Just Like Animals

XVII (Parte II). O Acerto de Contas

Os olhos de Breeze estavam totalmente voltados para qualquer lugar que não fosse Ethan. O garoto sentia dentro de si uma grande guerra acontecer e, por mais que não sentisse muito medo das coisas, passou a temer o que quer que Breeze fosse lhe contar dali a poucos momentos. Pelo que viu do corte na testa da menina, poderia julgar que Khennan havia sido um tanto bruto com ela para lhe causar aquele ferimento e o simples pensamento de que o rapaz sequer encostou em sua Breeze com a intenção de machucá-la era totalmente torturante para que ele continuasse sóbrio em sua própria sanidade. Conseguia enxergar a hesitação de Breeze em lhe contar o que quer que fosse, mas assim que um grunhido saiu de sua garganta, atraindo a atenção da menina, ela mordeu o lábio inferior, a expressão contorcida em um pedido mudo para que ele deixasse o assunto quieto.

- Estou esperando. O que aconteceu nessa conversa?

A garota puxou o lençol da cama para se cobrir e Ethan fez o mesmo, puxando a metade do tecido para si. Os olhos azuis da menina estavam tomados por medo e ele sentiu a necessidade de abraçá-la aquele momento. Puxou um sorriso de canto e trouxe o corpo pequeno da menina para perto do seu fazendo-a deitar a cabeça em seu peito e as unhas lhe dedilharem a pele do peito. Inspirou o perfume dos cabelos dela e foi quando ela respirou fundo, audivelmente, que a voz doce e calma quebrou o silêncio do quarto.

- Eu o chamei para conversar e ele apareceu. - ela falava em pausas. - Tudo aconteceu de uma maneira que eu não imaginava. Ele foi completamente bruto comigo, grosso e até atacou Nana.

- O quê? - Ethan elevou a voz, erguendo o corpo procurando escutar direito o que Breeze estava falando e enxergar sua expressão.

- Ele não gosta de Nana, Eth. Por várias vezes já foi estúpido com ela e sábado ele passou dos limites. - ela crispou os lábios. - Eu já estava pronta para terminar e a forma como ele a tratou só fez com que eu firmasse ainda mais a minha decisão.

- Mas o que ele tem contra Nana? Pelo que eu conheço de Nana, ela não seria capaz de ofender seu ex-namorado de qualquer forma que seja.

- Não mesmo. Mas acho que Khennan se sente um tanto quanto superior a ela. Ridículo, claro.

Há essa hora Ethan sentia o ódio começar a nascer dentro de si. Ele tinha a leve impressão que Khennan era um cara nojento e mimado, mas não imaginava que todo seu ego pudesse levá-lo ao estágio de se achar melhor que Nana. Teria coragem de apostar que o idiota não tinha um por cento da personalidade de Nana em sua educação.

- E o que mais? - perguntou à Breeze, a voz cortante e séria.

- Ele saiu do quarto para atender algo que o pai dele havia lhe pedido e então eu fiquei sozinha no quarto. - ela respirou fundo. - Foi quando eu ouvi o barulho do celular dele que acabou caindo aqui na cama. - ela voltou o olhar para Ethan, mexendo seu corpo para encará-lo de frente. - Ele estava me traindo.

Talvez Ethan não pudesse entender muito bem o que se passou em sua mente assim que Breeze proferiu a última frase, mas tudo o que ele enxergava era o preto. Ali, ele teve toda a confirmação possível de que Khennan era uma pessoa de péssimo caráter e desmerecedor de qualquer sentimento que pudesse provir de Breeze, porém, era altamente merecedor de todo o seu ódio, assim como seu pai desfrutava de tal sentimento vindo da parte dele. Como Khennan ousava trair Breeze? Por tantas vezes, ele lembrava, a garota lhe afastou por fidelidade ao namorado, cortou relações com ele para poder permanecer fiel e, mesmo que não fosse o certo, era esse o troco que ela recebia pela lealdade que ela investia no relacionamento?

Suas mãos começaram a tremer involuntariamente, sem que ele pudesse impedir. Provavelmente seu rosto estaria se contorcendo em uma expressão ameaçadora e ele pôde comprovar isso quando viu Breeze se encostar um pouco para longe dele e os olhos azuis lhe observarem com certa apreensão. Respirou fundo, procurando não cometer nenhuma besteira na frente da garota e a olhou com os olhos semicerrados, querendo saber tudo o que aconteceu naquela conversa.