Capítulo 18

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Quando Margarida chegara em casa percebera que Olívia e André já deveriam estar repousando em seus quartos, pois ao adentrar a sala de estar, o encontrara totalmente vazio e escuro.

Ela segue para a cozinha, checando a macarronada na panela, vendo que ambos já deviam ter comido. A louça estava lavada e guardada, pois a pia estava vazia e limpa.

Como não estava com fome, ela segue para a imagem da Virgem Maria e começa suas orações, antes que pudesse se recolher também.

E com um sinal da cruz, ela começa pedindo para que Nossa Senhora pudesse lhe dar forças e discernimento para quando fosse de encontro a Eusébio. Bem, se isso realmente acontecesse, já que até então não havia recebido nenhuma resposta. Mas algo lhe dizia que essa resposta não tardaria a chegar.

Depois de agradecer, Margarida faz outro sinal da cruz, seguindo para o andar de cima.

Ao passar pela porta do quarto da filha, escuta uma música bem baixinho. Ela então bate na porta, escutando um entra, logo em seguida.

— Pensei que já estivesse dormindo. — Diz Margarida, adentrando o quarto.

Olívia estava de camisola, sentada na cadeira, escutando o rádio, enquanto crochetava.

— Estou sem sono. A senhora chegou agora?

— Sim. Acabei de chegar. A macarronada estava boa?

— Uma delícia. André se esbaldou.

— Por falar nele...

— Ela já foi dormir. Assim que acabamos de comer, ele me ajudou com a louça. Ficamos conversando mais um tempo e subimos logo em seguida.

— E como foi hoje? — Margarida se acomodara na cama de Olívia.

— Foi bom. Passamos na biblioteca e pegamos uns dois livros e em seguida fomos até a Praça dos Jacintos.

— Nossa, há quanto tempo que não vou lá.

— Está mais bonito que antes, mãe. Pelo que parece, reformaram. E os jacintos continuam as belezas de sempre. Ficamos um pouco lá, conversando e relembrando dos tempos de criança, quando íamos lá junto com o...

Nesse instante, Olívia parara de falar, como se estivesse prestes a falar algum palavrão, ao quase deixar escapar papai.

Percebendo, Margarida muda a conversa por uma outra via.

— Quais livros você pegou?

Olívia gelou.

Assim que subira, tirara o livro da bolsa, colocando em cima da mesinha de cabeceira que havia ao lado de sua cama.

Porém, não deu tempo de tentar esconde-lo, pois Margarida, percebendo-o ali perto, foi em sua direção.

Olívia apenas esperou o esporro que a mãe lhe daria.

Ao pegar o livro, Margarida vira que se chamava O Livro dos Espíritos. De fato, Margarida não estava esperando ver a filha com um livro daqueles.

— Já começou a lê-lo?

Olívia estranhou. Tinha certeza que a mãe surtaria por tê-la visto com um livro daqueles.

Mas, respondendo sua pergunta, disse:

— Já sim. — Respondeu Olívia, meio a contragosto.

Margarida começa a folhear O Livro dos Espíritos, vendo que ele parecia ser composto por perguntas e respostas. Ficara intrigada em saber do que se tratava, mas não continuou. Deixou-o em cima da cabeceira junto ao outro e virou-se para Olívia.

— Não fique até tarde, está bem? Amanhã a semana começa. Eu vou dormir. Estou bem cansada.

— Tudo bem, mãe. Sua benção.

— Deus te abençoe, querida! — Margarida deposita um beijo na testa da filha e sai do quarto em seguida.

Olívia esperava qualquer reação de sua mãe, menos aquela. Assim que vira Margarida perceber do que se tratava o livro, esperava ouvir broncas e talvez, também, a proibição de voltar a biblioteca por um bom tempo. Estava até vendo a cena de André indo ao encontro delas, para saber o que estava acontecendo.

Mas num gesto simples e sereno, fez como se aquilo não fosse nada.

Talvez Olívia tivesse julgado mal a mãe. Mas não havia acabado por aí. Ela iria confrontá-la a respeito do que pensara ao vê-la com aquele livro.

Olívia levanta-se da cadeira, indo em direção ao rádio, desligando-o. Guarda seu crochê na trocha, colocando-a no armário. Segue para a cama, embrulhando-se com os lençóis.

Num pai nosso e uma ave maria, Olívia vira-se de lado, com os pensamentos totalmente vividos em sua mente, de como havia sido seu dia. E de como poderia repeti-lo mais algumas vezes.

Estar com André foi mais do que preciso. Sentiu-se feliz, como há muito tempo não se sentia. Seu coração bateu muitas vezes, como antes não fazia. O despertar de memórias aconchegantes traziam sentimentos... Sentimentos esses que esperava nunca mais parar de sentir.

E do outro lado do corredor, André compartilhava dos mesmos pensamentos e sentimentos. A única certeza de que tinha naquele momento, era que Olívia lhe fazia feliz e que gostaria de passar muito tempo ao seu lado.

E num sincronismo, ambos, em seus respectivos quartos, pegaram no sono ao mesmo tempo.


O Poder do Perdão - Pelo Espírito AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora