CAPÍTULO XXXIII: OUÇA-ME RUGIR

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ANTES: Algo desperta dentro de Felipe, um poder misterioso. Coelhões atacam o mercado e uma luta se inicia. No momento de perigo, Dourado aparece para ajudar.

PS: ECL significa Efeito Câmera Lenta. Creio que seja autoexplicativo.

AGORA:

― Que porra é essa?

A pergunta veio de todas direções. Mesmo de costas, vi a expressão de terror nos rostos dos meus companheiros. Arantes e Suelen, em posição de luta, confusos. Hesitando, por minha tranquilidade perto da criatura. Os demais coelhões, recuaram para trás de Vermelhona como filhotinhos com a mãe. A fúria em seus olhos era quase palpável. Batalhava contra o medo tremendo nos músculos. Dourado encarou-os fixamente. Notei o sangue escuro ao redor das suas patas e da boca. Havia alguma história ali. Lembrei de Vermelhona grunhindo há pouco, questionando onde estavam os outros.

Observei Dourado, de canto. "O que você tem feito esse tempo todo?"

Como se lesse minha mente, o coelhão abaixou sua a cabeça gigantesca e felpuda. Gentilmente, esfregou-se em mim. Sua textura era gostosa. Lembrava um cobertor de algodão. Fiz cócegas no tufo de pelos do pescoço. Dourado exalou um som feliz. Os múltiplos olhos fechando-se.

Se antes todos pareciam confusos, agora estavam mais para estado de choque.

― Ele tá do nosso lado ― garanti, sorrindo. Para fortalecer ainda mais minha palavra, atirei-me casualmente nas costas de Dourado. O coelhão estranhou. Seus ombros moveram-se, desconfortáveis. Virou a cabeça em quase 360º, estendi a mão, uma língua áspera encontrou-a. Dei risada com a quebra de expectativa. Dourado pareceu rir também. Ergueu-se em seus quase três metros comigo em cima e rugiu novamente. Vermelhona caiu em posição de ataque, tensa. ― Podem confiar.

Suelen gargalhou, de repente.

― Você é mesmo um garoto cheio de surpresas, né? ― aproximou-se estalando os dedos.

― Eu tento ― respondi.

Arantes e Érico juntaram-se a nós. Suelen sorriu, confiante.

― Muito bem, ouçam o plano... ― Suelen começou, entretanto, Dourado rugiu e partiu para cima de Vermelhona.

***

A sensação era estranha, embora não completamente nova. Era como se eu não estivesse mais no meu corpo, mas ainda estando. Porém, ele parecia distante. Desde aquele "despertar' se posso chamar assim, meus sentidos vagavam por todo lado, eu sabia. Livres como o vento. Algo dentro de mim estava filtrando minha consciência de cada detalhe. Do contrário, eu iria enlouquecer ou morrer. Mesmo assim, fragmentos chegavam até mim ora ou outra. Alguns aleatórios e irrelevantes enquanto outros, bem, nem tanto.

― O que pretende fazer com isso? ― Áster perguntou a Angélica.

A garota de cabelo colorido não respondeu. Continuou encarando um tipo de armário na parede da sala secreta. Ele não estava lá quando fui pessoalmente. Contudo, evolvidas por um material branco gelatinoso, havia um verdadeiro arsenal de armas semelhantes as dos soldados da N-life. Angélica se equipava com elas.

― A luta vai começar ― disse ainda sem desviar o foco. ― Eu vou ajudar.

Áster franziu a testa.

― Não pode fazer isso ― retrucou. ― É-é muito perigoso.

― Eu não vou ficar aqui sem fazer nada ― finalmente encarou os olhos da parceira. A expressão decidida. ― Sabe que eu não posso. Não de novo.

― Acho que não entende o quanto a merda ficou séria agora.

― Agora? ― Angélica balançou a cabeça. ― Olhe em volta. Veja tudo que aconteceu. A merda ficou séria há tempo demais. E nós estamos apenas observando, também, há tempo demais. Se não fizermos nada, tendo como fazer, e pessoas se machucarem, a responsabilidade vai ser tão nossa quanto dos filhos da puta que juramos derrubar.

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