XVIII. Lembranças, Desejos Atendidos e Conceito de Amar

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Música do Capítulo: Boyce Avenue - Just The Way You Are

Contemplar sua imagem no espelho era algo totalmente diferente desde quando ele finalmente havia acertado suas contas com Khennan Samson. Era como se nada no mundo se igualasse àquele sentimento de vitória, àquele sentimento de dever cumprido. Quando Breeze havia lhe contado que Khennan havia a agredido e quase a estuprado, seu sangue subira tanto à cabeça que ele quase não pôde controlar. Se não fosse Breeze o chamando para a realidade das coisas, ele, com certeza, teria perdido o controle. Mas tudo havia mudado de figura quando ele contemplou o corpo alto de Khennan circular os arredores da casa da garota e não podia simplesmente sair sem que fizesse aquilo que sempre teve vontade desde que soube da existência de Khennan como namorado de Breeze: acabar com ele de uma vez.

Não se arrependia de ter socado o rapaz até que o mesmo desacordasse e ficasse sozinho em um beco escuro de uma rua sombria qualquer. Na verdade, se sentia mais do que realizado por ter conseguido que sua vingança tivesse sido executada da forma como ele queria. Talvez, dentro de alguma parte obscura de seu subconsciente perturbado, Ethan quisesse matá-lo. Mas ao invés de sujar suas mãos com o sangue nojento daquele energúmeno, resolveu que ensiná-lo uma boa lição era o suficiente para que ele reconhecesse com quem Breeze estava agora.

E, ao olhar seu maxilar roxo, ele não podia deixar de sorrir, totalmente satisfeito. Aquela marca roxa não se resultou de uma surra de seu pai nem muito menos de uma briga qualquer como a que teve com um idiota de sua escola há tempos atrás. Aquela marca demonstrava a honra de Breeze e inclusive a sua honra. Agora ele estava com Breeze e a tinha totalmente para si, sem mais nem menos. E isso era o suficiente para que ele pudesse se sentir feliz e definitivamente realizado.

A manhã daquela terça-feira estava fria e nublada por conta da tempestade que assolou a cidade na noite anterior. A chuva havia sido intensa e gelada, quase o levando ao estado febril por ter se sujeitado a ficar tanto tempo debaixo da água torrencial. Quando chegou em casa, Anabell simplesmente soltava fogo pelos olhos ao vê-lo todo molhado, o supercílio partido, lábios roxos e machucados e o sangue caindo como um filete por seu rosto alvo. Por causa da água, o sangue se espalhava mais, dando a impressão de que mais sangue estava se fazendo presente e essa foi a gota d'água para a mulher que encarava seu filho como se ele estivesse morto.

Depois de ouvir gritos e mais gritos provindos da histeria de sua mãe, a apaziguou dizendo que havia escorregado na calçada e batido o rosto. Era uma desculpa idiota, mas ainda assim justificável por conta da chuva que não parava de cair. Não demorou muito até sua mãe buscar a caixa de primeiros socorros e fazer um curativo no supercílio que, naquele momento, ele já havia tirado. Não queria ir para a escola com o curativo e acabar chamando a atenção de Breeze. O corte foi feito bem próximo à sobrancelha do garoto e isso fazia com que diminuísse o contraste da pele machucada e acabava não chamando muita atenção para quem o olhasse de perto. O grande problema era o maxilar um tanto quanto roxo que desenhava seu rosto. Fez uma careta para seu reflexo no espelho enquanto passava os dedos pelo maxilar e deslizava-os pela barba, sentindo-a espetar sua pele. Teria de esconder aquelas marcas para que Breeze não desconfiasse de nada ou fizesse perguntas nas quais ele não poderia responder.

Não queria levantar suspeitas de que havia se atracado com Khennan e nem dar alguma desculpa idiota para Breeze, pois sabia que para ela seria muito estranho vê-lo quase surtar por causa de Khennan e no dia seguinte aparecer todo marcado de roxo. Não. Tinha que esconder aquelas manchas e usar algum agasalho que favorecesse sua situação mediante aquilo.

Na gaveta abaixo da pia do banheiro havia vários acessórios que ele utilizava como shampoo, sabonete, creme de barbear e afins, e dali ele retirou uma base clara que sempre guardou consigo desde quando seu pai começou a lhe espancar a ponto de marcá-lo. Aquela base lhe dava bons créditos na aparência e ele não se importava de ser um acessório de maquiagem feminina. O que importava para ele era estar com a pele normal para que Breeze - e em certas ocasiões sua mãe - não desconfiasse que ele andou fora da linha.

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