Coração de Gelo

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Hoje meu dia começou cedo. Cosima conseguiu adiantar o voo e embarcou pela madrugada. Admirei cada passo, o sorriso em estar voltando para seu país e a inocência perante tudo que estava acontecendo. Não tive coragem de contar sobre as ameaças de minha mãe, ou até mesmo que seu chefe pode saber de nós.

Não devo nada a ninguém, sou uma mulher adulta e independente, mas pensar em tudo que pode acontecer com Cosima se minha mãe realmente cumprir sua promessa, faz meu peito apertar e o medo tomar conta. Como eu conseguiria esconder algo do tipo e agir normalmente com ela? Seria uma missão impossível.

— Cosima Cosima — digo batendo a caneta em minha mesa e balanço a cabeça, afastando os pensamentos. Não tinha notícias dela ainda, deve chegar dentro de 2 horas em Toronto. São 6 horas sem uma mensagem dela e a angustia já preenche todo meu ser.

O apito do meu bip me tirou completamente dos devaneios e logo me levantei indo em direção a porta enquanto dobrava as mangas de meu jaleco. Quando saí de minha sala, por pouco não fui atropelada por um médico que passou correndo por mim.

— Scott! – Gritei, pronta para chamar sua atenção.

— Dra. Cormier, desculpa! — Exclamou, continuando a correr sem parar e só então percebi que ele empurrava um carrinho de reanimação. — Liliam teve uma parada cardíaca! Preciso de sua ajuda.

Não pensei duas vezes e comecei a correr, acelerando o passo para alcança-lo. Em poucos segundos, entramos no quarto da paciente e encontrei meu residente, Jules Adams, tentando reanima-la com massagem cardíaca. Assim que nos viu, ele abriu espaço para que Scott posicionasse o carrinho perto da cama. Aproximei-me e retirei a blusa do pijama de Liliam, deixando seu pequeno peitoral exposto. Scott ajustou a voltagem das pás e me aproximei dela.

— Afastem-se. — pedi posicionando as pás em seu peito e, um segundo depois, seu corpo se curvou para cima em um espasmo.

O monitor cardíaco continuava emitindo um bip contínuo.

— Aumente para 200. Mais uma vez, Scott. — ordenei e Scott obedeceu no mesmo instante.— Afastem-se! — Pedi, posicionando as pás novamente.

Nada.

— Mas que merda! — exclamei  soltando as pás e colocando as mãos uma sob a outra no peito dela, começando a massagem cardíaca novamente, tentando reanima-la. — Não podemos perder uma criança hoje. Vamos, Lili... — Falei baixinho, olhando para o rostinho desacordado da menina. Mais alguns segundos e finalmente ouvimos um barulho que nos tranquilizou.

Bip. Bip. Bip.

— Recuperamos — soltei o ar pela boca, bufando em alívio. Peguei minha lanterna e abri os olhos da menina, verificando a resposta pupilar. Chequei suas funções neurológicas e suspirei de maneira aliviada ao constatar que estava tudo bem.

—  O que aconteceu? — a pequena quebrou o silêncio, sua voz saindo com bastante dificuldade e Scott tratou de tranquiliza-la.

—  Calma, Liliam. — Ele falou, fazendo-a se deitar novamente. — Tá tudo bem agora. Você está bem.

—  Preciso que a observe por algumas horas, qualquer alteração mande me chamar. — Scott assentiu para mim e eu me virei, saindo do quarto em seguida.

Ajeitei o jaleco branco no meu corpo e empurrei os fios de cabelo para trás, melhorando o meu visual. Meu único conforto é que ainda não precisei entrar numa sala de cirurgia hoje. Minha cabeça não está ajudando muito com tudo que vem acontecendo em minha vida.

— Oi, Beth! — Cumprimentei a recepcionista atrás do balcão da emergência e ela sorriu para mim, devolvendo o cumprimento. — Preciso da ficha dos pacientes dos leitos um e dois.

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