Mais tarde , bem tarde quando Frank chegou , eu estava acordada pensando no atrocismo que estava ao meu redor e que nada podia fazer para mudar o quadro tenebroso .
Me levantei e fui até ele , que de costas se virou para mim , eu o questionei; na verdade eu o acusei.
- Você! apontei o dedo para ele no pouco espaço que nos ligava.
- Você é um monstro! Tentei abafar minha voz descontrolada :
- Eu vi o que você fez , eu sei exatamente o que você faz . Como pode? Seu próprio povo.
Franki colocou uma palidez no rosto transfigurado pelo que dizia. Não sei se pela minha descoberta ou se pela minha ousadia.
Respirou fundo o homem-
monstro para me responder:- Sou obrigado a fazer o que faço. Foi a sua resposta.
Os outros que moravam em nosso pequeno alojamento estavam dormindo e nós dois ali em pé aquela hora da noite.
A minha raiva fazia meu fraco coração bombear mais forte. Eu o observava de nariz inclinado e ele retornou meu olhar de desaprovação e colocou a mão no rosto , subindo e massageando a careca e voltar , cubrindo o rosto chorando baixo feito uma criança.
Esperei ele parar seu tormento momentâneo até que o choro baixo virou soluços abafados.
Meu ódio permanecia inalterável enquanto ele chorava ao falar :
- Eu não posso ter o luxo de desobedecer as ordens aqui.
A voz de Frank estava embargada. - Era eu ou eles.
Eu tenho que mata-los , cumpro ordens.
Se for obediente posso sobreviver, porque a cada par de meses eles nos matam sem piedade e depois somos substituídos.
Muitos de nós morremos nas mesmas condições que os matamos.
- Então porque compactuar com este horror ? falei alterando um pouco a voz.
- Porque quero prolongar a
minha vida, já que Serei fuzilado, posso ao menos ter algum conforto nesta miserabilidade em que me encontro.Eu vivo em choque constante
Eu sou um assassino! Mas faço o que me mandam. É assim que funciona.- O que mais vocês fazem conosco?
Frankie me olhava e parecia exausto e eu o escrutinava horrorizada enquanto ele prosseguia desabafando :
- Eu libero homens, mulheres e crianças para a Câmara de gás em que em breve será o meu destino e outras atrocidades sob o comando deles.
Eu , antes de tudo isto ocorrer eu era um judeu ortodoxo.
Eu oro todos os dias , procuro tentar rezar para ver se alivia o meu remorço . Eu me culpo todas vezes , horas dias , minutos e segundos, mas nada posso fazer, ele balançava a cabeça em uma negação de seus próprios atos.
- Fique então com a sua pouca vida de MERDA. Porque então estais aqui, morando nesta casa? Não tem as suas regalias? Pelo que sei vocês possuem seus próprios alojamentos. Então VÁ. Disse raivosa.
- Sou também vigiado como todos o tempo todo.
- Mas estou aqui com um propósito, a mando de meus superiores por conta da minha formação médica. É só o que posso dizer.
Eu queria saber , afinal ele não estava ali por acaso.
- O que vai ser então?
Frankie enxugou as lágrimas e me disse :
- Se eu tivesse coragem já teria me suicidado, porém sou um fraco.
Ele se sentou em um banco com a cabeça baixa , respiração ofegante e fedendo aos mortos que ele matava.
Me afastei de Frankie e seu remorso infrutífero e fui para o meu canto.
Não peguei o olho a noite toda , o horror do que presenciei me deixou despedaçada.
E ele tinha salvado a minha vida mesmo assim .
Eu poderia estar ali naquele máquina, morta.
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AMOR EM TEMPOS DE GUERRA
RomanceCORRIA O ANO DE 1940. MILHARES DE PESSOAS FORAM PERSEGUIDAS, ATACADAS , E MORTAS DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL, ENTRE ELES OS ROMA, CIGANOS. APENAS 10% DA POPULAÇÃO QUE VIVIA NO PROTETORADO DA BOÊMIA E MORAVIA SOBREVIVEU AO HORROR DA ERA NAZISTA...