Bem-vinda a nossa Paris

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I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair

(Hurt - Jhonny Cash)

Cosima POV

Acordei com um espasmo e observei melhor a imagem em meu campo de visão. Constatando que era meu quarto, aconcheguei-me novamente em minha cama, ainda com o corpo de lado.

 Era tudo um pesadelo, somente um maldito pesadelo.

Fechei os olhos na tentativa de voltar a dormir. Ainda tinha a sensação ruim causada pelo maldito sonho, mas precisava dormir. Não posso aparecer cheia de olheiras no meu primeiro dia na construtora.

Tentativa falha.

Aperto os olhos e solto um suspiro de frustração.

— Bela maneira de começar — bufei olhando para o teto branco, em contraste com o azul bebê das paredes — Bom dia, Europa.

Empurrei as pesadas cobertas e sentei na cama, olhando por entre a fresta das cortinas vi a neve cair. Senti um frio tomar conta do meu corpo e só então notei que a porta da sacada estava levemente aberta. Busquei por uma das mantas que usei durante a noite e enrolei em meu corpo suado, levantando.

— Nossa quanto glamour — ri sozinha ao sair na sacada.

A rua estava um verdadeiro caos, tudo causado pela neve que parecia ter sido intensa durante a noite, considerando o acúmulo enorme nas calçadas.  Senti um vento cortante se chocar contra meu corpo, o que me fez se encolher mais e apertar o cobertor.

— Pelas deusas — tremi ao sentir novamente um vento cortante em minha espinha.

Admirei por breves minutos a belíssima visão da sacada do meu mais novo apartamento localizado no Saint-Germain-des-Prés. Sim, estou morando no bairro mais moderno de Paris e eu nunca imaginei isso, nem em sonho.

 Abro um sorriso, deixando a emoção tomar conta. A duas semanas atrás eu estava surtando por não conseguir tomar uma decisão.

 Tolinha, Cosima. 

Sinto cada dia mais que foi a melhor decisão da minha vida.

Uma buzina na rua me desperta dos devaneios, desvio meu olhar e vejo ser um casal aparentemente brigando. Abro um sorriso e nego com a cabeça, tentando imaginar o que havia se passado, aliás estávamos na cidade do amor, era suposto existir amor a todo momento, não?

Decido voltar para dentro assim que a manta não foi mais suficiente para me proteger do frio, em combo com o estômago pedindo por comida. Pelo bem da minha saúde, entrei e fechei a porta junto das cortinas, deixando o quarto totalmente escuro. 

Saí pelo rumo em direção a porta que me levaria ao vale dos alimentos, meu lugar preferido: a cozinha. Bom isso se eu não tivesse tropeçado em uma caixa no meio do cômodo. Bufei gritando palavrões por ter sentido meu dedinho latejar.

Eu havia chegado no dia anterior, trazendo comigo todas as tralhas adquiridas nos meu 23 anos de vida. Não eram muitas coisas, mas era minha vida. Uma vida que coube em cinco caixas e duas malas.

— Uma faxina às 5:00 da madrugada não seria de todo mal — sorri alcançando o interruptor. 

Acendi a luz, iluminando todo o ambiente que estava um caos de caixas e roupas espalhadas pelo chão, mas me repreendo mentalmente pela ideia que tive a dois segundos atrás e apago as luzes rapidamente.

Out Of LineOnde histórias criam vida. Descubra agora