pelas nossas expressões, parecia que alguém havia peidado no elevador e largado o odor de presente.

Após sairmos do cubículo da estranheza, ele me guiou pelos amplos corredores do setor administrativo da empresa. Parou à porta de uma sala enorme com paredes de vidro e escorou-se. Nela, havia um nome composto gravado, com o cargo de diretor executivo sob ele.

— Ítalo Tommaso Vacchiano — estendeu a mão, a qual, após um momento de apreensão, apertei com firmeza —, muito prazer. Porteiro na maior parte do dia, CEO a depender do horário, ocupado sempre.

Terminada a breve apresentação, ele abriu a porta e, segurando minha mão de novo, adentramos o escritório. Logo sentou-se na quina da sua mesa e me indicou a cadeira diante de si, onde me sentei sem demora, antecipando as mais absurdas desculpas.

— Tava esperando a hora certa — contou, suspiroso, relaxando os ombros a pulso. — Esperando terminar o serviço no seu condomínio para poder respirar, pensar melhor na ocasião, nas palavras, em como terminar o chá de revelação sem você me odiar por eu ter escondido metade da minha vida.

Cabisbaixo, ele apertou o cenho, tentando remediar as sobrancelhas franzidas. Finalmente se lembrou das rugas.

— Estraguei tudo, não foi? — perguntou, quase murmurando.

Estragou? Se fazer eu me sentir viva depois de anos me sentindo presa e infeliz for estragar tudo, então, sim.

— Eu não poderia ligar menos pro seu sobrenome, sua profissão, o que quer que fosse — revelei. — Mas eu queria ter tido seu voto de confiança. Não precisava de palavras bonitas. Só precisava retribuição. Deixei você me conhecer de verdade. Ninguém me conhece tanto quanto você. Tem noção do peso disso?

Ele ergueu a cabeça e, assim, pude ver seus olhos marejados.

— E, por isso, sinto muito. Muito mesmo — assegurou. — Você nem sabe o quanto.

A expressão de Ítalo me acabou. Dispensei meu orgulho. Desfiz a indignação pelo ultraje. O simples fato de doer nele tanto quanto doía em mim fora o suficiente para eu perceber o mais importante: porteiro ou não, seus sentimentos eram sinceros.

Levantei-me de pronto. Abracei-o como pude naquela posição desconfortável.

— Eu sei — sussurrei, pondo-nos em pé de igualdade.

Apesar da revelação digna de telenovela reprisada pela terceira vez, não me julguei no direito de recriminá-lo por algo que não ferira alguém de fato. Não é como se ele fosse meu irmão, tivesse plagiado uma música sertaneja ou assassinado meus pais.

Aqui, normalmente, seria a parte na qual o mocinho e a mocinha se separam antes do fim para dar um suspense ao romance? Não é assim que acontece?

É, sim, já li o suficiente para saber. Mas eu não prosseguirei seguindo os moldes.

Foda-se.

Não quero isso. Eu quero Ítalo.

Apesar da chateação, eu não deixei de o querer por um segundo que fosse.

Não somos mocinhos inocentes. Somos dois mentirosos, cada um em sua área específica de atuação.

Agora, no entanto, com a verdade posta sobre a mesa, poderíamos começar do zero. Sem receio. Sem a menor sombra de dúvida.

Mesmo vestidos, estávamos tão despidos que só sobrara a verdade, nua e crua. Naquele choro represado eu enxerguei a dimensão dos sentimentos dele.

Pobre ou rico, Ítalo gostava da Luciana real. Isto não mudara. E tornara-se mais um tópico entre as razões pelas quais me apaixonara por aquele homem.

Enquanto me perco na constatação do quanto me derreto por ele, o senhor Empresário me surpreende com uma sugestão súbita.

— Quer fugir comigo? — perguntou ele.

Assenti, em silêncio, ansiosa para saber qual seria seu próximo passo.

Ao enfrentarmos o desconforto do elevador outra vez, optei por jogar tudo para o alto e agarrá-lo ali mesmo

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Ao enfrentarmos o desconforto do elevador outra vez, optei por jogar tudo para o alto e agarrá-lo ali mesmo. Não queria esperar ou passar a impressão errada de que qualquer dissabor exterminaria minha vontade de tê-lo.

Saímos dele ainda atrelados, tropeçamos e quase caímos — o que nos rendeu gargalhadas e quebrou o gelo. Depois dessa ameaça de acidente, prosseguimos com mais cautela. Segurei seu braço e me deixei ser guiada ao longo do estacionamento.

Chegando à vaga do CEO, ele desligou o alarme de uma Mercedes cinza conversível. Ao nos acomodarmos, ele tirou do porta-luvas um lenço e me entregou.

— Pra não bagunçar o cabelo. Não antes da hora. — Tamanha fora a sua seriedade que me arrepiei por inteiro.

O pequena viagem até sua casa passou como um filme antigo, no qual eu era uma dessas atrizes sex symbol de Hollywood, com meu lenço colorido amarrado e óculos escuros charmosos.

O ar fresco daquela noite pouco movimentada me revigorou. O vento varria os problemas, deixava apenas o essencial em minha mente.

Senti-me viva, como nunca sentira.

Senti-me viva, como nunca sentira

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Serasse é agora? ( ͡• ͜ʖ ͡• )

Cenas do próximo capítulo...

Deixem votinhos e comentários, animem uma autora carente que já tá na reta final da história 💙

Beijos mil,

E. Black'

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora