"Eu costumava ouvir uma simples canção
Isso foi até você chegar
Agora, no lugar dela, é alguma coisa nova
Eu a ouço quando olho para você"
I Hear a Symphony - Cody Fry
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Uma chuva acabara de cair, e lá estava ela, de frente para o lugar que jurara para si mesma na noite anterior nunca mais entrar.
Estou aqui apenas para comprar o livro de uma vez, pensou.
Sim, ela compraria aquele livro e nunca mais colocaria seus pés ali. Acabaria com sua idas naquele lugar de uma vez por todas, esqueceria que um dia vira alguém como aquele sujeito e da conversa que tiveram que, apesar de curta, não saíra de sua cabeça.
Por que não fizera isso esse tempo todo?
Cecília tomou coragem e entrou na livraria. Se ele estivesse ali, ela não iria olhá-lo, seria ainda mais doloroso; se ele falasse com ela novamente, tinha certeza de que seu chão desabaria.
Mas Matt não estava ali naquele momento.
Alívio? Tristeza e melancolia? A garota não soube muito bem o que sentiu quando percebeu a ausência dele e nem ao pensar que talvez nunca mais o visse depois que deixasse de frequentar aquela livraria. Sabia apenas que não queria mais frustrações, e estava decidida a deixar tudo aquilo. No fundo, sabia que estava apenas fugindo, pois era mais fácil ceder ao medo e às inseguranças e fugir ao tomar alguma atitude.
Porém, naquele dia, ao pegar o livro e abri-lo na página que deixara marcada na última vez que estivera ali, Cecília teve uma surpresa. Entre as páginas, junto ao marcador, havia um pedaço de papel dobrado. No início, ela achou que alguém esquecera aquilo ali, mas logo percebeu que se tratava de uma carta, e sua surpresa foi ainda maior quando encontrou seu nome escrito nela.
Seu coração quase saiu pela boca.
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Cara Cecília
Sou eu, Matt. Lembra de mim? Espero que sim, e que não tenha ficado incomodada quando me aproximei naquela noite. Me desculpe por interromper sua leitura novamente e, por favor, não se assuste com este bilhete. Afinal, como disse na última vez, não sou nenhum tarado ou algo do tipo (tenha certeza de que Sherlock Holmes ficaria muito entediado se fosse investigar sobre a minha vida).
Apenas observei que, todas as vezes que vem até a livraria, a senhorita lê o mesmo livro, e adoraria saber o que tem achado dele esse tempo todo. Além do mais, eu disse que poderia falar comigo se precisasse de algo, ou quando quisesse apenas conversar, e mantenho essas palavras.
Me perdoe se eu estiver sendo invasivo demais. A esta altura, você já deve estar achando que sou um idiota. Mas, se não achar que sou um louco e quiser responder a isso, há um bloco de notas e uma caneta na mesinha ao lado da poltrona, e esse livro nunca é tocado por mais ninguém além de você.
P.S.: Passei esses meses todos me perguntando qual seria o nome da garota com o estilo mais legal que já vi entrar nesta livraria, e agora que o sei, posso dizer que você é a pessoa com o nome mais bonito que já conheci também.
Atenciosamente, Matt.
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Cecília prendeu a respiração.
Ele não tinha feito aquilo.
Ele não poderia.
A garota leu a carta mais uma vez, e depois outra, e mais outra. Não conseguia acreditar naquilo. Apesar do óbvio, Cecília chegou a se perguntar se aquela carta era mesmo endereçada à ela. Ela não esperava por algo como aquilo, jamais esperaria, nem dele e nem de ninguém. Por algum motivo, seu coração batia mais forte, e ela não conseguia controlar o pequeno sorriso bobo em seu rosto.
De repente, o mundo à sua volta pareceu mais colorido e menos intimidador. Por um momento, ela esqueceu dos problemas daquele dia e de suas angústias. Tudo o que conseguia pensar era nas palavras naquela carta, e nele, Matt.
Mas uma pergunta logo veio à sua mente: o que faria agora?
