CAPÍTULO XL: ESTOPIM

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ANTES:

Com seu plano já em andamento, o grupo chega à Central da N-life. O filho de Floriano quase os encontra por causa do cheiro do pai, mas Dourado os salva atraindo a atenção para si. No território inimigo, Érico e Felipe deixam o ônibus para salvar Samuel.

AGORA:

― E é aí que vocês vão resgatar o Samuel ― declarou Demétrio.

Senti um gosto amargo na boca. Não importava quantas vezes visse Samuel bem, saber que ele estava sozinho ― Pior: que ele acreditava ter deixado nossas vidas melhores ao nos deixar. ― me despedaçava por dentro. Mesmo comprovando seu bom estado físico, vê-lo algemado como um animal, seu rosto inexpressivo, o olhar vazio de quem apenas aceitou qualquer merda a qual o destino jogasse nele, me enchia de ódio. Não por ele, mas por todos que o levaram a isso. De certa forma, por mim também. Não consegui fazê-lo se sentir suficiente. Não fui capaz de demonstrar amor o bastante para o garoto se convencer de que eu jamais poderia ser feliz sem ele. Cada segundo longe do menino, eu me sentia morrendo.

Lembrei dos meus pais. Saudade era uma palavra ridiculamente pequena para descrever aquilo em meu peito. Pensando bem, meu sentimento a respeito de Samuel devia ser igual ao deles. Não, não poderia dizer isso. Seria admitir que eu estava desistindo ao seguir com nosso plano. Mas agora eu até os entendia. A razão de sempre tentarem me proteger de seus mundos conflitantes. Eu daria tudo para tirar Samuel e Sérgio daquele inferno. De certa forma, eles fizeram isso por mim. Havia tanto para perguntar à minha mãe quando a visse. A lembrança de vê-la com aquele distintivo voltou com força, contudo, apenas a sensação em torno dela. Minha pele podia reconhecer a textura. Um abraço com quilômetros de distância.

Uma lágrima formou-se em meu olho. Quis deitar no chão, chorar alto e pôr tudo para fora. Minha frustração, medo e saudade. Coisas que pareciam insignificantes nos braços de uma mãe.

― Vocês não podem perder tempo ― a voz de Demétrio chamou-me de volta ao frio mundo real. ― Quando tu e o Érico se separarem do grupo, vão precisar salvar o menino o mais rápido que der.

― Bom, meio que essa é a ideia ― brinquei.

― Sim, eu sei, né?! ― ele colocou as mãos na cintura. ― Tô falando do tempo mesmo. ― apontou de volta ao mapa. ― Assumindo que tudo dê certo, ninguém nos veja ou nos reconheça e perceba que nem devíamos estar lá, vamos ter menos de uma hora antes de ficarmos presos, de qualquer forma.

― Especialmente depois que a bagunça começar ― falei.

― Exato ― Suelen suspirou. ― Quando se sentirem pressionados vão querer acelerar ainda mais as coisas, conhecendo o modus operandi, o mais provável é tentarem encerrar as operações mesmo precisando deixar gente deles para trás.

― Eu posso danificar a comunicação deles. É um sistema moderno, mas coletivo demais. Se der algum problema, já era. ― ofereceu Demétrio. ― Ainda se eles tiverem rádios antigos como os nossos, não vão conseguir se comunicar em distâncias maiores ou com todos ao mesmo tempo.

― Com a cadeia de comando confusa e sem poderem conversar, vamos ganhar um tempo extra. ― Áster sorriu.

― Mas não tempo de sobra ― declarou o rapaz mordiscando sua caneta. ― Precisamos ser muito rápidos. Em tudo. Felipe ― encarou-me. ― Tu é nossos olhos e ouvidos. Eles não tem ninguém com poderes iguais aos teus. Bem, não na mesma proporção. Se tivermos algum problema, é contigo que vamos contar. Vai precisar pensar rápido, analisar as melhores opções e guiar todo mundo pelo melhor caminho. Dá conta disso?

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