Hablei y hablei. Aproveitei a desinibição pós incontáveis martínis e outros drinks para falar sem papas na língua. Visto que, desde a chegada, eu limpava as bandejas, apanhando copo atrás de copo à medida em que as bebidas eram servidas, houvera muito álcool para servir de combustível ao carro da verdade.
Contestei as considerações duvidosas e rebati seus argumentos. Se recebi gratidão pelo favor prestado? Capaz! Só falatório do ego ferido daqueles pobres homens contrariados.
Do senhor Esposo, ganhei uma repreensão digna de uma criança atentada que acabara de derrubar a mesa de frios por correr em local inadequado.
— Ficou maluca, Luciana? — Leandro interrogou, apertando meu antebraço enquanto me levava a um canto mais reservado do salão de festas.
As veias saltavam em sua testa, suas narinas se agitavam e o tique nervoso no canto da boca trabalhava a todo vapor. Bingo! Comemorei internamente.
— Quer me envergonhar na frente dos acionistas? — Apertou-me com mais força, sacudindo meu braço. — Já te falei milhões de vezes: se tá entediada, vá... conversar... com... as... outras... mulheres — recitou pausadamente, enfatizando cada palavra. — Fique fora dos meus assuntos — ordenou. — Estamos entendidos?
— Mas eles propuseram um investimento sem futuro — argumentei. Queria deixá-lo puto e, além disso, expor a imbecilidade dos seus iguais. — Não é vantagem pros usuários nem pros investidores. É perda de tempo envolver o banco nessas aventuras.
Mantive a pose, embora a cara de poucos amigos do traste estivesse começando a me assustar.
— Não acredita em mim? — Arqueei a sobrancelha. — Fantástico! — Franzi os lábios. — Vamos ver se alguém por aqui ainda possui um cérebro e concorda comigo.
Indignada com o ataque de raiva daquele songo-mongo, decidi botar pocando. Ele iria ver quem era a doida intrometida. Ah, se ia.
Conversei com os convidados a torto e a direito, coletando opiniões e convencendo os homens de negócio abertos à voz da razão. Não satisfeita com meu trabalho de conversão, tomei umas doses no caminho para me soltar ainda mais.
Soltei-me sem moderação. Atraquei-me com uma garrafa de Macallan, tomando-a do garçom, e levei-a comigo até o meu destino: os holofotes.
Subi no palco armado especialmente para a ocasião, onde um quarteto de jazz tocava música ambiente, peguei um microfone emprestado e falei para todo mundo ouvir:
— Ei, som! — Bati no microfone, provocando um som horrível. — Estão me ouvindo bem? — A plateia, confusa, assentiu. — Ótimo! Eu só queria dizer duas coisas pra vocês. Meu sincero "muito obrigada" pela presença de vocês neste dia especial é uma delas. A outra é que...
Fingi amnésia num instante e, dentro de segundos, soltei:
— Meu marido é um idiota e vai ser fodido pelos amiguinhos em um mau negócio — expus aos convidados. — Vamos celebrar a estupidez humana, minha gente, que tal? Um brinde àquele que vai querer me dar surra de pau mole depois de brochar quando o Ibovespa despencar. — Ergui a garrafa de whisky e bebi direto do gargalo, tremendo na base, trêbada.
A despeito do conteúdo do brinde, os convivas me seguiram, erguendo suas taças e bebendo seus venenos. As pessoas amam uma baixaria.
Naquele contexto, eu amara mais do que qualquer um. Desci do palco com estilo e voltei para o meio do povo quase sambando. Avistei Leandro, que permanecera ao lado de seu fiel par, Miguel Castro, da Trindade do Viagra. Andei em sua direção como quem não quer nada.
Ele estava daquele jeito. Fumaça saía pelas suas orelhas. Seu rosto ganhara uma tonalidade vermelho-pimentão. Os amigos dele se entreolhavam, mal contendo seus risos sacanas. Leandrinho virara piada naquela data querida. Missão cumprida!
Missão cumprida?
Nem tanto. Meu ataque direto e ousado infligira dano crítico nele. No entanto, em vez do barulho do chifre arranhando no asfalto, recebi algo inédito. Inédito, mas esperado — dada a progressão da irritação dele.
— Atrevida, hein? — De longe, captei a fala de Miguel através da leitura labial. Quando cheguei mais perto, ouvi com nitidez seu real conselho: — Sabe o que eu faço quando a minha baby ultrapassa os limites? Sento cipó de fedegoso. Ela fica mansinha na hora.
Estaquei, em um sobressalto, entrecortando a respiração. Eu havia passado dos limites, sei bem disso. Estava farta e alcoolizada. Um pouco de juízo traria benefícios. Mas aquela prosa ruim? Não, senhor. Não pra cima de mim.
Eu dispunha de garra para enfrentar centenas de Leandros, ninguém se engane. Eu não frequentava as aulas de kickboxing por capricho.
Nunca duvidei da minha força. Contudo, não valia a pena me desgastar a troco de nada. Principalmente na presente ocasião, na qual um troglodita o aconselhara a me dar uma surra de cipó.
Diante do teor da conversa e da minha indisposição, antes de me aproximar demais, andei de ré e dei passos apressados em direção à saída.
Por sorte a sandália tinha um zíper atrás e eu não precisaria desamarrar as tiras. Assim, deixei os sapatos na frente do salão e corri. Nem fodendo o rei do "não pratico exercício porque não dá tempo" conseguiria me alcançar.
Corri com destino ao meu lugar especial. A melhor portaria do Brasil. Um lugar onde não seria recebida com ódio.
Ainda que não morresse de amores por mim, Ítalo era uma pessoa decente e não me negaria abrigo. Apesar das reviradas de olhos e dos desassossegos, se eu parasse para pensar, não encontraria indícios de sentimentos ruins. Só acharia alguém que trocou todas as lâmpadas do meu apartamento mesmo depois de entender que era mais um capricho meu.
O resto? Águas passadas. Não guardava rancor. Não dele.
Esbaforida, parei em frente à guarita, dei batidinhas rápidas na porta e perguntei:
— Posso entrar?
Se a Luciana errou algum dia, eu já esqueci ¯\_(ツ)_/¯
Não esqueçam de comentar e votar pra fazer a outra salafrária do rolê (a autora) sorrir.
Beijos mil,
E. Black'
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Meu CEO Porteiro
Romance+18 | Completo | Dizem que dois bicudos não se bicam e isso fica claro para Ítalo quando, em seu primeiro dia como porteiro de um condomínio de luxo, conhece Luciana, uma moradora provocante que o tira do sério só de respirar. Entre tapas e beijos...