CAPÍTULO XVI: HORDA - PARTE FINAL!

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Como se saber o nome daquilo fizesse ser mais real, o fedor, no mesmo instante, se tornou homogêneo gerando um profundo desconforto intestinal que só não me fez vomitar porque meu corpo entrou novamente em modo sobrevivência. Segurei meu machado com mais força e olhei para Demétrio. O garoto tinha tapado o nariz e fazia uma careta engraçada.

― Temos que avisar os outros ― falei já direcionando meu corpo de volta ao ônibus.

― Espera ― disse Demétrio. Encarei-o, confuso. ― Tu tá ligado que podem não ser isso que a gente pensou, né? Tipo, tá, tem esse fedor de carniça, mas podem ser só coisas mortas normais e não coisas mortas "vivas". ― ele fez aspas com os dedos.

Apesar de estar no meu pique de sobrevivente, precisava reconhecer que ele tinha um ponto. Haviam bem poucas alternativas que justificariam um cheiro forte de carniça em um apocalipse zumbi exceto por, bem, zumbis, ainda assim era importante saber diferenciar. Por outro lado, o meu instinto, fator que certamente foi responsável por me fazer chegar onde cheguei, parecia berrar a palavra "perigo" na minha cabeça sem parar e eu pretendia escutá-lo.

― Talvez você tenha razão ― reconheci o ponto de Demétrio antes de introduzir o meu: ― Mas eu acho que nós... estamos no caminho de uma horda ― as últimas palavras foram inesperadas, não sabia que ia dizê-las até dizer. Fiquei estático por um tempo, pensando no motivo para aquilo ter acontecido, contudo o tempo de todos podia estar acabando. ― Sei lá, pode ser erro meu ― no fundo, tinha certeza de que não era, entretanto relutei em falar com convicção. ―, mas e se não for? A gente pode estar correndo perigo. Eu quero, pelo menos, falar sobre isso com a Capitã.

Demétrio me analisou por um instante e assentiu.

― Ok, tô confiando em tu. Vamos lá falar com a Suelen! ― ele disse e começamos a caminhar até o ônibus.

Conforme avançávamos, o cheiro ficava mais forte e na metade do caminho tive certeza de que ouvi um ganido idêntico ao dos mortos que já encontrei. Parei e olhei ao redor buscando ver o autor do som por entre as árvores. Nada. Ainda não tinham nos encontrado, mas sem dúvida estavam perto.

De repente, senti uma mão tocando meu ombro e rodei nos calcanhares com a machadinha em riste, pronto para despedaçar seja lá o que fosse, mas me detive quando percebi tratar-se apenas de Demétrio. Mesmo eu tendo parado o ataque antes de atingi-lo de fato, o rapaz desviou com maestria e velocidade incríveis ― mal consegui acompanhar seus movimentos. ― Claro que teria sido mais incrível se ele não soltasse um grito agudo de medo, contudo ainda foi legal. Depois que o susto passou, baixei minha arma, ofegando.

― Desculpa ― pedi. ― Eu me assustei.

― Não, não, tudo bem ― ele respirava muito mais pesadamente do que eu, seus braços jaziam erguidos em sinal de rendição. ― Eu tô bem. Morri por uns segundos, mas passo bem.

Ele sorriu. Dava para notar que a forma como olhava para mim era diferente, ainda assim tentou não demonstrar.

― Desculpe de novo ― repeti. ― Eu ouvi alguma coisa no mato, achei que fosse um deles, aí você me tocou do nada e eu surtei. Foi mal mesmo!

Mesmo explicando a situação, ainda parecia bem ruim.

― Ok, ok ― ele sacudiu a cabeça várias vezes. ― Tá ok. Vamos continuar. Pode ir na frente, já te alcanço.

Achei melhor não discutir e fiz como ele pediu. Alcancei o ônibus rapidamente, me demorando na porta a fim de olhar para trás. Demétrio vinha a passos lentos, porém decididos. Seguro de que ele ficaria bem, entrei no veículo. Uma vez dentro, me certifiquei que os dois garotos permaneceram lá, brincando. Samuca deu sinais de perceber minha inquietação, contudo nada disse, provavelmente para não preocupar seu irmão. Jurei mentalmente fazer tudo que fosse preciso para mantê-los a salvo e fui até a pequena escadaria responsável por levar até o segundo andar. Subi num piscar de olhos, nem me atentei ao design do espaço, apenas procurei o caminho para o teto e, ao encontrá-lo, segui por ele.

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