CAPÍTULO XXIX - CONSPIRAÇÃO

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ANTES: Áster leva Felipe e Samuca para uma sala da N-life escondida no mercado. Angélica questiona a presença do menino, mas Áster convence a deixá-lo ficar após usar seu poder nele. Angélica mostra ao grupo algumas coisas, incluindo Demétrio coordenando um grupo de soldados.

AGORA:

Me afastei da tela. Meu coração preenchendo todo o som da sala. Eu... errei o tempo todo? Demétrio não era meu aliado, meu amigo? Lembranças nossas passaram pela minha cabeça. Ele se apresentando quando o conheci e dizendo sobre como Érico era tão bonito quanto burro, me oferecendo chocolate na escola, impedindo o ônibus de sair quando fui salvar os meninos, brincando comigo na clareira, sorrindo ao meu lado enquanto cantávamos a abertura de One Piece toda errada, me puxando para baixo quando Suelen atacou a horda, conversando comigo sobre Érico, me ajudando a entender meus próprios sentimentos, dando um jeito de acordar Sérgio para tirá-lo de perto de Flora. Ele estava comigo quase todo o tempo. Foi um amigo de verdade em meio a todo o inferno. Sempre sorrindo, sempre me fazendo sorrir, me dando forças.

Sua voz cantarolou em minha mente "Nós rimos juntos, cantamos juntos, lutamos juntos, sobrevivemos juntos. Você virou um amigo também e eu não quero te ver se machucando." Tudo... tudo foi mentira? Eu não podia acreditar. Me recusava a acreditar.

― Isso... ― gani. ― Tem de ter uma explicação.

Angélica ergueu a sobrancelha.

― E tem ― ela me fitou. ― Ele é filho de um dos donos da empresa, tá afundado na mesma lama deles.

― VOCÊ TÁ ERRADA ― gritei. ― Ele não é como os outros. Eu conheço ele.

― Tudo parece muito forte quando o mundo tá desabando ― Áster disse sem olhar para mim. ― O medo e a incerteza nos fazem sentir tudo à flor da pele. É natural. Mas tem que se lembrar, Felipe, a maioria aqui se conhece a menos de um dia. Precisa de mais para poder... ter fé em alguém.

― Eu sei disso ― falei. ― Sei muito bem. Mas eu não sou de errar um caráter. Não tanto.

― Pode dizer qualquer coisa ― Áster inspirou. ― A câmera não mente.

Cerrei os dentes. Áster falava de forma tão concisa, tão coesa e calma. Me fazia parecer ingênuo. Tive raiva dela. Então, dois bracinhos circularam pela minha cintura. Olhei para Samuca, seu rosto afundado em minha barriga.

― Não fica assim ― disse ele, tímido. ― E-eu tô aqui.

Respirei fundo. Ele tinha razão. Se deixar levar pelos sentimentos não traria nada de bom agora. Mesmo vendo as provas em tempo real, cada parte de mim urrava em favor de Demétrio. Eu não podia condená-lo sem ter certeza. Não seria justo dada toda a nossa história.

Retribuí o abraço de Samuca, sussurrando um obrigado. Olhei de volta para as meninas e respirei fundo.

― Ok, eu vou concordar em discordar ― decretei. ― O que planejam fazer agora?

Elas se entreolharam.

― Você pode querer repensar sua resposta ― sugeriu Angélica olhando de soslaio para mim. ― Veja só: esses dispositivos que os soldados pegaram não são meio familiares?

A garota deu zoom. Apesar da imagem borrada, a coisa lembrava um roteador, essa seria minha resposta se não fosse pela antena redonda brilhando em vermelho no topo da haste fina. De fato, eu vi aquilo antes. Olhei para ele durante um longo tempo na viagem até aqui.

― Isso tá no ônibus. ― franzi a testa. ― Por quê?

― É um tipo de transmissor ― explicou Angélica. ― Tem um aqui também.

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