O passado bateu em minha porta

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Após Delphine ter me deixado na construtora senti ter ativado o modo turbo. Meus pés andavam rapidamente pelo caminho que eu já sabia de trás para frente: eu estava atrasada, como de costume. Mas dessa vez não foi minha culpa. Eu até tinha acordado na hora certa, o problema era a mulher que dormia nua ao meu lado. 

Empurrei a pesada porta giratória e o vento cortante do ar-condicionado me atingiu. Cumprimentei Gary, um dos armários que faziam a segurança na entrada. Meu celular toca e eu sem parar o ritmo, peguei ele da bolsa e atendi enquanto caminhava rumo ao elevador.

— Você está atrasada. — a voz de Marion ressoa.— Tem reunião com o conselho hoje.

— Caraca! Como eu não percebi isso? Nossa muito obrigada. — falei sarcástica. Eu podia ouvir o som da lixa em contato com suas unhas e podia também ver que ela fazia um bico. Tudo isso sem eu nem estar ao menos perto. — Avisa ao seu docinho que eu me atrasei por causa do transito, mas que já estou a caminho. — segurei o aparelho com o ombro para que não caísse e apertei o botão do elevador.

— Só isso? — perguntou com desdém. Respirei fundo e afastei o pensamento de jogar ela das escadas — Delphine agora é chamada de transito?

— Felix é um fofoqueiro! — digo irritada e ela cai na gargalhada.

— Te espero em sua sala — diz e desliga.

 Fechei os olhos em um ato de me controlar, mas isso já não ajudava mais. Tinha esquecido da reunião de hoje.

— Deus, me abençoe com paciência hoje, por favor. — falei olhando para o teto espelhado do elevador.

...

— Bom dia, querida. — disse assim que entrei em minha sala e avistei Marion sentada em minha cadeira. — Tire sua bunda da minha cadeira.

— Bom dia, gostosa. — cumprimentou com sorriso de canto brincando com uma caneta — Mal humor desse nem parece que transou loucamente. — ri baixinho.

— Marion cuide da sua vida e vaza — falei dando um tapinha em seu braço e ela levantou gargalhando — É sério, Felix tem uma capacidade absurda de espalhar fofocas.

— Eu estava com ele quando ligamos para Delphine — me encarou com sorriso de canto — E a considerar o seu atraso e essa marca no pescoço, hoje de manhã foi uma loucura.

— Delphine se atrasou e precisei esperar ela, aliás não dirijo — falo levando a mão até o pescoço, pegando o celular para conferir.

— É isso que dá ser burra e não conseguir tirar habilitação. — brincou me fazendo lhe fuzilar com olhar. 

— Eu não sou burra eu só...não consegui aprender a usar os pés... — tentei me defender rindo junto de Marion. 

— As mãos usa direitinho né. — debochou e foi até a porta — Vamos que não quero ser a última a chegar na sala de reuniões.

— Como está o chefinho hoje? — cocei a cabeça tirando algumas pastas da bolsa, indo em sua direção.

— Você nem imagina o bom humor que a criatura está exalando. — disse e fiz cara de espantada, trancando a porta — Acho que você não foi a única que transou ontem hein.

— Podemos esquecer minha vida sexual por favor? — digo e ela estende as mãos em sinal de desculpas, me seguindo em passos largos — Sobre o que se trata a reunião mesmo?

— Acho que reunião de orçamento, novo projeto ou algo do tipo. — disse de forma entediada e eu já imaginava o que aguardava.

Uma sala de reunião com várias outras pessoas nas mesmas condições que eu. Chefes de departamentos entediados até a morte. Em dias como esse nem todo o café do mundo fazia efeito, parecia impossível passar por uma daquelas horríveis reuniões de orçamento sem cair no sono. Isso tudo sem mencionar o fato de que essa reunião era mensal e durava em média três horas, sendo forçados a ouvir o homem mais emproado do mundo, falando sobre relatórios trimestrais, dividendos, e todas as outras modalidades de tédio.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora