CAPÍTULO IV - ESCOLA

205 43 447
                                    

Antes: Felipe chega a nova cidade. Melissa e sua família param para comprar animais e o garoto acaba nomeando a coelha de sua companheira de "Orelhuda". Quando deparam-se com a casa nova, percebem algumas estranhezas rodeando sua nova vida.

Agora:



Acordei no susto. Me sentei na cama e esfreguei os olhos. Peguei meu celular que em em algum momento deslizou da cama para o chão. A música no fone ainda tocava e ele estava quase sem bateria, porém não fazia a menor ideia de onde estava meu carregador. Desbloqueei a tela. Uma notificação do WhatsApp apareceu. Era Melissa. Ela respondera minha mensagem uns dez minutos depois de recebê-la. Dei um sorriso e mandei uma nova explicando que tinha dormido. A resposta veio quase de imediato, um lacônico "ata" seguido de um "E como vão as coisas por aí?". Comentei bem por alto sobre o apartamento. Trocamos mensagens por uns quinze minutos antes de alguém bater na porta do meu quarto.

― Tá acordado? ― era a voz do meu pai. Respondi com um lânguido "tô". Meu pai tomou isso como um convite e entrou. ― Escuta ― começou ele sentando ao pés da cama de frente para mim. ― Eu queria pedir desculpa por estar discutindo tanto com a sua mãe esses dias. A gente tá se estranhando um pouco, mas é coisa nossa, ok? Não tem nada a ver com você.

― Eu não achei que tivesse ― comentei.

― Pois é ― ele sorriu. ― Enfim, vai ficar tudo bem. Até já tamo se acalmando.

― Beleza.

― Dito isso ― o sorriso normal se transformou num daqueles sorrisões bobos de pai. ― Queria te chamar pra assistir alguma coisa com a gente. Dá pra maratonar alguma série!

Franzi o cenho.

― Tem certeza? ― questionei. ― Amanhã não é um dia importante?

― Pois é ― concordou ele. ― Então hoje dá para relaxar, né?

Sorri concordando. Mandei mensagem para Melissa avisando que não poderia conversar por um tempo, coloquei o celular para carregar e acompanhei meu pai até a sala. Minha mãe estava no sofá, trocara as roupas viagem por um vestido florido que gostava de usar em casa e parecia bem tranquila. Me aconcheguei ao lado dela. Não demorou para que escolhêssemos ver "The Witcher". Seguimos assistindo até altas horas da noite, nos espantando com as reviravoltas da trama e discutindo quais personagens mais gostamos assim que os episódios acabavam. Nem sei a que horas fomos dormir, mas acordei na manhã seguinte mais morto do que vivo. Encontrei minha mãe na cozinha passando manteiga no pão, uma visão bem familiar.

― Bom dia ― cumprimentou ela.

― Oi ― respondi. ― Esse é o café? ― perguntei num tom meio reclamão e, assim que a última palavra saiu, quis engoli-la de volta.

― O que é que tem? ― rebateu ela num tom calmo, mas que eu sabia ser extremamente perigoso.

― Nada ― falei, apressado. ― Eu... só...

― Olha, filho ― mesmo prestes levar um pequeno sermão, ouvi-la dizer "filho" com tanta naturalidade me deu um arrepio. ― Eu pensei em fazer um café de novela cheio de bolo e suco de laranja, mas não concorda que é bom manter algumas coisas mais normais?

― Sim, mãe! ― respondi, baixinho.

― Além do mais, eu faço um pão na chapa melhor do que muito bolo por aí. ― adicionou ela.

Era verdade. Minha mãe certamente dominou a arte ancestral de fritar pão com manteiga.

― Bom dia, gente ― a voz aveludada do meu pai ecoou pela casa.

APÁSCOALIPSEOnde histórias criam vida. Descubra agora