60. Romeo And Juliet

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"Julieta, os dados estavam viciados desde o início

E eu apostei, então você explodiu o meu coração

E eu esqueci, esqueci a canção do filme

Quando você vai perceber que apenas aconteceu na hora errada, Julieta?"

Romeo And Juliet - Dire Straits

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Quantos dias haviam se passado desde que ela chegara naquele lugar? Quatro? Cinco? Havia perdido a noção do tempo, vivendo cada dia como se estivesse apenas existindo. Não havia muitas coisas esperando por ela ao acordar; seu trabalho estava do outro lado do oceano, assim como todas as pequenas coisas que havia conquistado naqueles dois anos fora. Agora, ela acordava sem ter ideia do que fazer, pelo o que lutar, sem nada além do sentimento de que deveria ajudar a mãe e os irmãos o máximo que podia naquele momento, mesmo que fosse a mais nova ali, mesmo que não conseguisse arrumar nem mesmo a bagunça em sua própria cabeça.

E, falando em bagunças, Cecília tentava ao menos arrumar aquela em que se encontrava a casa dos pais, limpando a poeira, varrendo e esfregando coisas, tentando se distrair com qualquer coisa para calar as vozes em sua cabeça, além de fugir de qualquer conversa sobre aquele assunto; não queria conversar com ninguém e nem sabia o que dizer.

Talvez quisesse sim falar com alguém, mas não alguém qualquer, e isso a fazia sentir raiva de si mesma.

Aquela casa não havia mudado nada desde que ela se fora, exceto por alguns móveis novos que o pai havia feito. O quarto que dividia com a irmã continuava quase o mesmo, e a única diferença era que agora as suas coisas não estavam mais lá e apenas os livros que deixara nas prateleiras continuavam intocados; sua irmã não se interessava nem um pouco por leitura e apenas tocara naqueles livros durante aqueles dois anos para limpar a poeira deles.

Era estranho estar ali novamente, era bizarro. Parecia que não havia saído de verdade, que em todo aquele tempo na Inglaterra ela estava apenas sonhando.

Enquanto arrumava uma estante na sala, acabou dando de cara com os discos e DVDs que o pai colecionava, e foi impossível não se lembrar de tantas coisas; talvez ela quisesse se torturar um pouco mais e mergulhar de vez na nostalgia e melancolia, pois começou a retirar alguns dos discos dali, aqueles que mais estavam marcados em sua memória, que traziam as lembranças de quando ele apenas se sentava na sala para escutar as suas músicas preferidas em um sábado ou em uma tarde de domingo.

Ela foi lendo os títulos dos discos, lembrando de cada momento da infância e adolescência ao escutá-los. Primeiro encontrou um da banda Culture Club, que a fez se lembrar de quando ela pedia para ouvir “Karma Chameleon”. “Coloca a música do moço que usa maquiagem”, ela pedia para o pai, se referindo ao vocalista da banda com toda a inocência e sinceridade de uma criança.

Quando passou pelo CD do Fleetwood Mac, ela se lembrou de quando voltava de algum passeio ao ar livre com a mãe aos sábados e o encontrava escutando aquilo, com músicas como “Dreams”, “Landslide” e “Gypsy”.

Eu não esqueci de quando você disse que gostava de dançar Gypsy sozinha e ainda estou esperando para ver isso”, a voz de um outro alguém surgiu em sua cabeça, uma lembrança de quando um certo inglês excêntrico implorou para que ela dançasse na frente dele.

Ela não deveria, mas agora lembrava de duas pessoas ao mesmo tempo, duas pessoas que nem mesmo chegaram a se conhecer; lembrou ainda mais quando encontrou um CD do álbum “The Dark Side of the Moon”, do Pink Floyd, a banda que seu pai mais gostava e uma das preferidas de Matt.

The Bookstore | Matt SmithOnde histórias criam vida. Descubra agora