pipocas

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- O que há de errado com a mamãe?

- Eu creio que...ela ainda tenha sua alma de adolescente bem viva.

Loid e Anya comentavam enquanto viam uma Yor eufórica correndo pela rua em busca da bilheteira mais próxima, para garantir os ingressos para o show da sua banda favorita de sempre: souls.

Desde que se lembra de ser gente, Yor sempre foi fanática pela banda de quatro garotos que cantavam de uma forma tão única e sentimental que mexia com o interior de Yor e a fazia sentir coisas que nunca tinha sentido antes. A faziam querer não escutar mais nada a não ser as quatro vozes doces cantando alguma coisa sobre amor. Meu Deus, como ela os amava.

- Porque que ela está bem feliz?

- Ela gosta bastante dessa banda, filha. Bem, acho que dá para ver. - Anya riu, enquanto via a mãe finalmente parar numa bilheteira. - É como se o Bondman estivesse aqui na cidade e você estivesse correndo contra o tempo, para garantir seu ingresso.

- Ah! Agora Anya entende! - Se animou. - Espero que a mamãe consiga os ingressos. Será que ela vai levar a gente também?

- Você gosta da banda, Anya?

- Não.

- Então não faz sentido a gente ir. Imagina que outra fã compra um bilhete para alguém que não gosta da banda e a mamãe fica sem ingresso? Seria ruim. - Refletiu. - Acho que Yor levará as colegas de trabalho, elas também gostam da banda. - Notou a filha triste. - Ah, meu bebé, não fique triste! Prometo que teremos uma noite divertida. - Anya assentiu.

Viram Yor voltando correndo, com um ingresso na mão.

- Eu consegui! Eu comprei!

- Que bom, mamãe!

- EU CONSEGUI, LOID!

- VOCÊ CONSEGUIU, YOR!

- Estou muito feliz! - Riu, em seu próprio mundo. - Vou finalmente ver meu amado Ryuiichi pessoalmente, atuando...só de pensar nele naquelas camisas transparentes, aah.. - Saiu andando desorientada, em direção à casa, ignorando o esposo e a filha completamente.

- Meu Deus. - Anya refletiu. - Papai, ela está apaixonada pelo Rui'hi. Fique esperto.

- Sem problemas, soldada Anya. Sou bem mais bonito que ele.

- Bem, amor próprio é tudo. - Anya comentou, enquanto caminhava para casa também.

- Onde ela aprendeu a falar desse jeito? - Loid pensou, pela milésima vez, depois de adotar a garota.


Já era noite na casa dos Forgers.

Mas não era uma noite qualquer.

- Estou bonita, amor? - Loid só assentiu. Era a décima vez que a esposa perguntava. - Que saco, Loid! Você nem me olha mais. Não me elogia mais!

- Eu te elogiei mil vezes, amor. Mas é a décima vez que você me pergunta a mesma coisa. - Loid se levantou e pegou a esposa pela cintura, enquanto esta se olhava no espelho. - Eu nunca vou tirar meus olhos de você. Nunca duvide disso. - Passou a mão pelas costas da mulher, descendo por vezes, antes de se retirar e ir olhar a janela. - Camilla chegou. Você deveria descer.

- Tudo bem. Obrigada amor. - Beijou o esposo. - Voltarei pela madrugada.

- Vou te esperar. - Beijou a testa da esposa. - Vai lá, linda. Se divirta.

- Fale para a Nini que eu mandei um beijinho quando ela acordar do cochilo.

- Claro, sempre. Agora vai, amor. Você vai se atrasar. - Beijou sua mulher mais uma vez.

Yor saiu do apartamento, deixando um pai exausto e um cachorro e filha adormecidos nele. Mas estava prestes a realizar um sonho seu e pensou em, pela primeira vez, pensar em si mesma. Sabia que Loid sabia se cuidar e que era um pai impecável para sua filha.

Isso mesmo, por agora, nada de stress.

Ia apenas voltar a ser Yor Briar, a adolescente fanática pela banda que julgava que já ninguém lembrava, mesmo que isso durasse apenas uma noite.


- Papai! Eu quero pipocas salgadas!

- Eu já entendi, Anya. Você já disse cinco vezes. - Loid estava cansado, precisava confessar. Mas sua prioridade chamava por ele no sofá, enquanto pedia para que ele se apressasse fazendo as pipocas antes do início do programa favorito da garota. Podia descansar no sofá, afinal.

Cinco minutos depois, Loid trazia um enorme recipiente cheio de pipocas salgadas que, ia admitir, não era seu sabor favorito, mas era o de sua pessoa favorita, então estava bem com isso.

Se deitou no sofá enquanto Anya estava sentada no chão, junto à TV, com as pipocas ao seu lado. E foi escutando os gritos de alegria da filha, a pistola do espião favorito dela e o ronronar de seu cachorro que Loid adormeceu.

A próxima coisa que ele se lembra é de acordar com sua garota adormecida abraçada a si, com um sorriso enorme no rosto. Isso o lembrou do primeiro dia em que a adotou, em que ela fez a mesma coisa. Porém, desta vez, Loid não reagiu mal. Invés disso, apertou o corpo da filha mais forte, enquanto via que faltava um pouco para que a esposa chegasse. Sabia que deveria colocar a garotinha na cama, mas essas regras de criação perfeita para ele não importavam agora. Abraçava a filha com força, notando seus olhos fechando aos poucos.

Agora, Yor não teria só uma pessoa esperando por si na sala de casa. E ainda bem que não.


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