Maldito elevador

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— Se você não acreditar agora, eu volto lá e canto o repertório do Bruno Mars inteiro — aponto para o palco antes de sentar no banco ao seu lado.

— Eu poderia dizer que não acredito apenas para te ouvir cantar, mas isso significaria você longe demais para me ouvir reclamar — ela sorri se inclinando um pouco para falar comigo.

— Adora minha companhia, eu sei. — brinquei em tom convencido.

— Cuidado para não me sufocar com o seu ego — gargalhou se inclinando mais uma vez para o meu lado — Mas sim, sua companhia é bastante agradável. Me faz esquecer que o mundo por fora daquelas portas ali é um verdadeiro inferno.  — suspira dando mais um gole na sua água.

— Sua forma de ver o mundo diz muito sobre você. — afirmo recebendo um olhar curioso.

— E o que eu estou dizendo exatamente? — vejo um sorriso brincar no canto dos seus lábios

— Não sei, eu li isso em um livro e resolvi parecer cult. — dou uma piscadela rindo junto dela.

— Boa jogada — gargalhou alto — Você já tinha vindo a Paris?

— Não, é minha primeira vez — suspiro deitando um pouco a cabeça para o lado. — Não posso dizer que conheço muito além da sacada do meu apartamento.

— Então Paris ainda é desconhecida para você? — sorriu me olhando com expectativa.

— Diria que conheço o caminho da portaria do meu prédio até a empresa, mas estaria mentindo pois não faço ideia de como chegar lá — dou um sorriso arrancando uma gargalhada dela — Mas já conheci o corredor do meu andar. — levanto as mãos fingindo ser algo grandioso.

— Então vou te apresentar a minha Paris algum dia desses — dá uma piscadela levando a garrafa até a boca.

— Proposta irrecusável — levanto as mãos em falsa rendição — Sendo assim prometo um dia te apresentar o meu Canadá.

— Justo — estendeu o dedinho e a encarei com a expressão engraçada — Qual é, não conhece a promessa de dedinho?

— Conheço, é bem famosa entre crianças de sete anos — debocho e ela revira os olhos — Você acredita nisso?

— Você não? — arqueia uma sobrancelha ainda com o dedinho esticado.

— Meu pai falava que promessas são incertas, usadas para garantir o duvidoso. — afirmo séria, sem desviar do seu olhar.

— Mas é a melhor maneira de firmar o certo — diz calma e eu encaro o seu dedinho — Se você fizer isso vai cumprir, apenas por não querer trair o significado do ato da promessa.

— Acho que afinal promessas são isso né. — abro um sorriso largo e engancho nossos mindinhos — Você provavelmente não vai lembrar de nada amanhã, mas eu prometo que vou te fazer mudar de ideia sobre o mundo.

— Não seja teimosa, ninguém é capaz de me ajudar, Cosima — aperta mais o nosso laço — Não tente me salvar, você pode cair junto.

— Já estou no chão mesmo. Me deixe arriscar — dou uma piscadela e selo a promessa com um beijo nos dedos entrelaçados — Prometo te salvar, Delphine Cormier.

— Prometo permitir que tente me salvar, Cosima Niehaus. — retribuiu meu ato, também beijando nossos dedos.

— E se você não se lembrar disso amanhã? — solto nossos dedos e pergunto rindo, mas ela apenas sorri.

— Algo me diz que mesmo se eu esquecer meu nome algum dia, eu eu jamais esquecerei do dia de hoje — sorriu fraco, fazendo meu coração acelerar.— Por isso acho bom cumprir e me levar para conhecer o outro lado do oceano.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora