Capítulo dezessete

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Saímos do gueto de Lódź. O vagão  fora fechado , era quase de manhã , e não  podíamos ver nada do que se passara depois no gueto .

No vagão  só  havia uma
pequena fresta para respirarmos , o resto era um breu e aquela altura meu estômago roia , a fome nos dominava .Não  podíamos  sequer nos mexer.

Os gêmeos  dormiam em pé  , eu não tinha forças  para mantê- Los  acordados .

Era  melhor assim , pois dormindo as vezes esquece- se a fome. 

O vagão  deu uma parada depois de uma hora e meia , vi alguns dos meus companheiros serem empurrados para um nada enquanto ainda meio grogue pelo que tínhamos vivido , eu  estava junto com os gêmeos bem atrás , quase um por cima do outro .

Uma subpopulação dentro de um espaço tão  minúsculo.

Ouvi um dos guardas que nos transportava gritar:

-  RAUS!.RAUS! Que significava , fora , fora.

Vinte pessoas saíram, empurradas, cambaleantes , inseguras .

Eu só  ouvia os tiros , tiros e tiros .
Apertei as crianças  contra mim temendo o pior pois elas estavam choramingando e por mais que eu clamasse para que elas ficassem quietas , era impossível  .

Foram muitos os tiros  .

Meia hora depois o vagão  foi fechado novamente e deu a partida.

Não contei quantas pessoas tinham morrido, só  imaginei pela quantidade de disparos dados e foram muitos.

Só  consegui pensar em uma coisa .

Ainda estávamos  vivos , mas de nada me adiantava ter esperança, podia ser que fôssemos mortos em uma outra parada.

O xixi desceu devagar por minhas pernas e aquilo me aqueceu porque o frio era congelante , mesmo com apenas uma fresta para a entrada de ar.

Deixei aquele conforto tomar conta de mim e pedi a Deus que as crianças  fizessem também, e assim como eu os outros , alguns deles na verdade conseguiam fazer xixi .

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