XXIV (Parte II). Juntos

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A dor que assolava o corpo magro e desengonçado de Breeze Vaughn muito provavelmente era a pior dor que a menina teve o azar de sentir em toda sua vida. A luz do dia que passou a clarear seu quarto foi o suficiente para machucar suas retinas e irritar a visão de uma forma dolorida que se projetou no centro de seu crânio, em uma dor estonteante que fez a cabeça da garota se afundar ainda mais sobre o travesseiro macio de sua cama. As lágrimas já estavam secas por seu rosto, mas ainda formavam rastros doloridos ao qual lhe dava somente mais vontade de chorar principalmente quando flashes dos acontecimentos da noite passada surgiam em sua mente como tapas diversos e sanguinários.

Um nó engasgava sua garganta e seu corpo desfalecia sobre o colchão quando ela percebia exatamente o que tinha descoberto e o que teria de enfrentar dali para frente com a mais nova verdade que passou a fazer parte de sua realidade de vida. Confirmando tudo o que ela havia desconfiado por tanto tempo, cabia somente a ela própria ajudar Ethan Cresswell a se livrar de uma vida tão sofrida quanto ela menos imaginava. Nem mesmo quando afundava o travesseiro em seus ouvidos ela não conseguia desfazer sua memória dos gritos fortes do garoto, de Anabell e de todo o julgo que ambos sofriam por conta de vizinhos fofoqueiros e nojentos que não faziam a mínima ideia do que acontecia de verdade dentro da casa dos Cresswell.

Na verdade, nem ela sabia.

E por dentro ela tinha certeza que era algo muito grave que sua experiência de vida era muito pouca para enfrentar.

Em certos momentos como este, ela sentia tanto a falta de Nana para lhe aconselhar e lhe ajudar com a melhor orientação que ela precisava àquela hora, mas não podia simplesmente despejar tal verdade para a mulher e esperar que tudo ficasse bem. Estava contando exatamente com o apoio de Bobby naquela missão e era essa a força que a fazia se erguer enquanto todo seu corpo e seu medo lhe imploravam para se abrigar dentro de casa e fugir do perigo.

Deixando de lado toda sua insegurança e alerta ao risco que ela não fazia ideia que poderia correr, seus planos estavam voltados em visitar Anabell e descobrir tudo o que havia encoberto em panos sujos que Ethan não queria que ela soubesse de forma alguma. Depois dos gritos que escutou e o terror que viveu na noite passada, nada seria páreo para freá-la em tudo o que ela se encontrava no direito de saber. Ela não seria tão desumana a ponto de deixar Ethan e Anabell sofrerem horrores nas mãos de um homem sádico e ruim que ela tinha certeza que seria uma das piores pessoas que um dia teria de conhecer em sua vida. Porém, antes que pudesse levantar-se de seu lugar e lutar contra a dor de cabeça infernal que lhe enchia a paciência, viu a porta ser aberta e em seguida a figura de Nana entrar em seu quarto. A expressão preocupada da mulher era altamente difícil para Breeze e tudo o que ela queria era se refugiar nos braços de Nana e pedir, pelo amor de Deus, que a mulher a ajudasse a fugir de tal pesadelo que ela ainda não acreditava estar vivendo.

Mas preferia ficar em silêncio.

Por amor à Ethan enfrentaria qualquer coisa que pudesse aparecer para lhe abater.

- Ah, você já acordou. - a mulher deu um sorriso de lado e se aproximou da garota. Com a proximidade, Breeze percebeu que a mulher segurava em uma mão um grande copo de vidro contendo água natural e na outra uma cartela de comprimidos. - Achei que iria dormir até umas três horas.

- Que horas são? - a voz da garota saiu arrastada e dolorida, a garganta raspando em uma dor seca que fez com que sua expressão se contorcesse numa careta. Engoliu a saliva para umedecer o caminho áspero da garganta disposta a amenizar um pouco da dor.

- Pouco mais de meio-dia. Acho bom tomar esse remédio. - ela retirou um comprimido e entregou para a garota que pegou imediatamente. Tudo para que aquela dor fosse embora. - Ele vai ajudar você a melhorar da ressaca.

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