51 | Nosso Cantinho

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»Jessie«

Nunca foi difícil pra mim lidar com a morte de alguém que eu não conheço. Mas ver a dor que o Kai sentia, saber que ele e o seu falecido Pai não se viam a anos e ao menos mantinham um relacionamento entre pai e filho... Doía muito.

Doía porque parece um sofrimento inacabável ver quem você ama sofrer por algo que você simplesmente não consegue fazer nada além de tentar dar um apoio emocional.

O Kai ficava pelos cantos da casa, ele chorava baixinho, sentado e encostado nas paredes como alguém esquecido. Seus olhos estavam fundos e vermelhos e seus lábios um pouco inchados, ele mantinha seus olhos no chão e fungava buscando ar em questão de segundos... E eu simplesmente não podia fazer nada.

Não tinha nada que passasse a sua dor.

Dei espaço para que ele pudesse se sentir confortável até que falasse comigo, me mantive em silêncio apesar do sentimento reprimido de dor mas eu consegui não chorar.

Eu precisava me manter calmo para acalma-lo.

»| Terça-feira às 12h10

- Posso te ajudar a colocar a gravata?

- Por favor...

Estávamos nos arrumando para o funeral do Pai do Kai, ele não tinha forças direito para falar e sua voz estava baixa já que passou um dia inteiro aos prantos.

- O Kian mandou o endereço. Ele disse que chegaríamos lá mais ou menos às três horas se fôssemos de moto, mas você não está em condições de pilotar... Eu também não te deixaria. - ajeitei o nó de sua gravata.

Ele estava cabisbaixo de frente ao espelho, apenas acenou como uma resposta, se virou pra mim e abraçou minha cintura, descansando o rosto em meu ombro direito.

Era claro a tensão de seu corpo; ele estava cansado e soluçava. Meu coração bateu mais forte novamente, eu engoli o que aparentemente era choro e acariciei suas costas ficando em silêncio até que ele dissesse algo...

Ele estava chorando de novo.

Continuei acariciando suas costas enquanto ele abraçava minha cintura e chorava em meu ombro. Passaram-se alguns minutos, aí finalmente ele reagiu com palavras:

- Jessito, eu não... Não sei se... Se-se consigo... - ele soluçou novamente.

- Não consegue? - franzi o cenho.

- Não consigo ir. Eu... Não consigo. - ele soltou minha cintura e se sentou sobre a cama, olhando para o chão ainda com o olhar perdido.
- O que vou fazer quando ver a-aquelas pessoas que de repente se dizem ser a minha família? Pessoas que-que eu não vejo a muito tempo, pessoas que me rejeitaram... O-o que vou dizer? Eu não queria dizer isso, mas em mim não existe sentimento de amor pelo meu pai! A maior dor que eu sinto, é exatamente por não ter lembranças boas com ele!

- Ei, não precisa disso... Tudo bem se você não quiser ir. - me sentei ao seu lado na cama, e logo lhe entreguei meu celular em suas mãos.
- Ligue para o Kian e avise. Ele vai entender. - sorri pequeno.

- Mas e-e se ele ficar bravo comigo? - ele perguntou.

- Kai, você tem os seus motivos para não ir. Você sofreu muito, não acho de acordo fazer algo que não quer fazer. - respondi, tranquilamente já que era esperado tal reação.

Ele concordou com o que eu disse, e não demorou muito até que conseguiu ligar para o Kian.

O Kai estava chorando novamente, falava uma serie de coisas descarregando todo o seu estresse naquela discussão por telefone... Ele estava revoltado, praticamente gritava enquanto falava com o irmão.

Eu Odeio Amar O Meu InimigoOnde histórias criam vida. Descubra agora