XXXVII. É Possível Consertar Os Erros Cometidos?

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Ethan queria poder dizer que estava calmo.

Queria poder compartilhar de, pelo menos, um dia inteiro sem problemas ou notícias ruins.

Queria poder levar sua namorada para um lugar onde não teria espaço para amarguras. Queria poder viver e apenas viver.

Há quanto tempo seu sonho era apenas viver?

Ele sentia que estava perto, bem perto, de ter uma vida de verdade. Só tinha desaprendido a esperar. Esperar não era mais a opção que ele queria seguir. Havia desistido de colocar a causa nas mãos do destino. Queria agir, queria fazer algo por si mesmo.

Era uma terça-feira e apenas o segundo dia de aula, mas ele e Breeze não haviam comparecido àquela manhã. Devido aos últimos acontecimentos, o julgamento dos criminosos vinha em primeiro lugar. Em contrapartida, ele estava dentro de sua casa, sozinho, enquanto Anabell, Bobby e Héricles foram ao evento acompanhados do advogado. Breeze havia ficado com Nana e, por mais que eles quisessem estar juntos naquele momento, optaram por colocar a cabeça em ordem e adiantarem suas vidas, atrasadas pelos acontecidos do último mês. Não importava se o mundo deles estava desabando sob suas cabeças; a escola ainda tinha seus próprios eventos para realizar como, por exemplo, o campeonato interclasses que estava cada vez mais próximo.

Enquanto ele estava embrenhado em suas atividades do curso de Fotografia, a exposição criativa se aproximando, Breeze estava focada na apresentação de líderes de torcida no campeonato, onde o time de futebol da escola disputava com os times de outros colégios. Em outros tempos, Ethan acharia tudo aquilo uma bobagem e não saberia lidar com o fato de Breeze dançar e chamar a atenção dos alunos com as garotas da torcida, mas essa não era mais a forma que ele tinha de pensar. Na verdade, ele sentiria orgulho. Orgulho de vê-la fazer o que gostava, de vê-la feliz, de, finalmente, poder dizer que aquela alegria, de alguma forma, provinha dele. Ela o amava. Isso era o mais importante.

Uma pontada em seu peito o fez parar de fazer as anotações em seu caderno.

O sorriso de Breeze passou em sua mente por um momento. Lembranças de um passado horrível tomando conta de sua consciência, cortando sua respiração, fazendo a culpa pesar em seus ombros.

Que merda achava que estava fazendo?

Mesmo que soubesse que grande parte de seus problemas psicológicos provinham de uma tribulação tremenda que enfrentava tendo um homem abusivo dentro de casa, ainda assim os erros que cometera eram demasiado graves. Tão graves que poderiam acabar com tudo o que havia construído com Breeze e sua família.

Principalmente com Breeze.

Ela iria embora e nunca mais iria querer saber dele.

"Odeio mentiras", era o que ela havia dito uma vez, tão sinceramente que as palavras sondaram sua mente por dias.

Com um impulso, se levantou da mesa que estava sentado e cortou o caminho da sala de estar até o sótão trancado na ponta da escada. Subiu os degraus de dois em dois e retirou as chaves de dentro do bolso, abrindo a porta. O ar quente do lugar bateu em seu rosto como um sopro, trazendo o aroma que ele conhecia bem. Respirando fundo, acendeu as luzes do lugar e apertou os olhos ao contemplar as muitas fotos dispostas de uma ponta a outra do quarto. Fotos de Breeze. Fotos em que ela aparecia de todas formas. Fotos em que ela sorria, fotos em que ela estava séria... Fotos em que ela estava nua, fotos em que ela não deveria estar fotografada... Mas estava. Para sempre.

O ardor nos olhos o fez soluçar. As lágrimas eram extremamente doloridas e mal comportavam em suas pálpebras.

A culpa era um sentimento lascivo. Doía como fogo em brasa e perfurava como a faca mais afiada. Empurrava nas entranhas e enjoava o estômago, trazendo uma sensação depressiva de se desculpar. Se desculpar... Será que ela o perdoaria? Será que ela entenderia? Será que ela lhe daria uma segunda chance?

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