Eu não posso fazer isso!

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Parei de digitar e fiquei encarando o ponto que saltava na tela do notebook. A um clique de uma decisão, isso parece demais para mim. Decidir algo? Não consigo. Olho para minhas mãos e elas tremem, sinto um frio correr em minha espinha e fecho os olhos tentando manter a respiração compassada

 Eu não posso fazer isso  empurrei o notebook para longe e deitei meu corpo  O que o senhor faria, pai?  levei um dos braços a testa e fiquei encarando o teto.

 O toque do meu celular me tirou dos devaneios. Busquei por ele em cima da cama e sentei, vendo o nome de Elisa piscar na tela.

Cosima? — a voz exageradamente doce e carregada de sotaque italiano me fez revirar os olhos.

Sim, Srta Morelli — limpei a garganta e a ouvi soltar um riso fraco do outro lado.

Preciso que venha para a construtora, seu projeto foi aprovado e precisamos da sua assinatura até às 14:00 — disse e olhei para o relógio de pulso, vendo que precisaria encerrar meu horário de almoço se quisesse chegar a tempo.

Achei que teria a resposta só na quinta, hoje é apenas segunda-feira — franzi o cenho.

Ao que parece você conquistou logo de primeira e eles querem fechar negócio com a construtora ainda hoje.

Okay, em vinte minutos estarei aí. Obrigada  sorri e desliguei sem mesmo esperar a despedida de minha secretária. 

Merda. 

Olhei para meu notebook, encarando por tempo demais aquele maldito ponto piscando na tela. Eu não era capaz de puxar o ar para meus pulmões, a vontade de chorar se intensificou conforme minhas mãos soavam. Eu queria gritar, tanto quanto eu queria correr dali e me esconder longe de tudo, e o fato de não poder fazer nenhuma das duas coisas só piorava tudo. Não porque não podia, mas porque se eu fizesse, seria ainda pior.

Levantei em um impulso e juntei minhas coisas na bolsa, olhando para a tela do notebook por alguns segundos antes de fechar e também o guardar. 

Um suspiro e me senti pronta novamente. 

Saí do quarto rapidamente, sem olhar para os lados, no fundo evitando precisar falar com alguém no estado que eu estava.

16:48

Golden Carpentry Construtora.

Após assinar o contrato e repensar sobre a discussão com Felix, se concentrou no trabalho em sua frente. Concentrou tanto que não viu a hora passar e nem reparou que só restou ela e mais duas pessoas ali. Olhou em seu relógio de pulso e arrumou sua mesa recolhendo todo material que levaria para casa. Puxou sua bolsa para o seu ombro e segurou os portfólios firmes em seu braço. Andou firme e calmamente até a sala que entrou mais cedo e bateu na porta, abrindo-a e colocando metade do corpo para dentro, avistando seu chefe com uns papéis em mãos e inclinado levemente para trás na cadeira de couro.

— Meu horário já acabou — anunciou tomando a atenção dos olhos dele.

— Seu horário acabou há umas duas horas, Srta Niehaus — falou ao olhar o relógio com uma sobrancelha levemente arqueada — Existem poucos como você.

— Eu acabei me empolgando e simplesmente perdi a hora — entrou por completo na sala, ficando frente a frente dele — Acredito que saiba o motivo de eu estar aqui.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora