XXV. O Silêncio de Anabell

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Existem diversos casos espalhados pelo mundo de pessoas que sofrem agressões físicas, psicológicas, verbais, sexuais, etc. Algumas pessoas têm a coragem de denunciar, de falar, de se libertar da prisão que é o silêncio, mas outras infelizmente não desfrutam desta capacidade.

Just Like Animals gira em torno de quebrar a cadeia que é o silêncio, retratando o assunto com muito cuidado, com muita presteza. Peço que tenham paciência com a menção deste lado da agressão e tenham em mente que haverá uma hora em que o dia irá sorrir para Anabell e Ethan.

Basta esperar que tudo acontecerá com o tempo e cuidado.




O som da campainha, mesmo que distante de sua audição, doía fortemente no centro de sua cabeça, causando uma grande evolução ruim da ânsia de vômito que entornava seu estômago. Anabell não tinha muita certeza se ficaria viva para contar história, mas estava se considerando terrivelmente forte por ter passado por mais uma noite de terror provinda da agressividade aguda de Marcius. Os traumas estavam novamente vivos em sua memória e em sua pele, mostrando que aquela vida certamente a mataria mais cedo ou mais tarde. Os ferimentos em seus braços ardiam, o sangue seco na textura dos cortes machucava a pele partida e a dor excruciante em sua região íntima fazia com que seus olhos rolassem nas órbitas e seus dentes rangessem um sob os outros.

Era um dos piores sentimentos que ela podia sentir em toda sua vida. E aquela vez havia sido ainda pior.

Não era a primeira agressão que sofria por parte de Marcius, mas toda vez que sofria tal desrespeito e desumanidade, era um novo sentimento de ódio e tristeza que corroía seu interior. Suas veias latejavam pela raiva e tudo o que sentia borbulhava em uma só vontade: acabar de vez com aquela merda. Mas como tentar fazer algo se o maldito medo e temor terríveis assolavam qualquer uma de suas decisões?

Pensar nisso fazia com que a mulher se encolhesse ainda mais sobre o sofá e contraísse o rosto quando as pontadas de dor passaram a preencher seu corpo. O som da campainha em insistência do lado de fora da casa só mostrava que quem quer que estivesse ali esperando ser atendido certamente não iria embora tão cedo. Com rangidos de dor e mau jeito nos membros, se levantou com cuidado enquanto a respiração falhava à medida que as dores aumentavam o grau de incômodo. Seus passos eram lentos e pequenos, quase que arrastando sob as solas dos pés, porém aquela era a única forma que Anabell encontrava de caminhar sem que gritasse de dor ou deixasse que as lágrimas viessem banhando seus olhos inchados e fundos.

Definitivamente, aquela era uma péssima hora para uma visita.

Ignorando o mau gosto em ter de atender a porta completamente ferrada, girou a maçaneta dourada assim que chegou em frente à porta, abrindo com calma até se deparar com a figura que ela menos esperava em muito tempo.

Breeze Vaughn estava parada em sua frente, os grandes olhos azuis a analisando minuciosamente enquanto um grande homem atrás da garota fazia o mesmo, a analisava nos mínimos detalhes enquanto o rosto empalidecia à medida que circulava as íris por seu corpo. Um passo para trás foi dado por seus pés quando ela viu o choque se passar pela expressão de Breeze e seus braços tremeram para fechar a porta na intenção de não deixar a garota vê-la nem por mais um segundo naquele estado. Um olhar de pena tomava conta das duas pessoas em sua frente enquanto seu coração tremia dentro do peito, machucando com batidas aceleradas e fortes. Seus olhos castanhosescuros se abaixaram e neste exato momento ela conseguiu ouvir a voz doce de Breeze trazer um conforto diferente ao seu coração perturbado.

- Acho que você está precisando conversar com alguém. - Breeze falou com a voz firme e vibrante, o que fez com que Anabell erguesse os olhos para encará-la. - Será que posso ser a escolhida para te ouvir?

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