Apenas alguns minutos antes ela estava decidida a comprar de vez aquele livro e nunca mais entrar naquele lugar, a esquecer que um dia ela vira aquele homem e sua pequena conversa. Agora, Cecília estava confusa e não tinha mais certeza de nada.
Ela levantou o rosto e olhou discretamente para os lados, procurando por ele, mas não conseguiu vê-lo em lugar algum. Sentiu-se aliviada, pois não conseguiria olhar para ele logo depois de ler aquela carta, e só de pensar em Matt encarando-a ali e na ideia de que ele poderia perceber seu nervosismo a deixava ainda mais envergonhada.
Não, ela definitivamente não gostaria que Matt visse seu rosto corar enquanto lia o que ele escrevera.
Cecília voltou seus olhos para o papel, para as palavras. Seus sentidos - aqueles que sempre a alertavam de perigos que talvez nem existissem - pareciam dizer-lhe "não". Porém, depois de muito tempo, ela se sentia inclinada a ignorá-los. Afinal, o que de mais poderia acontecer?
Antes que perdesse a coragem, ela se sentou na mesma poltrona de sempre e pegou o bloco de notas e a caneta, que estavam exatamente onde ele lhe dissera. Cecília olhou por um momento para o papel em branco, ainda em dúvida, mas logo reuniu a coragem que precisava e respirou fundo.
Estava cansada de perder chances.
Ela escreveu, parando apenas algumas vezes em busca das palavras certas, pois não era tão fácil encontrá-las, e Cecília perdeu a conta de quantas vezes riscou algo no papel papel e pegou outro para escrever. Mas, por fim, sua pequena carta saiu, e ela passou mais algum tempo analisando-a.
Estava curta demais, ou muito longa? Será que ela parecia um tanto seca com aquelas palavras? Deveria colocar um pouco mais de emoção naquilo e parecer mais simpática? E se tivesse escrito até o que não deveria?
Não! Estava pensando demais. As coisas nunca andavam quando pensava tanto daquele jeito, e ela espantou aqueles pensamentos antes que eles a fizessem desistir.
Cecília pegou o papel, arrancou-o com todo o cuidado do bloco de notas e o colocou no mesmo lugar onde a carta dele estava, guardando a última consigo.
Ela se levantou da poltrona e levou o livro até o seu devido lugar na estante. Será que alguém acabaria tirando-o do lugar ou comprando-o antes que Matt pudesse ler seu bilhete? Esperava que não, pois, se isso acontecesse, iria pegar de vez seu atestado de azarada.
Quando andou em direção à porta, percebeu que Matt ainda não tinha aparecido. Mas não se importou tanto, pois o veria na próxima semana, ou pelo menos teria uma resposta.
Ela esperaria uma resposta dele... O que estava acontecendo ali?
Por meses alimentou o pensamento de que aquele homem nem mesmo notava sua presença, e agora, ali estava ela, indo para casa com um bilhete dele guardado no bolso de seu casaco. Será que era uma boba por estar tão feliz apenas com aquilo? Uma iludida?
Pelo menos uma coisa ela sabia: sentia-se bem. Estava em uma felicidade e animação que há muito não sentia, e era isso que importava.
━━ Ele gostou mesmo do meu nome ━━ falou para si mesma e sorriu mais uma vez naquele dia.
Cecília não viu Matt enquanto ele se aproximava da livraria no mesmo momento em que ela a deixava, apenas a alguns metros atrás dela. Assim como Matt não vira o sorriso dela ao ler seu simples bilhete, a garota não ficou tempo o suficiente para ver a agitação dele indo em busca pela resposta dela entre as páginas daquele livro.
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The Bookstore | Matt Smith
Fiksi PenggemarLivros, chá, músicas diferentes e Matt Smith. ... Sim, esta é uma história sobre o amor entre duas pessoas, mas não só sobre esse amor. Ela é sobre os sonhos que parecem inalcançáveis; sobre as inseguranças que nos atormentam e a superação delas. É...