Just Like Animals

XX (Parte II). A Decisão Mais Difícil

Ethan não sabia muito bem o que pensar de si mesmo depois do almoço perturbado com Breeze. Talvez aquela tenha sido a decisão mais errada que ele havia tomado em toda a sua vida, mesmo sabendo que não podia arriscar em misturar Breeze àquela realidade totalmente horrenda que circulava por sua vida. Mas no fundo ele sabia que o cerco estava se fechando tão depressa quanto qualquer outra coisa que ele pudesse imaginar. Breeze, mais cedo ou mais tarde, iria descobrir toda a sujeira que vinha por trás de sua família e todos os problemas que ele passava com seus pais. A começar por ele ter permitido a garota de conhecer sua mãe.

Mesmo que ele quisesse, não poderia impedir Breeze de lhe questionar sua origem principalmente quando ele sabia muito sobre a garota. Mesmo que ela vivesse uma vida pra lá de perfeita e ajustada, a qual ele invejava secretamente, mas amava a cada dia que compartilhava desse amor familiar com a garota. Ela era esperta e uma hora sacaria que algo estava errado.

Mas o destino, pelas poucas vezes na vida, estava ao seu favor àqueles dias.

Inesperadamente, Marcius Cresswell havia anunciado uma grade de viagens a trabalho que teria que fazer no início até o fim das férias de Ethan, o que causou nele uma grande felicidade, pois isso significava que teria mais tempo para esconder o curso de seu pai e viver suas férias em paz, sem que o homem o atrapalhasse com seus balbucios idiotas. O homem estaria fora quase pelo mês inteiro, o que proporcionava a Ethan a sua tão sonhada paz. A viagem havia sido uma notícia maravilhosa tanto para ele quanto para Anabell, que tinha os olhos iluminados de maneira mais do que feliz, quase libertadora. Com seu pai longe, sua vida estaria definitivamente melhor do que ele imaginava.

Até Breeze vir com a conversa de querer conhecer sua família.

Tentou de todas as formas fugir da garota, mas o que aconteceu foi somente se embaralhar ainda mais e deixá-la pra lá de desconfiada com suas atitudes e o medo de perder sua menina havia ficado cada vez mais forte. Ethan tinha medo de que Breeze pudesse encontrar nele resquícios dos problemas com seu pai e se afastasse dele, da mesma maneira que ele temia a garota se sentir mal por pensar que ele não confiaria nela e se afastar da mesma forma. Não suportaria viver longe de Breeze nem por um segundo de sua vida. Agora, definitivamente, ele tinha encontrado a felicidade ao lado dela e nada podia impedi-lo de viver esse conceito de amar que ele ainda estava descobrindo ter um sabor tão doce quanto o mel. Pelo menos por enquanto.

Então, ele não viu motivos para impedir a garota de conhecer sua mãe. Seu pai iria viajar e nesse meio tempo Breeze poderia conhecer Anabell e iria sossegar o facho de uma vez. Pelo menos conhecendo sua mãe nem que fosse somente uma vez, seria um bom motivo para ela não insistir muito no assunto. Então agarrou essa oportunidade e, mesmo sem certeza do que havia decidido, permitiu que a garota conhecesse sua mãe. O combinado do encontro ficou para a primeira semana de férias, onde seu pai estaria viajando e sua mãe estaria sozinha em casa. Melhor conhecer Anabell, que era uma mulher normal, do que um monstro como Marcius, que ele faria de tudo para que Breeze não conhecesse o homem.

O único problema que pairava em sua mente era o que ele falaria para Anabell.

As perguntas de sua mãe certamente seriam bastante evasivas e ela exigiria saber de tudo sobre a garota, quem ela era, qual o grau de relação entre os dois - já que ele nunca havia trazido nenhuma garota para conhecer sua mãe ou sua casa e por motivos óbvios -, desde quando se conheciam, o que os juntou...

Ele tinha resposta para todas essas perguntas, mas ele omitiria toda a obsessão que sentia por Breeze. Omitiria o fato de que ela era mais do que o ar que ele tinha para respirar, que ela era a paz que ele não tinha dentro do inferno que ele chamava de casa. Omitiria tudo o que era relacionado ao seu sentimento pessoal por Breeze, coisa que nem ela sonhava que ele sentia. Isso era outra coisa que ele queria esconder dela a todo custo: a obsessão. Talvez se Breeze soubesse o quanto ele era obcecado por ela, com certeza ela iria fugir para a França e não sairia de lá nunca mais. Por isso que a chave do quarto de Breeze - o sótão - estava guardada consigo o tempo inteiro, sem que ele se desgrudasse em nenhum momento, nem mesmo quando ele ia para a escola. Tudo o que ela relacionado à Breeze estava bem guardado.