CAPÍTULO XXXVIII: CONTRA(O)TEMPO

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ANTES:

Após Suelen fugir, Érico, Arantes e Felipe vão atrás dele junto de Dourado. Mas o garoto foi levado por um grupo da N-life. Usando seu dom, Felipe descobre um inimigo da N-life do outro lado da Nuvem e um deles é sua própria mãe.

AGORA:

Um silêncio sepulcral pairava pelo ônibus lotado uma última vez. Rostos inexpressivos ocupavam-se em olhar pela janela ou apenas contemplar os vincos do chão. O veículo seguia por uma rua esburacada ― coelhões aterrissando, supus. ― o solavanco das rodas nos fazia pular como pipoca na panela, mas ainda assim ninguém se atrevia a dizer qualquer coisa, não havia muito a ser dito de qualquer forma. Me revirei na poltrona pela quinta vez. Era difícil ficar confortável. Olhei pela janela. O céu cor de sangue exibia pontos pretos que devagar vagavam até um centro definido, como um tumor espalhando-se num órgão saudável. O restante da névoa parecia mais fraca. Como se a força tivesse diminuído, embora não fosse o caso. Estavam preparando tudo para a grande bomba.

Aquilo iria destruir toda a cidade junto com todos dentro dela sem deixar a destruição espalhar-se para as áreas ao redor. Seríamos riscados do mapa. No fim, meros números deletados da tela. A pressão esmagadora me embrulhava o estômago. Novamente, eu havia trocado de roupa. A mesma blusa vermelha por baixo, dessa vez sufocada pelo traje pesado de soldado da N-life. A maioria de nós estava assim. Com as cores do inimigo. Calhou de Demétrio encontrar vários agentes mortos no hospital, bem, eram zumbis, mas Suelen e eu cuidamos disso. Apesar de podre, o uniforme era bem-vindo. Grosso, resistente, mas ainda assim maleável. Em outro universo, eu poderia me acostumar. A única exceção era Sérgio. Não havia nada do seu tamanho, logo, ele estava vestido com roupas de outro menino morto, embora não soubesse disso. Já seria muito difícil para ele sem conhecer tal fato.

Foi uma cena curiosa quando Arantes emocionou-se ao ver Érico daquele jeito. Viu a imagem do irmão, pura e intocada. Eu mentiria se dissesse que a farda não mexeu comigo também. Meu loiro-padrão estava com um braço ao meu redor. Sentia sua perna tremendo, nervosa. Nada mais justo considerando o que estávamos prestes a fazer. Além de mim, Áster era quem menos disfarçava o asco por aquelas roupas, a garota acariciava os cabelos de uma Angélica adormecida em seu colo. Ao fundo, isolado, Floriano praguejava. A presença daquele homem me incomodava muito, mas não a ponto de deixá-lo para trás ― era bom ter um bode expiatório. ― Demétrio conversava com Suelen em outro assento. Se me dissessem ontem que todo o nosso destino dependeria de Demétrio, eu não teria acreditado.

 Se me dissessem ontem que todo o nosso destino dependeria de Demétrio, eu não teria acreditado

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― Só pode tá de sacanagem ― Demétrio rolou pelo chão. Érico e eu nos entreolhamos. Havíamos acabado de voltar de nossa pequena missão de busca e repassamos os acontecimentos junto de todos. Fui bem pontual sobre como o mundo segue normal do outro lado e olhei diretamente para Áster quando falei da Askium, embora tenha omitido a parte sobre minha mãe. Iria discutir sobre isso a sós com a garota, mais tarde. ― Qual a chance do menino ir justo para onde íamos de qualquer forma? Que roteirista preguiçoso, hein?!

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