6. Bad Day

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"Você teve um dia ruim

A câmera não mente

Você está para baixo e você nem se importa

Você teve um dia ruim"

Bad Day - Daniel Powter.


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Matt stava em um dia ruim em vários sentidos, cansado de tudo e de todos. Ele descontava sua frustração desempacotando alguns livros doados das caixas e colocando-os nas prateleiras. Ficou quase duas horas fazendo aquilo sem parar desde que desligara o celular na cara do pai, e provavelmente teria continuado até algum cliente pedir a sua ajuda, ou quando a hora de fechar tudo chegasse. Porém, quando saiu dos fundos da livraria com mais uma caixa - a vigésima que tinha aberto naquele dia - , com mais livros para arrumar nas estantes, algo fez com que parasse no meio caminho.

Ela.

Matt ficou estagnado por um momento, e um sorriso surgiu em seus lábios sem que ele pudesse contê-lo. Não entendia o porquê, mas só de vê-la ficou um pouco mais animado. Mas não podia ficar ali parado, então voltou a arrumar os livros nas estantes, porém com menos concentração do que antes, e a agitação pela conversa com o pai deu lugar a outra bem diferente.

Sempre que voltava para a despensa para buscar outra caixa, Matt observava a garota de esguelha. No começo, ela parecia concentrada no livro como sempre, porém, depois de um tempo, ele percebeu algo a mais nela naquela noite.

De repente, o livro estava fechado, e o olhar dela deixou as páginas para vagar entre o movimento na rua lá fora pelo vidro. Matt não soube se era apenas impressão, mas algo naquele olhar dizia que ela não estava bem. Era uma expressão distante e triste em seu rosto, que estava apoiado em uma das mãos e um tanto escondido por uma mecha grossa de seu cabelo. Ele não era um observador muito bom, mas pôde perceber que ela estava completamente desanimada naquele momento, e teve ainda mais certeza disso quando reparou em todas as vezes que ela pegava o celular apenas para desligá-lo novamente e suspirar em seguida.

Matt sentiu que era hora de deixar suas inseguranças para trás. Ele colocou a caixa com os livros em um canto no chão e começou a andar na direção dela, para o lugar que tanto relutou em se aproximar por todo aquele tempo, decidido a entrar de vez naquele território desconhecido de algum modo.

Parou a uma certa distância da poltrona em que ela estava. Ela parecia tão distante que não percebeu sua presença - ou fingiu não perceber -, e Matt, finalmente, viu-se dirigindo a palavra para ela depois de tanto tempo.

━━ Olá? ━━ falou.

Ela pareceu não ouvir e continuou com a cabeça abaixada.

━━ Oi? ━━ ele tentou novamente.

A garota saiu de seu transe e finalmente o encarou. Seus olhos encontraram os dela e, desta vez, Matt ignorou o medo e não pensou em virá-los em outra direção. Ela pareceu ficar um pouco surpresa, mas não irritada, e isso o deixou um pouco mais tranquilo.

━━ Oi... ━━ ela respondeu com a voz baixa.

Matt gostou imediatamente daquela voz.

━━ Você está bem? ━━ ele perguntou.

━━ Eu... Sim... ━━ ela respondeu.

The Bookstore | Matt SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora