XXXI. O Flagrante Nem Tão Infernal

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Khennan Samson...

Parecia que nada poderia piorar mais do que seus próprios pensamentos que gritavam constantemente em sua mente o quanto tudo se relacionava com o maldito Khennan Samson.

Khennan Samson...

Droga. Droga. Droga.

A verdade estava estampada em sua frente como se nada pudesse ser feito para rebobinar a fita e começar o filme do zero.

Muito menos a voz do delegado Walker em sua cabeça poderia ser o suficiente para fazê-la enxergar os fatos com mais nitidez ou, pelo menos, dar ouvidos à voz da razão que juntava os pontos perfeitamente em sua mente, mostrando que tudo o que ela acreditava estava perdendo completamente sua base de estrutura.

Só conseguiu ter noção do que acontecia à sua volta quando um copo grande de vidro, que carregava consigo uma generosa quantidade de água, atravessou sua visão perturbada e turva. As mãos de Nana seguravam o copo com firmeza o bastante para não o deixar cair, mas Breeze percebia o quanto ela estava perturbada e trêmula. Talvez o copo de água pudesse servir melhor para Nana do que para si, de certo modo.

— Beba isto. — Nana ordenou em voz baixa, o que Breeze acatou quase que de imediato enquanto procurava um alívio que, obviamente, não viria tão cedo. — Vai ajudar a melhorar.

O líquido desceu fluindo por sua garganta até molhar o estômago que revirou por dentro como se não aceitasse de maneira alguma o abastecimento de qualquer coisa que fosse. Tratou de forçar seu corpo até que a água estivesse toda dentro de si, purificando figurativamente todos os cantos de seu ser que necessitavam de uma cura. Mas ainda assim tudo era demasiado vago e seus olhos só queriam fechar por completo e deixar que tudo escurecesse à medida que sua consciência se perdia nas ondas do sono.

Mas é claro que o delegado Walker não deixaria que tudo fosse tão simples quanto ela precisava que fosse.

— Seu ex-namorado, hm? — ele perguntou enquanto a menina assentia, depositando o copo vazio em qualquer lugar que fosse viável. — Tem certeza de que ele mora nesse endereço?

Breeze rolou os olhos enquanto fechava a cara.

— Mas é claro que eu tenho. — ela suspirou mordendo o lábio inferior, limpando as lágrimas com as duas mãos. — Eu... Só estou tentando digerir a informação de que foi exatamente este o endereço rastreado. Não é algo que eu esperava.

O delegado assentiu e olhou para os dois lados da casa, encontrando a família Vaughn parada encarando-o com os olhos completamente sombrios e os policiais e pesquisadores envoltos numa bolha particular de lógica e razão. Não delongou a voltar os olhos para a menina, conseguindo perceber as lágrimas descendo silenciosas pelo rosto dela.

— Me explique porque estou sentindo que tem algo escondido por baixo dos panos. — ele semicerrou os olhos, observando Breeze e os pais. — Se tem algo a contar, falem de uma vez. Não podemos perder tempo com esse garoto envolvido numa série de assassinatos. Se é que ele tem algo a ver com isso.

— Ele tem. — Héricles pronunciou enquanto Breeze arregalava os olhos para o pai, o coração dentro do peito machucando as veias pelas batidas aceleradas. — Eu tenho certeza que tem.

Nana se aproximou vagarosamente. O rosto estava contorcido numa expressão terrivelmente sombria, como se a negritude da situação interferisse nitidamente em suas ações e gestos. Dentro de seu coração, o sentimento de justiça gritava com todas as forças e ela não podia negar para si mesma o quanto precisava se aliviar de toda aquela merda acumulada no meio daquela história incrivelmente insana. O envolvimento de Khennan no assunto ainda era vago e somente suposições poderiam ser feitas. Nada de fatos, nada de acusações. Mas não se podia negar fatos que, de alguma forma, ligariam a história à uma série de suposições para lá de influentes através de uma maneira inteiramente ousada.

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