Just Like Animals

XXXIII (Parte II). Os Exames Que Revelam Demais

— ETHAN!

Foi a primeira coisa que Anabell deixou escapar de sua garganta assim que adentrou as portas ferradas da delegacia.

Suas vistas pareciam embaçadas aos arredores e o que ela conseguia distinguir com perfeição era apenas o foco da visão e alguns rostos que lhe observavam assustados. Seus pais, já velhos e cansados, não conseguiam acompanhá-la tão bem quanto gostariam, o que fazia com que Martin Cresswell procurasse entrelaçar os dedos aos da esposa, Evangelina, caminhando um pouco mais rápido no intuito de conseguir alcançar a filha a tempo de impedir que algo ruim pudesse emergir das profundezas da situação; o que ele acreditava que era muito provável que acontecesse.

Anabell, por mais que tentasse respirar com coerência e organizar as forças para enfrentar a situação, não conseguia muito êxito em deixar que a esperança invadisse seu coração. Mesmo tendo seu cérebro martelando o fato de que Marcius fora preso, nada parecia tão ruim quanto o que ela teria de enfrentar em frente aos seus olhos. A denúncia contra seu marido não havia partido dela, o que era o certo, mas, sim, de uma família desconhecida, a qual ela deveria encarar e prestar contas pela filha única quase ter sido morta ­— se não é que já estava traumatizada o bastante. No momento em que ela conheceu Breeze Vaughn e toda sua sutileza, classe e personalidade completamente envolta em amor, Anabell nunca imaginara algo tão complicado como o que estava vivendo, o que a relação entre Ethan e a garota poderia originar. Nunca imaginava ter de ver a garota e sua família metidas em um enrosco pessoal de sua vida fracassada.

Ela não fazia a mínima noção de que as coisas acarretariam em um envolvimento muito pior do que o extremamente saudável.

Isso só trazia à mulher o pensamento de que Ethan estava deslocado e sozinho, tentando contornar a situação para que obtivesse um pingo de calma.

Precisava vê-lo depressa, antes que pudesse ser tarde demais.

— ONDE ELE ESTÁ? — ela falava em dois tons mais alto do que sua voz original, fazendo com que uma boa parte da delegacia escutasse seu chamado.

Assim que as lágrimas caíram com mais intensidade sobre suas bochechas, a visão tornou-se mais nítida por questão de segundos, mas o suficiente para que ela conseguisse enxergar o corpo de Ethan a poucos metros do seu. Sua boca entreabriu-se automaticamente enquanto seu corpo parava a locomoção por um movimento brusco, deixando que sua íris analisasse o rosto e a estrutura do filho, procurando algum vestígio de machucados ou luta visível.

Mesmo com as lágrimas cercando seus olhos outra vez, Anabell conseguiu perceber o grande corte que moldurava a testa de Ethan e o sangue seco que estava ao redor da ferida, denunciando que demoraria um bom tempo até que cicatrizasse. O rosto do garoto estava um tanto quanto roxo e o corpo curvado para frente, como se sentisse um pouco de dor em algumas partes desconfortáveis; mas ao todo, Ethan parecia bem. E isso foi o que lhe deu o impulso de correr em sua direção e abraçá-lo como se não houvesse outra chance em sua vida, como se aquela fosse a última oportunidade que teria para demonstrar o amor que sempre sentiu pelo garoto ao longo dos anos atribulados em que compartilharam. Abriu os braços e, sem deixar que pensamentos tomassem conta de sua mente, abraçou o filho com o coração doendo pelo alívio que o envolveu; o alívio de encontrá-lo com vida e saúde.

Apertava o garoto em seus braços, não se lembrando de que ele poderia estar sentindo mais dores que o previsto. Não lhe importava tanto a dor física quando os braços de seu menino a envolveram como um manto suave e preciso, como um ser humano que procura a cura para sua enfermidade e a encontra, por mais difícil e atribulado que seja o tempo. Sentir a textura do corpo forte e da pele macia de seu filho sob suas mãos, os cabelos desgrenhados e fora de sua linhagem habitual eram apertados por seus dedos e as costas dele recebiam, por algumas vezes, as palmas de sua mão que apalpavam minuciosamente, certificando-se de vê-lo bem.