Encontros e Desencontros

Acerto de contas

Respirando fundo algumas vezes Jun-ho tomou coragem para começar a contar tudo.

— Eu conheci o Dan a cinco anos atrás num acidente de carro. Naquela época fiquei muito mal, internado, mas ele quis assumir a responsabilidade de tudo. Pagou pelo meu tratamento, minha estadia no hospital. 

— Nosso relacionamento se desenvolveu aos poucos. Com o tempo e as visitas diárias dele comecei a perceber o quanto ele era um cara legal e me apaixonei. Minha intenção era guardar segredo dos meus sentimentos, mas um dia, quando tinha acabado de me ajudar a tomar um banho ele me beijou e se confessou.

 — Mal pude acreditar, estava tão feliz, tudo estava quase perfeito. Nós namoramos por dois anos e numa noite, alguns dias depois de nosso aniversário, ele desapareceu.

— No começo eu pensei que ele tinha sofrido um acidente ou tinha sido sequestrado, procurei nas delegacias, nos hospitais, procurei até no necrotério, e não tinha sinal dele em lugar nenhum. Mas, numa noite eu vi ele de relance, estava em uma festa e o vi sair de carro.

— Naquele momento todos os meus sentimentos se misturaram, eu estava aliviado em saber que ele estava bem e vivo, mas depois fiquei desesperado, tudo o que eu conseguia me perguntar era por quê... Por que ele sumiu? Por que ele não atendia o telefone ou me procurava? Até que finalmente eu percebi que tinha sido abandonado. Isso me devastou ainda mais. 

— Aquela foi a primeira vez que eu procurei por encrenca por conta própria... Eram seis idiotas arrogantes... Bater neles me ajudou a descarregar a raiva que sentia... Mas não era suficiente, eu precisava de mais... Passei a frequentar todos os tipos de casas noturnas que você imaginar, caçava briga, batia, bebia cada vez mais, mas nada resolvia, nada diminuía minha dor...

— Passei a sair com várias pessoas, de todos os tipos, nada mais importava. E mesmo assim nada fazia a dor diminuir... Levei minha vida assim até que te vi pela primeira vez naquele parque...  Conhecer vocês mudou completamente a minha vida. Aos poucos, enquanto nós três saímos, comecei a perceber que pensar em Dan não doía mais, eu fiquei assustado, com medo... Não queria passar por tudo de novo, então lutei contra, lutei muito, mas não conseguia resistir, os sentimentos que se apossaram do meu coração foram mais fortes do que minha razão...

— Eu realmente fiquei surpreso quando recebi a ligação do Dan, não entendia o porquê dele querer me procurar depois de tanto tempo... Eu disse a verdade quando falei que não tinha a intenção de me encontrar com ele, mas quando ele me disse que queria me contar qual era o motivo... Eu não resisti, essa talvez seria a única oportunidade de entender o motivo de tudo...

Suga ouvia tudo calado, por mais que Luna tivesse dito basicamente a mesma coisa para ele, ouvir a versão do Jun-ho estava sendo doloroso demais, além de tudo, o sentimento que mais o dominava naquele momento era o ódio absoluto por Dan, uma fúria silenciosa crescia dentro de seu peito, se esforçando muito para não se deixar levar pela vontade de matar o desgraçado que arruinou o amor de sua vida, apertou as mãos de Jun-ho numa tentativa de se acalmar um pouco enquanto falava em voz baixa:

— Por que você mentiu sobre quem estava te ligando?

— Eu sinceramente não sei... Acho que fiquei com medo do que aconteceria se você soubesse... Eu não queria que brigássemos por causa disso... Não queria te machucar... Eu apenas queria encerrar essa parte do meu passado... eu não imaginava que as coisas acabariam assim... 

—  Eu não estava chorando por ainda ter sentimentos pelo Dan, eu chorei pela dor de saber que mais uma vez eu tinha sido traído... Descobrir que fui abandonado porque ele engravidou a garota foi demais pra mim... Eles me traiam bem na minha cara e eu, idiota apaixonado que era, nunca percebi... Mas esse não foi o único motivo... Ver você cuidar de mim mesmo sabendo que eu estava mentindo foi demais pra mim... Você nem imagina o quanto eu me senti horrível por isso... 

Tudo o que Suga conseguia fazer naquele momento era abraçar forte seu namorado, a dor e a culpa tão evidentes naquele rosto que tanto amava estava dilacerando seu coração. Seus braços se apertavam cada vez mais na tentativa de tomar a dor dele para si. 

— Eu sinto muito ursinho... Me perdoe... Eu te amo tanto... Me perdoe... 

 — Por que está pedindo desculpas?

— Por duvidar de você... Por acreditar que você estava me traindo... Por ter mandado o Kype te seguir... Por ter investigado o seu passado... Me perdoe...

 — Suga... Você mandou me seguir e investigou meu passado?

— Em minha defesa a investigação foi na época que eu te conheci... Não podia arriscar a segurança da Dae daquele jeito... Mas até então eu nunca tinha olhado o resultado da investigação... Pelo menos até você receber a ligação... Ver você agir de maneira tão estranha me fez suspeitar da sua lealdade... Eu me vi obrigado a olhar... Eu pensei que você estava me traindo... Todos ficaram furiosos comigo! Hobi quase me bateu de verdade... 

Ouvir aquelas confissões foi chocante para Jun-ho, mas um sorriso brotou em seus lábios.

— O que é tão engraçado? — Suga perguntou desconfiado.

— Isso definitivamente é a sua cara leitinho... Mas se o Kype me seguiu, porque você ainda acreditou que eu tinha alguma coisa com o Dan?

— Me perdoe... Eu estava sendo um idiota... Estava com ciúmes... Estava louco... Me perdoe por não ter confiado em você...

— Eu te devo um pedido de desculpas também... Me desculpe por mentir, me desculpe por ir encontrar outra pessoa... Me desculpe por acreditar que mentir seria o melhor... Me desculpe por não ter confiado em você.

— Falando em confiança... Você pode me explicar isso? — Suga disse mostrando a foto onde a sequestradora de sua amiga aparecia. — Posso saber por que vocês estavam com a Chae-won? 

Quando viu a foto o sorriso de Jun-ho desapareceu.

— Essa foto foi tirada no dia de nosso aniversário de dois anos... Essa é a garota com quem Dan me traia... E foi por engravidar ela que  ele me abandonou.

Suga não sabia o que dizer, já era um choque saber que eles se conheciam, mas descobrir que  Chae-won estava gravida quando sequestrou Luna foi ainda pior.

— Luna sabe que vocês eram amigos?

— Não, eu realmente fiquei surpreso  quando soube que tinha sido presa pelo sequestro... Pelo visto essa vadia consegue arruinar a vida de qualquer um que cruze seu caminho... 

— O que foi isso agora? Está defendendo seu ex?

— Não, você entendeu errado... Estou apenas constatando uma realidade... e não vem com essa pra cima de mim, porque eu sei que você pensou a mesma coisa!

 — Você me conhece mesmo!

A risada dos dois embora soasse um pouco triste mostrava a sinceridade dos sentimentos de ambos.

Com os corações mais leves devido a conversa franca que tiveram, tanto Jun-ho quanto Suga estavam dispostos a enterrar o passado e se dedicar totalmente um ao outro.