CAPÍTULO XLII: BANHEIRA DO GUGU INFERNAL

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Antes:

Érico e Felipe lutam contra o Capitão Cris, um poderoso inimigo capaz de criar gelo. Com muito esforço, conseguem feri-lo, mas acabam descobrindo que ele era seu aliado. Felipe obtém uma habilidade capaz de aumentar sua força. Em uma luta árdua, consegue derrotar o soldados da N-life e resgatar Samuel, porém Érico é atacado com uma seringa misteriosa e o maior coelhão do Apáscoalipse desperta.

Agora:

Não sei dizer quando exatamente comecei a correr. Algo no Grandão inspirava um terror tão profundo em meu coração que me vi pegando Samuel no colo e puxando Érico para o mais longe possível. Dourado encarou o gigante, mas pedi para que fosse ajudar os outros. O coelhão assentiu e saltou pelo buraco no teto. Graças as minhas recentes habilidades consegui carregar meus meninos até o alto da escada. Olhei para trás. A criatura rolou, atordoada. As pesadas correntes se esfarelaram no menor sinal de força. Grandão prostrou-se nos seis membros. Não ousei ficar para vê-lo se recompor. Fui para a saída de emergência por onde os cientistas tentaram fugir.

Foi quando ouvi. Poderoso. Gutural. Aterrorizante. Como um trovão dentro da minha mente, o rugido do grandão estourou por todos os lados. As paredes tremeram. Nós três caímos incapazes de reagir a tamanha potência. Apertei a cabeça de Samuel contra mim na tentativa de protegê-lo. Senti algum tipo de força sobrenatural puxando-me para longe. O som parecia estar me chamando... Não, a palavra correta seria "arrancando". Minha consciência voou por entre as fendas do subterrâneo tal qual um cão na coleira. Escapamos pela grande cratera da explosão e ganhamos o céu noturno. Mas não acabou aí. Seguimos em todas as direções. Linhas retas. Aquilo não era aleatório. O Grandão tinha alguma forma de controlar seu rugido. Pior: ele o mandou direto na direção de outros coelhões. Todos ergueram suas imensas cabeças ao escutarem. Alguns estavam comendo, mas pararam imediatamente. Reunindo força nas pernas monstruosas, saltaram. Percebi, atônito, que vinham diretamente para nós.

Como começou, o som sumiu. Érico e Samuel pareciam atordoados, mas eu sabia que se tinha alguma hora para não descansar, era aquela. Conseguimos apenas chegar ao fim das escadas antes da pesada mão do Grandão avançar na direção da parede. Puxei os dois para o lado no instante em que a massa de concreto e metal explodiu. Destroços forraram o chão onde estávamos segundos antes. Se não fosse pelas minhas habilidades, estaríamos mortos. Me fazia refletir sobre a limitação humana, mas não havia tempo para isso. O Grandão estava farejando. Sua inspiração fazia eco. Eu sabia que ele estava no nosso rastro, porém, olhando para a situação com mais calma se havia alguma chance de fugirmos era aquela.

― Conheço essa cara. ― disse Érico. ― Tem um plano?

― Sim, mas não vai gostar. ― encarei-o. ― Temos que continuar correndo.

― Tá doido?

― Ficar parado é que não dá ― argumentou Samuel.

Acariciei seus cabelos, o menino sorriu.

― Verdade, além disso... ― fiz uma pausa. ― Esse corredor estreito vai atrasar ele, é a nossa melhor oportunidade. Se chegarmos até o fim, tem uma estação cheia de gente. Ele perde o nosso rastro lá.

Érico tapou os ouvidos de um Samuel protestante.

― Tem certeza disso? ― perguntou. ― Vamos meio que causar um genocídio.

― Esse bicho já tava aqui, o que quer que aconteça já é meio culpa deles, de qualquer forma. Além do mais, criaram aquele treco. É olho por olho. ― falei. Se existia algum remorso, o empurrei bem fundo.

Grandão bufou, um som grave, pesado.

― Temos que ir. ― Érico ergueu Samuel no colo. Nos encaramos, confiantes. ― Um... dois e... já!

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