paninho

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A cabeça de Yor continuou cheia por algumas semanas, e Loid sabia disso.

Foi por isso que, numa noite alguns dias depois do dia dos namorados, decidiu colocar seu despertador para tocar às seis da manhã, duas horas antes do horário habitual. Pensou que, assim, poderia proporcionar à esposa uma manhã mais calma e fazer com que ela ficasse mais tranquila e, de preferência, chegasse a desabafar.

Mas quando Loid acordou, Yor já não estava na cama.

- Onde ela está? - Loid perguntou a si mesmo. Teria ele perdido as horas? Ajustado o alarme errado?

Se levantou atordoado, pensando se a esposa havia sido chamada para uma missão. Seria estranho, já que estas eram normalmente executadas durante a noite, e quando não eram, Yor sempre fazia questão de deixar um pequeno bilhete para tranquilizar seu marido.

Mas aquela manhã era diferente.

Loid calçou suas pantufas e, sonolento e preocupado, deu seus primeiros passos até sair do quarto. Quando se viu no corredor, notou a luz do banheiro ligada pela abertura debaixo da porta do mesmo. Decidiu bater.

- Amor? - Loid chamou, gentil. Queria ter a certeza que Yor estava bem.

- Lottie. Abre. - Ouviu Yor pediu, com a voz fraca e algum desespero na frase.

Abriu a porta do banheiro preocupado, apenas para ver sua esposa agachada perto do vaso. Já não estava vomitando, apenas apoiando sua cabeça perto do vaso.

- Ei, o que há de errado? - Loid correu para a esposa, se agachando ao lado dela. Passou seus dedos pelos fios da mulher, que suspirava cansada.

- Lottie. Me ajuda. - Yor pediu, chorosa. - Eu estou me sentindo muito enjoada. Você fica aqui?

- Pode ser, amor. - Beijou sua bochecha. - Porque não me chamou? 

- Não queria te preocupar. - Loid suspirou. A esposa dificilmente o chamava, mesmo que sentisse que ia morrer.

Loid apenas assentiu, não queria brigar com a esposa novamente por sua teimosia, então continuou agachado dando total atenção à mulher, que vomitou mais algumas vezes, completamente enjoada e, quando se sentiu melhor, Loid a ajudou a tomar um banho.

Não admitiria por agora, mas Loid tirou suas conclusões dos sintomas da esposa.

- Por favor, Anya, tenha mais cuidado com suas coisas. 

- Desculpe, papai.

Anya tinha voltado da escola sem seu lencinho de pano, utilizado para limpar seu nariz nos dias em que estava mais resfriada. Para que ela não o perdesse, o casal optou por bordar a inicial da garota e assim fazer a identificação do objeto mais facilmente.

- O Damian não tinha um paninho. - Anya justificou. - Eu emprestei.

- Bem, Damian deveria arrumar seu próprio paninho. - Loid disse, firme. Não tinham tanto dinheiro assim e, se a filha continuasse sendo descuidada, a despesa escolar poderia dobrar.

- Loid, são crianças! - Yor chamou o esposo da cozinha, não gostando do tom utilizado por ele.

- Eu sei, ok? Mas já é o segundo pano que ela perde e não são tão baratos quanto isso. - Loid explicou, sentado no sofá. Na sua frente, via Anya sentada na cadeirinha rosa da mesa que ali estava. O olhar da filha estava choroso e, se estivesse em si, provavelmente já a estaria consolando. Mas não naquele dia. Naquele dia Loid estava estressado.

Yor foi até à filha a pegando no colo e a ninando automaticamente, na esperança de a consolar, enquanto Loid levava suas mãos à cabeça. - Pronto, meu amor. Compraremos outro paninho, sim?

- Tá bom, mamãe. - Alguns momentos depois, Yor colocou a garota no chão, que foi para a frente da televisão, que Loid tinha ligado no desenho favorito de Anya. Era seu jeito silencioso de pedir desculpas. Yor voltou para a cozinha, sendo seguida por Loid.

- Amor, escuta-

- Lottie. - Yor o interrompeu. - Eu sei que você está exausto e estressado, mas por favor, não mostre isso para Anya. - Pediu, simples.

- Desculpa, amor. - Loid abaixou a cabeça, se apoiando de costas para os armários da cozinha ao lado da sua esposa, que continuava lavando a louça. - É bom saber que ela está se dando melhor com Damian, certo? Talvez virem amigos.

- Ah, falando em amigos. - Yor respondeu, lembrando-se. - Camilla virá cá hoje para conversarmos um pouco. Desde que ela saiu do emprego não temos tido tempo para colocar os assuntos em dia.

- Tudo bem. Quer que eu leve Anya em algum lugar durante a tarde?

- Se fosse possível. - Yor fez seu melhor olhar de gatinho. Loid sorriu.

- Claro, amor. - Beijou a pontinha de seu nariz.


- Foi mais ou menos isso, mas tirando esses assuntos tudo continua normal.

- Acredite, Yor, o melhor que eu fiz foi sair daquele trabalho, me sinto muito mais livre agora, mas eu sinto saudades de cada fofoca! Eram minha cafeína! - Camilla confessou para a amiga.

- Acredito perfeitamente. - Ambas riram. - Ah, falando em cafeína, hoje de manhã tive enjoos horríveis, acho que foi pela cafeína e pela comida que comi ontem, eu tenho comido bastante ultimamente, talvez seja a menstruação.

- Ah, curioso, você nunca foi de comer muito. Mas, Yor, normalmente os enjoos da digestão sempre acontecem pela madrugada, você teve uma sorte de ter eles só de manhã. Não acha pode ser de outra coisa?

- Não sei, acho que não...até mesmo Loid concordou que pode ter sido do jantar ontem quando foi me ajudar. A outra razão só pode ser realmente a menstruação. Deve estar quase chegando.

Camilla suspirou, iria arriscar.

- Yor, você toma anticoncepcional?

- Não no momento...você acha que pode ser disso também?

- Não é a isso que estou me referindo, você e o Loid se protegem? - Yor finalmente tinha entendido onde Camilla queria chegar.

- Ah, quanto a isso, sim... - Estava hesitante. - Mas há umas semanas acabámos não utilizando, eu mesma impedi ele de ir buscar. 

- Estava realmente sentindo o momento! - Camilla brincou. - Mas, Yor, você ainda não pensou?

Yor arqueou as sobrancelhas. - Em quê?

- Em fazer um teste de gravidez.

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