CAPÍTULO XIII - VRUM, VRUM!

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― Rápido ― falei a Demétrio e Érico. ― A gente têm que ir praquela saída de incêndio que você falou.

― O que? ― perguntaram um tanto alto demais.

Praguejei. Eles provavelmente ficaram surdos por causa do barulho do rugido do coelhão. Busquei encontrar o bichão, ele estava no lado oposto ao meu tentando pegar um grupo de alunos enquanto desviava dos tiros do guarda. Me lembrei rapidamente do Dourado me protegendo no beco. Seria muito bom se ele estivesse aqui agora. Todavia, como não era o caso, tinha que aproveitar a distração do outro para escapar, no entanto, não havia tempo o bastante para esperar aqueles dois rapazes voltarem ao normal.

Assim, agarrei a mão do Loiro-padrão e puxei-o para o lado da tal saída enquanto gesticulava bem rápido para que viesse comigo. Ele me encarou de forma estranha, mas cedeu. Começamos a nos afastar de Demétrio que veio atrás de imediato. Tentei transformar nosso trenzinho numa corrida de verdade acelerando meu passo e apontando para onde tínhamos que ir. Como se finalmente tivesse entendido, o Loiro-padrão se aproximou mais de mim voltando-se para Demétrio. Não entendi o que ele disse, mas Demétrio sim, pois o garoto disparou na frente. Sem esperar segunda ordem, imitei-o com Érico a tiracolo.

Demétrio chegou primeiro e ficou fazendo sinais de incentivo ― não que fosse muito necessário. ― Quando alcancei-o, notei que atrás dele havia um corredor com rampa que levava a outro todo branco. Érico assumiu à frente sem soltar minha mão. Conforme era puxado para prosseguir com a fuga, consegui dar uma última olhada no pátio. Muita gente já havia fugido, porém, no tempo que desviei a atenção, mais quatro se encontravam no chão, imóveis. Engoli em seco seguindo com Érico e Demétrio. Juntos, nós três corremos pela passagem. Ao nosso redor a orquestra macabra de gritos humanos, tiros, ganidos de zumbi e rugidos de coelhão, além do que me pareceu ser o som de mais deles chegando pelo ar continuava incessantemente.

Viramos a curva no banheiro, de lá a tal saída se fez visível. Ninguém mais conseguia correr, então avançamos com um passo acelerado. Passamos por uma janela de onde avistei um fuzuê* e chamei a atenção dos outros. Eles se aproximaram espiando a cena junto comigo. No andar térreo, vários zumbis forçavam seus corpos contra uma cerca. Sobre a pouca luz, pareciam uma massa obscura de corpos. Não havia nenhum guarda nem nada. Pensei que talvez pudéssemos avisá-los, porém a cerca cedeu antes disso. Todos os mortos caíram, mas logo se levantaram e correram para onde tivessem pessoas mais próximas.

― Meu Jesus amado! ― Érico exclamou segurando minha mão com mais força. Olhei para ele com a testa franzida. Nem reparei que ainda estávamos de mãos dadas. Devagar, desentrelacei nossos dedos e virei para outro lado. Com a visão periférica, notei que o Loiro-padrão abaixou a cabeça. Algumas perguntas foram levantadas mentalmente, contudo não era hora delas.

― O que a gente faz agora? ― questionou Demétrio.

Era uma dúvida pertinente: antes estávamos apenas fugindo do coelhão castanho. Não tínhamos perspectiva ou rota, mas agora podiam haver zumbis espalhados pelo prédio, o que mudava tudo. Enquanto eu pensava nas opções para resolver aquele impasse, um som agudo de microfonia retumbou em meus ouvidos. Levei um susto, mas logo o barulho diminuiu dando lugar a uma voz feminina:

"A... ten... atenç... atenção todos os civis, por favor dirijam-se ao estacionamento dos ônibus para que seja feita a devida evacuação. Repito: vão para o estacionamento dos ônibus. Esse lugar não é mais seguro. Vamos embora daqui. Faremos o possível para levar todos, mas para isso precisamos que cheguem até o estacionamento. Repito..."

Foi quando parei de prestar atenção.

― Como a gente chega nesse estacionamento daqui? ― perguntei a Demétrio.

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