29.

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Pov Maraisa

- Maraisa, se acalma - Minha irmã fala passando a mão nas minhas costas - Respira.

- Eu não consigo mentir assim, Maiara - Sussuro baixinho - Eu não sou assim, eu não vou conseguir.

- Você vai conseguir - Maiara fecha a porta do carro e segura meu rosto - A gente não tem outra opção.

- Eu não vou conseguir viver com esse peso, com essa... com essa morte nas minhas mãos.

- Eu te entendo, eu te entendo mesmo, mas você não pode colocar tudo a perder, a sua esposa, o seu filho.

- Meus filhos...

- O quê?

- A Lila está grávida...

- Puta que pariu - Maiara sussura baixinho.

Me encolho no banco do carro e começo a chorar, meu peito está doendo, a minha cabeça latejando, eu não consigo pensar, não consigo achar uma solução, nada além de me entregar.

- Me leva para a sua casa - Falo para ela - Eu não quero ficar com a minha esposa agora, não vou conseguir olhar para ela.

- Mara...

- Por favor...

- Tudo bem...

Maiara dá a marcha no carro e eu eu tento de todas as formas pensar em uma solução. As decisões que realmente causam arrependimento são aquelas que não tomamos, eu me autossabotei, coloquei o ódio, a dor, a mágoa, usei isso como impulso e acabei com duas vidas, de uma vez só. ⁠A autossabotagem é o mecanismo muito usado por aqueles onde impera o sentimento de culpa, rejeição, magoa, complexos e isso aconteceu comigo.

A ideia que eu encerrei uma vida machuca, abre um buraco no meu peito. Eu não tinha esse direito, eu não poderia fazer isso, não é justo, eu não fui justa.

Maiara abre a porta da casa para mim e eu vou direto para o quarto de hospedes, abraçando o travesseiro e me permitindo chorar ali.

Chorar é diminuir a profundidade da dor, mas dessa vez não está adiantando, nada está adiantando. Eu estraguei a minha vida, eu acabei com tudo de bom que um dia eu construí, eu acabei com a minha família, com o futuro do meu filho, com a vida da Marília, ela não vai conseguir lidar com tudo isso, eu acabei com tudo.

Se eu me entregar, vão parar de acusar Marília, Léo daqui a alguns anos não vai se lembrar de mim, o filho que a minha esposa está esperando não vai me conhecer, ele não vai sentir falta, Maiara vai sair como inocente, até porque ela é, Luísa vai cuidar de Marília, sei disso e minha sobrinha não vai ter mais ninguém enchendo seu saco.

- Mara... eu trouxe água para você.

- Eu vou me entregar - Falo sem olhar para ela - Eu não vou te envolver nisso, mas eu não consigo ser assim.

- Eu não vou deixar.

- Eu não me importo.

- Eu não estou pedindo a sua autorização, Maraisa - Maiara fala nervosa - Ninguém desconfia de você.

- Mas desconfiam da Marília.

- Mas ela não fez nada, não vão encontrar nada.

- Mas eu não consigo viver com essa culpa.

Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente, eu preciso fazer alguma coisa. Maiara me olha com os olhos cheios de lágrimas, a linguagem corporal tensa, provavelmente querendo me bater.

- Você é uma adulta, eu não posso interferir nas suas decisões - Ela fala devagar - Mas você vai contar para Marília, não é justo ela descobrir da pior forma.

Esposa Troféu (Malila)Onde histórias criam vida. Descubra agora