45. I Love You (P.t. 1)

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20 de Maio, domingo

Matt não havia mentido quando dissera que os dois ainda teriam outras noites juntos, embora que ainda um pouco diferente do modo que os dois imaginavam. Durante a semana seguinte, Cecília teve de sair mais cedo do trabalho e disse para ele apenas o mínimo, que havia se sentido mal, sem lhe dar muitos detalhes. Ele tentou não se preocupar tanto e não tocou mais no assunto, mas se arrependeu disso alguns dias depois, quando, pela primeira vez, Cecília lhe ligou pedindo algo logo depois que o ensaio para sua peça havia terminado naquele dia. Sentia-se tonta e com dores de cabeça depois de horas e horas ensaiando sem parar e não queria voltar para casa sozinha, e ele deixou tudo que ainda lhe restara para fazer naquele dia e foi correndo até ela.

Não agradava a Cecília pedir ajuda e se sentir dependente de alguém daquela maneira. Alguns meses antes, ela não teria dito a mais ninguém como se sentia, nem mesmo a Matt, e voltaria para casa sozinha. Mas algo mais forte que ela a fez ligar para ele, e, embora ela esperasse o contrário, Matt não foi tão indiferente como outros já haviam sido em momentos como aquele e em menos de uma hora já estava na frente do teatro atrás dela. Ela não quis preocupá-lo, nunca teve aquela intenção, e por isso ficou surpresa quando ele apareceu daquela maneira, agitado e nervoso. Matt falou sem parar e lhe encheu de perguntas, mas a todas Cecília só lhe deu uma única resposta.

Vê-la pedir para que ele a levasse para casa mexeu com Matt de várias maneiras. Não estava acostumado a cuidar de alguém a algum tempo, sua irmã já tinha formado a própria família e apenas à mãe ele ainda destinava seus cuidados quando a visitava, e também a seu cachorrinho Bobby. Mas mesmo assim ele se esforçou para cuidar de Cecília, mesmo que ela não tivesse pedido - não diretamente - e tentado convencê-lo de que ele não precisava ficar a noite toda naquele apartamento com ela e nem perder o seu tempo. Mas Matt sabia que Cecília queria que ele ficasse, já a conhecia o suficiente para saber como ela reprimia os próprios desejos e não conseguia pedir tudo de um jeito direto. Ele fez o jantar para ela e os dois sentaram no sofá e ficaram, como ela dizia, "agarradinhos", uma palavra em português que Cecília lhe dissera significar algo como "ficar grudado ou junto de alguém", ou simplesmente "abraçados", e que ele havia gostado e agora repetia várias vezes com seu sotaque britânico, sempre fazendo a garota rir dele.

Depois de conversarem e dele ouvi-la dizer que as dores de cabeça e as tonturas eram apenas devido às horas ensaiando no teatro fechado, Matt teve uma ideia. Cecília parecia estar se cansando demais com o teatro e o outro trabalho que tinha na cafeteria - quando não estava em um, estava no outro - , exigindo demais de si mesma e esquecendo que deveria parar um pouco. Ela havia conseguido um dia de folga naquele domingo, e Matt disse que os dois poderiam ir em qualquer lugar que ela quisesse.

Cecília acabou se decidindo por um dos parques reais da cidade, o Regent's Park, onde os dois resolveram passar a tarde toda tranquilamente. Estavam no segundo mês da primavera, quando algumas flores já haviam desabrochado, deixando o parque mais colorido e ainda mais bonito. Aquela era a estação do ano preferida de Matt, e ele nunca a vira tão espetacular e encantadora quanto naquele dia, o que, ele tinha certeza, não se devia apenas ao lugar em que estava. Cecília às vezes andava na frente dele, e ele não conseguia deixar de olhá-la. Tinha se acostumado tanto com suas saídas apenas para pubs com os amigos, com festas, viagens distantes e todo o tipo de aventura e bagunça, que quase se esquecera de como era andar por lugares como aquele e como a quietude ao lado de quem amava também poderiam ser uma das melhores coisas naquele seu mundo.

Eles passaram por um local repleto de árvores, onde havia uma ponte em estilo japonês cercada por plantas e flores. Parecia um cenário de contos de fadas, saído direto de algum filme, e quando Cecília parou no meio da ponte, Matt não resistiu e acabou tirando uma foto dela enquanto a garota olhava distraidamente para alguns patos que passavam no riacho debaixo da ponte.

The Bookstore | Matt SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora