Eusébio nada disse a dona Laura a respeito do enjoo e o sangue. Deduzira apenas que a comida que havia ingerido, acabou não batendo no estômago. Apenas tomou um remédio, já que depois daquela noite, não sentira mais nada.
A semana parecia passar em cima de uma tartaruga. Parecia que a cada cinco minutos olhados no relógio, os ponteiros se encontravam no mesmo lugar. Eusébio já não estava mais se aguentando de tanto esperar. E para ajudar, estava já de férias do trabalho, o que atrasava ainda mais o tempo.
E com isso vinha os pensamentos ansiosos de como seria o encontro com Margarida. Depois de tanto tempo, o que diria ela? Qual seria sua reação perante ela?
Queria tanto que a filha também fosse. Passava em sua mente, cenas que criava de Margarida e Olívia indo de encontro a ele no mercadão. De se abraçando, como faziam antes. Dele pedindo perdão pela decisão que tomara e elas dizendo que era para deixar aquilo para trás, que era hora de recomeçar.
Mas sabia que pensar daquela forma, só alimentava uma expectativa que de certo, poderia não acontecer. Já estava sendo um milagre Margarida ter aceitado revê-lo.
No fundo, sentia que com Olívia seria bem mais difícil. Não sabia o motivo, mas tinha a percepção que ela fora quem mais se machucou e se magoou.
Com tudo, estaria disposto a fazer qualquer coisa para ter o amor e a confiança da filha de volta.
Pelo passar dos anos, Eusébio percebera o quanto perdera em não ver o crescimento da filha. De não ter estado ao seu lado, acompanhando seus estudos, seus amores, suas dores.
Realmente, não podia ser chamado de pai.
Mas quão grandioso Deus era por estar dando mais uma chance para que ele pudesse consertar o que deixou de lado.
Estava disposto a agarrar com garras e não soltar de forma alguma essa oportunidade.
— Amanhã é o grande dia, seu Eusébio. — Disse dona Laura, ao vê-lo adentrar na pensão com algumas sacolas em mãos.
— Pois é... E estou tão animado. Nem sei mais como é São Paulo, para ser franco.
— Vai ser como entrar num portal do tempo. Grandes lembranças virão à cabeça.
— Sabe, dona Laura — Eusébio deposita as sacolas em cima de uma das poltronas da sala e segue em direção ao balcão —, nem sei como agradecer a senhora pelo que me fez. Se não fosse a senhora, não sei o que seria de mim.
— Deixe de besteiras, homem.
— Mas é verdade. Mesmo contando para a senhora o que fiz, com a cara toda lavada, pedindo abrigo, não tendo um tostão no bolso... Não me julgara nenhuma vez. Muito pelo contrário. Sem mesmo sabendo de quem se tratava, me deu cama, comida e um lugar para ficar por muito tempo. Não sei nem como lhe pagar.
Dona Laura saiu do balcão e seguiu em direção a Eusébio, pronto para lhe abraçar calorosamente. O mesmo não negou o gesto da bondosa senhora.
— Todos merecem uma chance de se redimirem dos erros que cometeram. E ver que você está usando essa chance, me enche de felicidade, homem. Então a forma de me agradecer é justamente correr atrás de sua felicidade, que inclusive, se encontra em São Paulo.
Eusébio toma as mãos de dona Laura, beijando-as. Ela lhe dá um sorriso amistoso, cheio de solidariedade e felicidade.
— Nunca irei esquecer da senhora. Pode acreditar.
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O Poder do Perdão - Pelo Espírito Amélia
SpiritualOlívia sempre carregou a dor do abandono. Quando era apenas uma criança, seu pai, Eusébio, deixou-a e sua mãe, Margarida, sem explicações. Anos de dificuldades e turbulências moldaram a vida de Olívia, que cresceu com um coração cheio de mágoa e rai...