Pov Maraisa
- Maraisa, se acalma - Minha irmã fala passando a mão nas minhas costas - Respira.
- Eu não consigo mentir assim, Maiara - Sussuro baixinho - Eu não sou assim, eu não vou conseguir.
- Você vai conseguir - Maiara fecha a porta do carro e segura meu rosto - A gente não tem outra opção.
- Eu não vou conseguir viver com esse peso, com essa... com essa morte nas minhas mãos.
- Eu te entendo, eu te entendo mesmo, mas você não pode colocar tudo a perder, a sua esposa, o seu filho.
- Meus filhos...
- O quê?
- A Lila está grávida...
- Puta que pariu - Maiara sussura baixinho.
Me encolho no banco do carro e começo a chorar, meu peito está doendo, a minha cabeça latejando, eu não consigo pensar, não consigo achar uma solução, nada além de me entregar.
- Me leva para a sua casa - Falo para ela - Eu não quero ficar com a minha esposa agora, não vou conseguir olhar para ela.
- Mara...
- Por favor...
- Tudo bem...
Maiara dá a marcha no carro e eu eu tento de todas as formas pensar em uma solução. As decisões que realmente causam arrependimento são aquelas que não tomamos, eu me autossabotei, coloquei o ódio, a dor, a mágoa, usei isso como impulso e acabei com duas vidas, de uma vez só. A autossabotagem é o mecanismo muito usado por aqueles onde impera o sentimento de culpa, rejeição, magoa, complexos e isso aconteceu comigo.
A ideia que eu encerrei uma vida machuca, abre um buraco no meu peito. Eu não tinha esse direito, eu não poderia fazer isso, não é justo, eu não fui justa.
Maiara abre a porta da casa para mim e eu vou direto para o quarto de hospedes, abraçando o travesseiro e me permitindo chorar ali.
Chorar é diminuir a profundidade da dor, mas dessa vez não está adiantando, nada está adiantando. Eu estraguei a minha vida, eu acabei com tudo de bom que um dia eu construí, eu acabei com a minha família, com o futuro do meu filho, com a vida da Marília, ela não vai conseguir lidar com tudo isso, eu acabei com tudo.
Se eu me entregar, vão parar de acusar Marília, Léo daqui a alguns anos não vai se lembrar de mim, o filho que a minha esposa está esperando não vai me conhecer, ele não vai sentir falta, Maiara vai sair como inocente, até porque ela é, Luísa vai cuidar de Marília, sei disso e minha sobrinha não vai ter mais ninguém enchendo seu saco.
- Mara... eu trouxe água para você.
- Eu vou me entregar - Falo sem olhar para ela - Eu não vou te envolver nisso, mas eu não consigo ser assim.
- Eu não vou deixar.
- Eu não me importo.
- Eu não estou pedindo a sua autorização, Maraisa - Maiara fala nervosa - Ninguém desconfia de você.
- Mas desconfiam da Marília.
- Mas ela não fez nada, não vão encontrar nada.
- Mas eu não consigo viver com essa culpa.
Lamentar uma dor passada, no presente, é criar outra dor e sofrer novamente, eu preciso fazer alguma coisa. Maiara me olha com os olhos cheios de lágrimas, a linguagem corporal tensa, provavelmente querendo me bater.
- Você é uma adulta, eu não posso interferir nas suas decisões - Ela fala devagar - Mas você vai contar para Marília, não é justo ela descobrir da pior forma.
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Esposa Troféu (Malila)
RomanceComo lidar com o fato de ser considerada um troféu pela sua própria esposa? Com o fato de você ser apenas um troféu? Apenas um objeto para ela? E como terminar um casamento, com uma pessoa que você tantou amou? O seu primeiro amor, a sua primeira pa...