Tão Frio

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As lembranças amargas e dolorosas quase a impediram de sair do carro. Então, Camila voltou a respirar fundo, dizendo a si mesma que conseguia. Ela não havia dito nada a Eloise, não queria fazer pré-julgamentos. Acostumados com o seu mau humor matinal, ninguém do set estranhou ao vê-la acenar em um cumprimento rápido. Na sala de reuniões, ela sentou-se junto à mesa comprida, próxima de Ally e Samira. Não fez questão em reparar em quem tinha ou não chego. Pegou o script e folheou-o.

Os outros membros do elenco começaram a chegar, tomando as outras cadeiras. Minutos depois, adentrou Nick Jones, o produtor. Ele fazia tudo de modo teatral, inclusive entrar numa sala.

– Pelo que vejo, todo mundo já chegou – articulou, com um aceno exagerado.

Alguns sorriram. Camila deixou as folhas paradas ao lado das de Ally. Ela focou-se nas palavras de Nick, por um desvio, notou que Lauren estava sentada na mesa ao lado, entre Alexa e Dinah. Ela a olhou, sem muito no olhar, tanto que este foi breve. Camila suspirou ruidosamente. Samira a encarou, mas sem questioná-la.

– Queremos ouvir o script de vocês todos, para testar as vozes. – Meryl já chegou brincando. Os novos atores fizeram uma cara confusa, sem saber se era real ou não. – Eu não preciso pedir para que interpretem com toda a compaixão de que existem em vocês. – Caminhou no corredor, apertando cada ombro dos atores. – Mas eu gostaria de idealizar algo novo, como a leitura em conjunto. Queremos que vocês conheçam os novos membros da produção, mas... – Passou por Lauren, abraçando-a. – No momento, é isso. Uma leitura do script em conjunto, em grupo, seja lá como quiserem. – Ela riu. – Daqui a três dias iniciaremos as gravações.

Os outros aplaudiram, sem precisão. Ou será que estavam tão excitados para voltarem a gravar? Evento que não passava na cabeça de Cabello e Jauregui.

– Camila e Lauren. – Meryl chamou-as, pedindo para ambas a acompanharem até a sala de edição. Mila deixou que sua amada fosse à frente; aguardando uns dois minutos.

Uma vez lá, Meryl a olhou e pediu:

– Encoste a porta.

Ela a obedeceu. Lauren não a olhou, mexia nas folhas dos scripts, sentada na fileira dos computadores. Camila optou por ficar de pé.

– O que está acontecendo? – A diretora perguntou, sentando em uma ponta da mesa.

– Como assim ''o que está acontecendo?'' – Camila não se fez, ela não havia entendido de verdade.

– Vocês duas estão com problemas?

– Não há mais problemas entre nós duas, Meryl. – Lauren se prontificou a esclarecer as coisas. – Não sei o que você ouviu, mas está tudo pacato.

– Não, Jauregui, eu não ouvi, eu percebi que algo de muito sério aconteceu. – disse a mulher mais velha. – Eu teria tido este comportamento com qualquer um dos meus atores. Preocupo-me com a saúde mental de vocês e com o nosso trabalho. Vocês duas atuarão juntas. É preciso calma e sabedoria para não afetar as personagens com a vida pessoal. – Camila concordou. Era ciente de tudo aquilo.

– Quanto a isso, não tenha dúvidas. – Avalizou Lauren. – Nada sairá dos trilhos. Somos profissionais na arte de atuar.

Camila percebeu que Lauren a olhava significativamente. Pensou em dar uma risada. Por uma razão qualquer sentiu vontade de desafiá-la. Uma típica reação à crise e à depressão que a haviam dominado nos últimos meses. A diretora as olhou com ironia. Por um momento, Lauren e Camila se afrontaram, e nos olhos de Cabello havia desafio. Meryl se afastou, com um gesto de resignação.

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