IX. Desculpas Aceitas? Talvez...

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Ela estava abraçada a um urso de pelúcia que havia ganhado de sua mãe em seu aniversário de dez anos. Era o urso favorito dela, o que ela mais gostava dentre todos os outros que tinha no quarto. Dentro de seu peito seu coração doía e por mais que ela se recriminasse por sentir tal dor, ela não conseguia deixar de sofrer com aquilo. Merlim estava deitado esparramado ao seu lado e a companhia dele era tudo o que ela queria naquele momento, porque ele não iria perguntá-la o porquê de ela estar chateada daquela forma. Ele apenas a faria companhia, demonstrando todo o seu amor para com a garota sem confrontá-la. Apenas estava ali, com ela. Era isso que importava.

A satisfação de ter visto Ethan Cresswell entrar novamente por aquela sala sem ter sido expulso havia se esvaído quando ele a tratou de forma tão rude enquanto faziam a atividade. Ela não perguntara nada demais, apenas não queria deixá-lo sobrecarregado com todos os cálculos das contas enquanto ela somente copiava o enunciado. Não era desse jeito que fazia trabalho com duplas. Não era dessa forma que ela queria que fosse a sociedade deles durante o ano como parceiros.

Ela deveria imaginar que Ethan, com todos os problemas que provavelmente passava, seria grosseiro e surtado, diferente dos garotos que ela estava acostumada a interagir. Deveria imaginar que ele não a trataria bem, pois ele repelia qualquer pessoa daquela escola como se fossem um bando de animais. Por que ela achava que com ela seria diferente? Por que ela pensava que, ao sentar ao lado dele e pedir para chamá-lo de Bree, ele iria simplesmente dirigir-se a ela com todo o carinho do mundo? "Mas é claro que não."

Riu de sua tolice enquanto colocava o urso de pelúcia em cima da cama e puxava um Merlim preguiçoso para seu colo. O gato encarou-a com os olhos amarelos cerrados de sono e ela mordeu o lábio inferior lembrando-se de Khennan. Ela não poderia sequer pensar na possibilidade de esquecê-lo novamente e colocar Ethan como centro de sua atenção e pensamento. Tentava a todo custo lembrar-se da noite maravilhosa que passara com ele naquela mesma cama em que estava sentada agora e por mais que a noite perfeita ainda estivesse fresca em sua mente, ela não conseguia parar de pensar em como o seu coração sangrava com o maltrato de Cresswell para com ela.

Não que ela nunca houvesse sido maltratada por ninguém, mas... Com Ethan era diferente. Ela não imaginava que ele simplesmente a repeliria daquela forma tão ousada e repugnante. Nunca imaginava que ele seria mais do que um mal educado. Tudo o que ela pensava era que, no momento que conversasse com ele, pudesse descobrir os mistérios que envolviam aquele garoto, descobrir o porquê de toda aquela revolta, de todo aquele alarde... Queria conversar com ele de uma forma mais aberta, de uma forma mais amigável. Se bem que agora ela achava que a palavra amigável não compunha o dicionário daquele garoto. Ele sabia ser tudo, menos amigável.

Suspirou alto enquanto abraçava Merlim, que ronronava confortável. O pelo macio do gato fazia cócegas em suas bochechas rosadas e ela apertou ainda mais o corpo gordo do bicho contra o seu.

- Sabia que você é o melhor para me ouvir lamentar pelas coisas? - ela disse passando o nariz no pelo cheiroso do bicho que ficava cada vez mais derretido no colo da garota. - Mas eu queria tanto que você soubesse me dar conselhos. Eu não sei o que fazer... Eu tento não ficar magoada com aquele garoto estúpido, mas eu não consigo! MERLIM! - ela berrou colocando o gato assustado defronte aos seus olhos e encarando o animal com os olhos enormes. - Eu. Não. Quero. Me. Importar. Com. Ele! Você me entende? - ela sacudia o gato que a olhava com os olhos amarelos esbugalhados. - E se eu me esquecer de Khennan como havia me esquecido antes? E se eu não conseguir mais olhar Khennan da forma como ele deve e merece ser olhado? - a garota agora abraçava o corpo do gato com possessão. Assim que seu coração parou de disparar, ela largou o bicho na cama, levantando-se sob o olhar amarelo. - Você tem muita sorte de ser um gato, viu? Nunca reclame da sua vida.

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