CAPÍTULO XLII: FIM

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ANTES:

Em uma batalha feroz, a barreira sobre a cidade é derrubada, mas no fim Sérgio se transforma em zumbi e acaba sendo morto. Felipe descobre que um helicóptero está a caminho para salvá-los.

AGORA:

O ar frio soprava com força na cobertura do prédio. O céu era uma loucura de nuvens vermelhas se esvaindo por entre a escuridão da noite. Por frestas, já era possível ver claramente as estrelas brilhantes em profusão, dançando ao redor de uma lua cheia. Era possível até mesmo ver o esplendor da Via Láctea, a joia da coroa do firmamento. Era uma visão linda demais para olhos tomados pela tristeza contemplarem. Cada degrau que deveria me levar para a tão sonhada liberdade era percorrido com dor, enquanto eu segurava o corpo do meu garotinho nos braços. Um pedaço qualquer de tecido cobria seu belo rosto profanado pela praga hedionda dos zumbis. Meu outro garoto, desmaiou nos ombros de Érico. Tudo que aconteceu foi demais para sua cabeça processar conscientemente. No fim, era melhor assim. Eu desejava o mesmo. Apenas me recolher na própria inexistência.

Nenhuma palavra foi dita. Por ninguém. Não havia o que falar. De certa forma, esperar por uma vitória sem baixas era pedir muito. Sempre foi. Ainda assim, nunca esperávamos que fosse justo o mais puro e inocente de nós.

Aos poucos, todos se juntaram no teto. Pela primeira vez em muito tempo, nos sentamos permitindo um segundo de descanso. Mesmo o universo parecia cooperar. Não havia zumbis ou coelhões se aproximando. Honestamente, eu os esmagaria com as próprias mãos até me sentir melhor. Não tinha certeza se era algo bom ou ruim.

Érico veio ficar comigo. Deitei em seu ombro.

― Eu... ― ele hesitou. ― Eu abraçaria você, mas tô com as mãos ocupadas. ― falou se referindo a Samuel.

― Tudo bem ― respondi. ― Ele merece descansar agora. A vida real é uma merda, afinal de contas.

― Uma merda e tanto, mas tem coisas boas. ― beijou minha testa. ― Eu tenho uma noção do que você tá sentindo. Não vou meter um clichezão, porque odeio eles, mas vou ficar aqui. Com você. Nessas horas, ter alguém do seu lado é o que ajuda a sobreviver.

― Agora eu sei disso. ― encarei o céu. ― Quando tudo começou eu decidi tentar me salvar, não importasse o que precisasse fazer ou quem tivesse que ser. Eu escolhi ser egoísta, por parecer mais fácil. Sem me importar com as outras pessoas, exceto meus pais, tinha mais facilidade de tomar decisões impossíveis.

― É estranho ouvir isso de você. ― Érico franziu a testa. ― Se colocou em perigo mais do que todo mundo pra deixar a galera viva.

― Sim, mas isso foi depois. ― expliquei. ― Depois deles. ― encarei os meninos. ― Quando escolhi me arriscar e salvá-los, eu não pensei. Não raciocinei nem nada assim. Foi como se o meu corpo se movesse sozinho, eu só... agi.

― Tentou matar a parte boa, a parte humana em você, mas não conseguiu. ― pontuou Érico. ― Essa chama dentro de você. Essa luz. Isso atrai todo mundo para o seu lado. Dane-se a superforça ou sentidos aprimorados. É esse o seu maior poder. Você não escolhe o que é fácil, ao contrário, faz o que é certo por mais difícil que seja.

― E o que isso trouxe de bom?

― O que trouxe de bom? Você salvou todo mundo ― Érico moveu-se para tocar meu rosto. ― A gente não ia ter chance sem você. Nos manteve vivos. Eu sei que esses meninos sofreram antes de tudo isso, mas o Sérgio foi tão feliz com você. Mais do que em anos junto com os pais. Ele pode ter partido, mas foi em paz. Foi... feliz por ter amado e sido amado com tanta força. Tranquilo, porque sabe que os dois irmãos dele vão cuidar um do outro. Não dá pra reverter a morte, só podemos aceitar que fomos as melhores pessoas para quem se foi e eu tenho certeza que você foi a melhor pessoa que o Sérgio conheceu. Sei disso, porque é exatamente o que eu sinto.

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