Álcool e algo a mais

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Delphine POV

Despertador maldito. 

Bato no colchão ao meu lado em busca do meu celular que berrava, anunciando um novo dia. Ao encontrar desligo o som estridente e confiro as notificações de maneira rápida.

Na verdade eu procurava algo bem específico, qual não encontrei: sinal de vida do meu namorado.

A cama vazia parece gritar a minha realidade. Estou sem notícias de Paul desde que ele saiu pela porta da sala, me deixando para trás como sempre. Sinto meu peito apertar e então solto o aparelho no colchão, passando a encarar o teto.

Nada do que eu fizesse poderia mudar minha relação, eu já tentei de tudo. Não sei até que ponto me sujeitaria a aceitar migalhas, eu mereço mais do que alguém pela metade.

Eu preciso conversar com Paul, e isso vai acontecer assim que ele voltar. Quando ele voltar. No momento eu só preciso encarar o meu dia, por isso em um impulso jogo os cobertores que aqueceram minha noite fria e levanto, buscando por minhas pantufas.

Repasso meu dia mentalmente enquanto escovo os dentes sem tanta animação. Cirurgia às 10:00, almoço, visitar pacientes, duas consultas, casa e festa da Marion.

Espera aí. O aniversário da Marion.

— Puta merda — enxáguo a boca rapidamente, encarando meu rosto no espelho do banheiro — Com que roupa eu vou.

Penso e repenso. Repasso todo meu guarda-roupa buscando por opções mas nada me vem a mente. Eu preciso pensar em algo já, para ter tempo depois.

Tento entender de onde vem toda essa animação e expectativa para sair, já que eu era a primeira a inventar desculpas para ficar em casa assistindo, e para o quase inesperado a resposta vem em forma de gente.

A canadense que vem despertando frios na espinha que não sentia a anos, o motivo de eu entrar em combustão apenas com um sorriso.

Sou patética e estou confusa.

Tomo uma ducha quente, demorando mais que o costume. Eu precisava organizar minhas ideias e entender de uma vez por todas que tudo não passava de uma atração boba, falta de sexo e essa bendita crise no relacionamento.

Mas no fundo eu sabia que era algo mais forte que uma simples válvula de escape, era algo que cheirava a mais uma confusão para a lista.

E que confusão linda...

Quando saí prendi os cabelos e coloquei uma roupa confortável para ir trabalhar. Ignorei o café da manhã, mesmo sabendo que é a refeição mais importante, peguei minha bolsa e meu jaleco, fazendo uma checagem mental do trajeto que faria no dia de hoje.

Como faltam menos de duas semanas para o Natal, as ruas do centro estão lotadas, o que me leva a calcular uma rota alternativa que me tire da confusão de turistas e vendedores.

O caminho percorrido foi diferente, mas parecia o mesmo de todos os dias, para não dizer dos últimos anos.

Sozinha e em silêncio, apenas curtindo minhas confusões mentais.

Assim que paro no sinal, olho para o banco do passageiro abrindo um sorriso involuntário ao lembrar daquela que esteve ali na noite anterior.

— Srta. Niehaus, o que está fazendo comigo? — me pergunto ainda sorrindo, só noto que o sinal havia sido liberado e os carros seguido o trajeto quando algum estressado arrebenta a buzina logo atrás do meu carro.

Okay, eu sempre fui esse alguém estressado, mas hoje não. Hoje eu estou com uma sensação de tranquilidade, ou apenas cansada de tudo o suficiente para não me importar com mais nada.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora