repetição

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1 mês depois

Yor estava exausta.

Com seu marido fora devido às missões, a mulher tinha que cuidar de toda a casa sozinha. Fazer refeições, cuidar da higiene de Anya e de Bond, manter a casa em ordem, fazer as compras da semana e cuidar do carro eram funções diárias que ficavam todas a cargo de Yor.

Nesse momento, Yor terminava de calçar sua filha, prontas para saírem para o consultório médico a caminho de seu primeiro ultrassom, já que Yor completara 12 semanas de gestação.

E Loid não acompanharia.

Mesmo longe, Yor sabia que seu marido estava devastado por perder essa oportunidade. Afinal, seria a primeira vez que o coração de seu bebê estaria audível para a família. Não era um momento ordinário como qualquer outro que pode ter uma volta a dar. Uma repetição. Não, era impossível. Mas, de qualquer maneira, Yor e Loid reconheciam que estas missões eram essenciais para a felicidade e segurança de muitas outras pessoas. Valeria a pena, por fim.

- Mamãe, vamos ligar p'ro papai? N-No telefone!

- Deixa eu ver...- Yor encarou o relógio, vendo que ainda era cedo. Decidiu deixar o esposo dormir. - Agora não, amor. Quem sabe mais tarde?

- Tá bom. - Anya assentiu, sem grandes perguntas. Mesmo com sua idade, a menina tinha uma maturidade incrível e sabia o quão difíceis estes dias estavam sendo para a mãe. Decidiu que não queria deixar ela triste naquele dia.

Yor segurou Anya pela mão, levando uma bolsa com seus documentos na outra. A mulher vestia uma calça larga bege e uma camiseta branca de Loid, que também ficava larga, presa nas calças. Anya levava um vestidinho branco normal, para que se sentisse à vontade. O dia estava quente.

Chegaram no hospital, onde foram quase automaticamente atendidas. Já que Loid era um "psiquiatra" num hospital comum, toda a equipe de médicos conhecia o homem e sua família, o que a recheava de privilégios. E, por muito que Yor não gostasse, ela sempre foi tratada melhor que os outros pacientes devido a isso.

Entraram no consultório, Anya meio envergonhada se escondendo nas pernas da mãe. Mesmo que visitasse seu pai no trabalho, a garota simplesmente não conseguia não sentir vergonha sempre que se encontrava com um adulto que desconhecia. 

- Você está animada, Anya? - O médico, Dr. Smith, perguntou a garota, para quebrar o gelo. - Escutaremos o coração de seu irmãozinho hoje.

- Ah, quanto a isso, doutor. - Yor interrompeu. - Tem algum jeito de gravar o som do ultrassom? Queria mostrar para Loid depois.

- Dr. Forger não veio, verdade, estava estranhando. Bem, daremos um jeito. Está tudo bem com ele?

- Sim, ele está ótimo! - Yor mentiu. - Apenas está um pouco ocupada com toda a papelada de seus clientes, então decidi deixar ele descansar para que volte ao trabalho com força total.

- É estranho, Dr. Forger não parece ser o tipo de homem que perderia o ultrassom de seu filho...é tudo em que ele fala quando está aqui! - Yor corou. Gostava de se sentir assim. Amada. - Bem, vamos ao trabalho. 

Depois de preparar todo o ultrassom, Smith voltou a analisar a tela que mostrava o mais novo bebê Forger. Anya tinha seus olhos bem abertos, atentos a todo o movimento. Yor olhava para a garota, apaixonada, quase esquecendo de seu filho mais novo. 

- É um bebê bem pequeno, mesmo que para as poucas semanas. - O médico comentou. - Você ou o Dr. Forger tiveram algum problema no crescimento? Que talvez passe essa condição genética e justifique o pouco desenvolvimento do bebê?

Yor engoliu em seco. Quando entrou para a vida de Loid, foi num casamento falso. Agora que realmente namoravam (mesmo estando casados no papel há quase três anos) Yor ainda não sabia pequenos detalhes sobre a infância do mesmo, apenas por pensar que não eram de grande importância. 

- E-eu creio que não.

- Seria bom ter uma certeza...

- Anya é filha do papai e é pequenininha também! - Anya interrompeu os dois adultos. Mamãe estava ficando triste e isso não pode. Ela tinha que ajudar.

- Ah, então talvez seja uma característica de Loid? Ou da progenitora de Anya. - O doutor pensou alto. Yor fechou o rosto, não gostava de tocar nesse assunto. - Mesmo assim, não é nada de grande importância, creio que com o tempo o bebê voltará a uma forma saudável. Vamos escutar o coração dele agora?

Yor e Anya assentiram. Smith disponibilizou um fone de ouvido de fio e mãe e filha dividiram, cada uma ficando com um lado. Quando os primeiros batimentos foram ouvidos, Yor não pôde deixar de se emocionar.

Como é que ela já negou aquela criança? Aquele coração que batia tão puro? Como pôde julgar-se a sim mesma uma má mãe para algo tão precioso?

Encarou a filha e sorriu. Anya estava deitada do lado dela, seus olhinhos quase fechando. Os batimentos cardíacos de seu imrão a deixavam tão relaxada a ponto de simplesmente apagar. Yor acabou fechando os olhos ali também. Mesmo que seu marido não estivesse ali naquele momento, sentia como se o coração do bebê batesse pelo de Loid também, batesse por todos os Forger.

Se sentia completa.



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