Capítulo 40

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— Senhor Eusébio? Mas o que faz aqui?

André não sabia como reagir àquela situação. Não queria ser grosso e manda-lo embora, até porque não podia, já que a igreja era um lugar público, onde qualquer pessoa poderia entrar. Mas sabia também que Olívia não poderia vê-lo. Sua vontade era de amarrar Eusébio onde estava e sair correndo avisar dona Margarida.

— É muito bom vê-lo de novo. E incrível como cresceu e se tornou esse homem que está agora.

André então percebeu que ele estava sóbrio. Não sentia nenhum cheiro de álcool vindo dele, como era de costume presenciar quando criança.

— Fico feliz em ver o senhor também, mas o que está fazendo aqui, seu Eusébio?

— É, eu sei... Não deveria vir para cá, até porque Margarida me pediu para ficar afastado por um tempo. Mas queria tanto poder ver Olívia. Falar com ela.

— Eu não sei se é uma boa hora para isso, seu Eusébio.

Por algum motivo estranho, André sentia uma amargura dentro de si. Por um certo momento, aquela sensação de alegria que permeava seu ser, pela quermesse, havia dado lugar a um sentimento de arrependimento e saudade.

Mas a conversa de ambos fora interrompida por Margarida, que ficara estarrecida ao se deparar com Eusébio parado à entrada da igreja.

— Eusébio? O que faz aqui?

— Margarida! Olha, eu sei que me pediu para ficar longe, mas preciso tentar falar com Olívia...

— Não, agora não. Pelo amor de Deus, homem. Você bebeu?

André balançara a cabeça negativamente. E como ninguém, Margarida vira que era verdade, até porque sabia quando Eusébio bebia, pois ficava com o rosto todo vermelho e sua feição demonstrava sonolência.

— Eu só quero ver minha filha.

— Vamos, venha!

Margarida pegara Eusébio pelo braço, levando-o o mais longe possível da igreja.

— Olha, eu sei que quer falar com ela e vê-la, mas não agora. Até porque, como eu disse, Olívia ainda guarda muita mágoa e raiva de você. É capaz de ter ver e surtar. Pense bem, homem. Faça o que eu disse. Se afaste por um tempo, até eu ver que ela está preparada para lhe ver.

Eusébio, cabisbaixo, entendia o ponto de vista de Margarida e sabia que era verdade, mas essa saudade e essa angústia que sentia o atormentava a cada minuto que passava. Era como se tivesse pouco tempo para consertar as coisas e precisasse fazer isso para ontem.

Mas o que mais queria era ter sua filha de volta. Poder conversar com ela, abraça-la, beijá-la e retomar todo o tempo perdido que não volta mais.

Margarida se comove ao ver lágrimas escorrer sobre o rosto de Eusébio. Ela sabia o que ele estava sentindo, mas nada podia fazer por agora para sanar essa vontade e fazer parar a dor que tanto lhe afligia.

— Por favor, Eusébio!

— Tudo bem, Margarida. Eu vou embora. Me desculpe.

Como resposta, ela lhe dá um sorriso.

Eusébio se vira para pegar o caminho de volta para a pensão.

Margarida tenta retomar, o que antes estava tentando fazer, que era chamar André para lhe ajudar com a entrega das cartelas de bingo, junto à Olívia e Julia, mas é interrompida por sua filha, fitando-a a alguns metros de distância de onde estava.

O Poder do Perdão - Pelo Espírito AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora