CAPÍTULO XXII: A PERGUNTA

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O

caminho de volta foi consideravelmente mais rápido. Em minha cabeça, ainda estavam frescas as lembranças de por onde segui desde que me separei dos outros e foi uma surpresa constatar isso. Não demorei a ouvir vozes familiares ecoando, mesmo que baixinho, pelos corredores. Depois disso, foi questão de tempo até avistar Demétrio e Érico conversando sentados num dos balcões de caixa. Ao lado deles, empilhavam-se cestinhas de mercado. Enquanto me aproximava, meu coração acelerou. Puxei a blusa para esconder melhor meus seios, respirando bem fundo antes de entrar no campo de visão deles.

― Oi, gente ― falei deixando minhas "compras" no chão.

― Felipe ― saudou Demétrio com seu forte sotaque virando-se. ― A gente tava falando de voc... Ai! ― Érico deu uma cotovelada no amigo. Sorri. Os dois finalmente me viram e arregalaram os olhos. ― Uou! O que é isso?

― Gostaram? ― perguntei dando uma voltinha. ― Achei uma seção com roupas e já aproveitei.

― Ah, eu curti ― respondeu Demétrio. ― Ficou uma coisa meio casual e meio hot wheels, Franjinha Jovem. Realmente legal.

Olhei para Érico. O garoto estava anuindo.

― Achei bem... ahnn...

Ergui uma sobrancelha.

― Sexy? ― Érico engasgou-se com a própria saliva e começou a tossir. Demétrio ensaiou um sorriso imenso. ― São Braz, São Braz, ajude esse rapaz. ― dei alguns tapas em suas costas até fazê-lo parar, nisso tive um vislumbre da arma que Arantes dera a ele. Érico começou a soltar um gemido, mas cortei-o antes daquilo virar uma frase real. ― Tô só brincando, bobão.

Em seguida, sentei-me no caixa de frente para ele.

― Vocês dois pegaram bastante coisa ― comentei.

― Ah, é! ― Demétrio desviou o olhar para as cestas. Oito no total. ― Achamos bastante coisa e de dois foi fácil trazer tudo. Tem de produtos de higiene a doce de bar e velas aromáticas por algum motivo. ― ele olhou de soslaio para Érico.

― Tá fedendo aqui ― retrucou o garoto. ― E nós também estamos fedendo. Temos ignorado isso, porém todo mundo sabe que é verdade, então não me culpe por querer relaxar com um cheirinho de baunilha.

― Prefiro sândalo ― resmungou Demétrio.

― Já discutimos isso, o sândalo é péssimo e você perdeu no par ou ímpar, viva com isso.

Demétrio fez bico.

― Enfim ― prosseguiu Érico. ― Tem mais roupas lá onde você achou essas?

― Tem uns par ― contei. ― Mas não tem calcinhas, em compensação não tem muitos sapatos grandes. Eu me virei porque calço 39/40, o maior que tinha. De qualquer forma, é melhor do que nada.

― Entendi ― Érico olhou para os sapatos de hospital em seus pés e suspirou.

― E o Arantes? Não voltou ainda?

― Na verdade, ele tá vindo aí ― Érico apontou para trás de mim. O soldado de olhos azuis aproximava-se, apressado. Não possuía comida alguma consigo.

― Oi, tio, tudo bem? ― indagou Érico descendo do balcão.

― Tudo ― retrucou o homem, seco. Sua atenção passou para mim.― Uou, Felipe, o que é isso?

― Achei uma seção de roupas. ― dei de ombros.

― Ah, tá! ― notei um tom desapontado em sua voz. ― Legal. ― ele olhou para os outros dois. ― Vamos já levar as coisas pra dentro, comer com o pessoal, ver o que descobrimos e decidir o que a gente faz depois.

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