XXXII. Diante de Seus Olhos

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A imagem de Ethan parada em frente à porta era quase como uma miragem.

Se Breeze tivesse sorte, aquilo poderia ser uma miragem sombria e tenebrosa que ousou fazer parte de seu pesadelo atual.

Porém, o corpo de Khennan por cima das costas fortes do garoto eram o choque de realidade que ela precisava para perceber que sua vida obtinha um ritmo severamente engraçado. Como as coisas, de uma hora para a outra, tendiam a dar errado de uma maneira incrivelmente aflitiva, mas ao mesmo tempo cômica?

Mesmo que seu desejo fosse ver Ethan outra vez, vê-lo e abraçá-lo, poder senti-lo completamente em seus braços, fosse o reverberante, não poderia se negar que ela daria tudo para que Ethan não ousasse colocar os pés em sua casa àquela noite.

Ela não acreditava em seus próprios olhos, em sua compreensão, em seu alerta irritantemente maldito que berrava dentro de si palavras como "assassino", "similar", "Marcius" e seus derivados nojentos.

Seus olhos caíram de imediato na figura de Nana, conseguindo perceber a mulher tão paralisada e surpresa quanto ela. O olhar azulado coberto por lágrimas que iriam cair brevemente estava focado com perfeição na figura de Ethan. Palavras não seriam ditas pela governanta, Breeze constatava. Não haveria palavras de conforto que pudessem lhe acalmar e lhe dizer que aquilo não estava acontecendo. Que a pessoa mais importante de sua vida, em questões amorosas, não havia matado seu ex-namorado infeliz e nunca se alegraria em ver o sangue de um rival correndo por suas mãos.

Como se ele não fosse o filho de um psicopata nojento e decidido a minar vidas femininas pelo mundo.

Em meio à toda a dor de cabeça que envolvia seu crânio, Breeze virou os olhos para Marcius percebendo o homem com os olhos tão interrogativos quanto os seus próprios. Porém, a interrogação se mostrou tão passageira quanto uma vida que, num piscar de olhos, abandona o mundo e parte para onde quer que lhe fosse predestinado. O olhar interrogativo se dissolveu em um brilho diferente postado nas retinas, como se uma luz fortíssima tivesse o iluminado. O estômago virou por dentro de seu interior, ameaçando concretizar estragos desagradáveis para o momento.

Ethan permanecia imponente em frente à porta, o rosto envolvido numa expressão perigosamente diferente. Era um diferente ruim, que não dava uma boa impressão a quem quer que tivesse de presenciar a cena. Seus pés gritavam para que ela fosse ao encontro do garoto, protegê-lo de qualquer perigo que ele pudesse correr seja pelas mãos do pai que, mesmo preso, ainda possuía atitudes duvidáveis ou da polícia que o encarava com olhos culposos e ininteligíveis.

Breeze sabia que Ethan não havia feito nada. Não permitiria que ele fosse preso juntamente à Marcius quando Khennan era somente um monte de merda que merecia a morte tanto quanto seu professor.

Ela não permitiria que Ethan sofresse mais do que já sofreu em todos os anos de sua existência.

Ela não acreditava que ele havia matado Khennan Samson.

Não. Acreditava.

O delegado Walker foi o primeiro a caminhar em passos largos até onde Ethan estava. O rosto do garoto pingava suor misturado à sangue e só de perceber, ao longe, um corte na cabeça de seu amado, Breeze sentiu o coração espatifar no chão em milhões de pedaços. Desde quando vira Ethan machucado e completamente fodido certo dia naquela mesma sala, ela jurou a si mesma nunca ter de presenciar tal cena outra vez. Claro que o destino faria questão de pisotear em seu coração de alguma forma jogando a triste realidade para que ela a enfrentasse de modo sombrio.

Sem que dissesse nada, Breeze viu o delegado se aproximar de Ethan com dureza. Uma das mãos se levantou até encontrar o braço imóvel de Khennan, de forma a imaginar que ele não tinha consciência alguma ao sentir o toque em sua pele. Ethan encarava o delegado com os olhos faiscando chamas tenebrosas de fogo, como se pudesse queimá-lo. Walker não demorou mais que cinco segundos até respirar aliviado enquanto murmurava as primeiras palavras que interromperam o silêncio desde que Ethan entrara na sala.

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