12 | Mande esse corno passear

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A bonita acabou de pedir permissão ou eu alucinei? Estou no meio de algum surto coletivo? Será que eu estou na lagoinha?

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A bonita acabou de pedir permissão ou eu alucinei? Estou no meio de algum surto coletivo? Será que eu estou na lagoinha?

— Por favor — Luciana disse as palavrinhas mágicas.

Milagres acontecem. Levantei-me depressa frente a tamanha educação. Fora isso, sua enunciação arrastada me alarmou. Não era nem 22h e ela havia bebido água que passarinho não bebe a ponto de soar como o Barney dos Simpsons*.

Desta vez, o assunto era sério, logo deduzi.

Ao atender seu pedido, ela entrou de vez, fechou a porta com tudo e escorou-se nela. Contemplei a urgência em seus modos. E o resto.

Ela não facilita pro meu lado nem um tiquinho... Eu bati um churras na frente de um templo hindu na vida passada. É isso. Só pode ser isso.

Cada aparição daquela mulher era um suplício. Engolir em seco e esquecer até o meu nome viravam rotina. Justo quando ela precisava de abrigo, viera vestida da própria pele com um esboço de vestido por cima.

— Preciso de ajuda. — Agarrou meus braços, sem intenção de se aproveitar. Com certeza a cana batera forte, ela vira o mundo girar e se firmara na primeira coisa a seu alcance; no caso, eu.

— Tô vendo. — Não só estava vendo, eu sentira. Àquela distância, seu hálito divino e inconfundível me alcançava. Era o bafo de um whisky que deveria ser mais velho do que eu. — O que houve?

Eu me preocupei, sem brincadeira. Luciana jogara sobre mim uma quantidade considerável de problemas inventados, eu conseguia detectar suas mentiras, e aquela não era uma delas.

Cada segundo no qual eu a fitava em busca de respostas confirmava minhas suspeitas do quão sério era o assunto. Ela hesitou. Decerto suas dúvidas a respeito de mim a impediam de me conceder o benefício da confiança. Nada mais justo depois dos cinco minutos...

— Luciana! — O grito interrompeu o fluxo do meu pensamento e respondeu a minha pergunta.

— Imagino que esse seja seu problema — concluí. — Precisa se esconder, né?

Luciana anuiu.

— Vejamos... — Procurei o lugar mais prático, onde ela pudesse se esconder rapidamente. — A mesa! Fique aí debaixo. Eu encosto a cadeira, minhas coxas ficam na frente e, se ele ficar fuçando entre minhas pernas, a ameaça de processo por assédio vai dar conta do recado.

Sorrindo, ela se enfiou debaixo da mesa e se manteve em silêncio mesmo quando errei na puxada da cadeira e a imprensei com minhas pernas. Quis pedir desculpa, mas o momento não era oportuno. O marido dela estava vindo na direção da guarita.

O corno andava depressa, quase trotando. Naquela ligeireza, ele terminaria tombando com o peso do chifre ou caindo infartado às custas da estripulia da corridinha. Nenhuma de suas opções seria vantajosa para o boi bravo.

Meu CEO PorteiroOnde histórias criam vida. Descubra agora