Caminhos perigosos

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Um sorriso. Foi a resposta mais generalizada possível, mas era diferente. Era sincero e profundo, era carinhoso e confortante.

Merda, porque ela está sorrindo dessa maneira? Sinto meu rosto corar e as pernas fraquejar, tão de repente meu tornozelo já não parece mais tão firme.

Delphine Cormier está novamente em seu pedestal, sendo a dona da situação.

— Isso parece que vai demorar muito mais que o esperado. — mudou de assunto tão repentinamente que me assustou — Vamos comer.

— Mas e o seu namorado? — pergunto mais de maneira automática, pois raciocinar estava sendo complicado.

— Não é uma prioridade no momento. — respondeu despreocupadamente, já se sentando no chão — Ele vai se virar, e você precisa comer pois sei que não tomou café.

— Não estou com fome. — minto e ela me olha com sorriso debochado.

— Vem — repetiu tirando a embalagem metálica da sacola — Sei que a ressaca te impediu de tomar um café da maneira correta.

— Eu não quero, Delphine. — insisto como uma criança mimada.

— Para de charme, senta aqui que eu não mordo. — gargalhou me fazendo engolir em seco. — Mas as talheres são delicadas demais — ergueu o pequeno garfo e uma faca plásticos, me fazendo gargalhar.

— Não me importo — sorri apertando as mãos — Com as talheres caso tenha entendido errado.

— Eu entendi — gargalhou mais uma vez, agora me olhando — Relaxa um pouco, não sou o monstro que falam e você já sabe disso.

Como fosse possível relaxar ao seu lado né, Delphine.

Um pouco relutante sento de maneira que não ficasse com as pernas abertas. Maldito dia que escolhi esse vestido para trabalhar. Me amaldiçoei mais quando sinto os olhos de Delphine passando por minhas pernas nuas de maneira rápida, porém o suficiente para que meu corpo reagisse.

Preciso quebrar o silêncio antes que isso se torne mais sufocante.

— Quem diria — sorri encarando a comida — Nunca imaginei que estaria em Paris, presa em um elevador e comendo uma marmita com uma francesa.— brinco vendo ela tirar uma garfada levando até minha boca, mas olho sem entender.

— Não tenho doenças, e acredito que também não tenha — brinca me fazendo revirar os olhos e então aceito. — Dizem que dar comida é gesto de carinho, e seu tornozelo machucado está me olhando — aponta com a cabeça para a minha perna e então solto um riso frouxo.

— Ele vai ficar bem — falo como e fosse outra pessoa, pegando meus próprios talheres.

— Não é o que imaginou né? — questiona mastigando e a olho curiosa — Estar presa em um elevador em Paris, dividindo uma marmita.

— Pra ser sincera, não. — respondo pegando um pouco de comida. — Eu achava que aqui era tudo muito elegante e que as pessoas eram antipáticas. 

— Acho que não é o auge da sofisticação. — riu pegando o celular no bolso da calça — E algumas pessoas são mesmo antipáticas, mas não faço parte deste grupo — piscou sorrindo fraco por estar com a boca cheia — E os franceses tomam banho — afirmou me fazendo gargalhar.

— Tenho lá minhas dúvidas — brinco e ela fecha a cara em brincadeira — Com todos que socializei até o momento me parecem ter os banhos em dia.

— Eu particularmente sou viciada em banho — informa de maneira natural, mas minha mente me joga em uma área perigosa.

Merda, porque essa bosta de imaginação sempre me trai?

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora