XXIII (Parte II). Desconfiança

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Breeze não estava acostumada a acordar e encontrar sozinha em casa quase todos os dias. Com a ausência de seu pai, Nana e os empregados, tudo ficava muito vazio e sozinho dando a ela uma sensação de liberdade ao mesmo tempo em que a sensação de solidão a tomava. Nunca tinha ficado tão livre dentro de casa enquanto tinha somente a sua própria companhia para apreciar. Em momentos passados quando seu pai estava trabalhando, Nana e Elizabeth eram sua companhia frequente e nunca ela se via sozinha. Por vezes em que Nana e os empregados eram dispensados em férias, Breeze sempre se encontrava ao lado de sua mãe em todos os momentos da vida. Era nessas horas que ela sentia falta de sua mãe como nunca. A perda ainda era tão recente quanto ela esperava e o que ela mais queria era poder sentir novamente o abraço de Elizabeth como nunca antes sentiu. Aproveitaria ao máximo o aconchego do sentimento mais sincero que ela havia conhecido em toda sua vida.

Mas ao perceber que isso não seria possível, seu coração quebrava em vários pedaços enquanto as lágrimas ameaçavam querer chegar em seus olhos. Porém, ela se recusava a se submeter a uma tristeza interior aquele dia. Ethan viria logo menos para almoçar com ela até a hora do curso e deveria estar pronta para receber o rapaz com um belo almoço ao qual ela estava planejando desde o dia anterior.

Seus talentos na cozinha foram ensinados totalmente por Nana e Elizabeth que tinham apreço em mostrar à garota quais os temperos mais adequados para o preparo de um excelente prato. Com todas as dicas e truques aprendidos com as mulheres, Breeze podia se considerar uma excelente cozinheira quando queria. E, com um sorriso grande estampado em seu rosto, tratou de escovar os dentes depressa enquanto vestia um hobe qualquer e descia as escadas com cuidado até a cozinha onde já imaginava o que aprontaria para o almoço daquela tarde com Ethan.

O vazio da casa era ruim, mas ao mesmo tempo a deixava mais livre para pensar e entender as coisas como, por exemplo, onde seu relacionamento com Ethan estava se encaminhando. Enquanto puxava uma panela de pressão do armário embaixo da pia e a enchia de água, seus pensamentos corriam por Ethan e por Anabell e toda sua dúvida em relação ao relacionamento de ambos. Dentro de sua mente, ela tinha a grande impressão que Marcius Cresswell era uma pessoa tão ruim que Anabell e Ethan nem sabiam descrever direito quem na realidade era aquele homem. Por mais que tudo fosse apenas impressão, ela tinha quase certeza de que havia algo indevidamente fora do lugar.

Sem delongas, buscou alguns legumes de dentro da geladeira, partindo-as ao meio enquanto colocava todos os pedaços dentro da água na panela e ligava o fogo, tampando-a com cuidado. Seu coração batia aceleradamente e várias hipóteses e possibilidades corriam por sua mente de maneira descontrolada que quase trazia uma dor desconfortável em seus pensamentos. Talvez ela devesse mesmo seguir o conselho de Nana - pensava ao mesmo tempo em que buscava alguns molhos e temperos na dispensa do armário acima da pia. Talvez devesse deixar tudo para lá enquanto era tempo. A vida de Ethan era muito diferente da dela e tudo o que ele passava com certeza era muito longe do que seus olhos haviam enxergado da vida.

Mas seu coração a mandava fazer justamente o contrário que sua razão clamava para que ela seguisse.

Seu coração apaixonado dizia tão forte dentro dela que havia algo em que ela precisava ajudar. Não só precisava como devia ajudar.

Uma careta se formou em seu rosto enquanto ela abria os temperos e provava cada um, examinando o gosto para colocar o melhor no molho de legumes da massa que iria preparar. Tudo era muito confuso quando ela parava para analisar a situação com os olhos mais críticos. E o que mais a incomodava era saber que Ethan não lhe contava nada quando ela sentia que deveria saber de algo.

No fundo, ela entendia o casulo ao qual Ethan estava submetido há muito tempo. O garoto não tinha relacionamentos interpessoais, não tinha amigos e a única pessoa a quem ele demonstrou confiança fora ela. Não sabia há quanto tempo Ethan não tinha um relacionamento de amizade com alguém, mas percebia claramente que nem com a própria mãe ele tinha um relacionamento aberto. Algo atrapalhava o garoto de se entender com as pessoas e por mais que ela respeitasse isso, queria saber exatamente o que acontecia.

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