Capítulo 9

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Já fazia alguns dias desde que Eusébio havia mandado a carta para a sua antiga casa. Não tinha certeza se ainda elas moravam no mesmo lugar, mas não custou tentar. Porém, toda vez que ia checar a sua caixa de correio no prédio e encontrava apenas panfletos e contas, seu coração se entristecia.

No fundo, ainda tinha restado um pingo de esperança, de ao menos ser ouvido pela mulher e sua filha.

Passava das oito da noite e Eusébio havia chegado do trabalho e como sempre, foi em direção a caixa de correio com o coração batendo forte, na esperança de alguma das duas terem respondido sua carta. Mas se decepcionou quando a viu vazia.

— Boa noite, sr. Eusébio. — Falou uma senhora gorducha que saiu da porta atrás do balcão que havia na recepção.

— Boa noite, dona Laura.

— Ainda nada?

— Não. Nada.

— Não fique assim! Tenho certeza que irão te responder.

— Não sei, não, dona Laura. Nem sei se ainda moram no mesmo lugar. Mas tenho certeza de que não me querem ver pintado de ouro.

— Não pense dessa forma. Tenha fé. Quando menos esperar a carta vai estar aí.

— Deus lhe ouça.

Laura dá um sorriso solidário e volta a fazer suas tarefas atrás do balcão, sentando à mesa.

Sem dizer mais nada, Eusébio sobe as escadas, seguindo para o segundo andar, onde ficava seu quarto.

Ao destrancar a porta, Eusébio joga sua bolsa em cima da poltrona mais próxima e segue para cama, deitando-se com tudo nela.

A única coisa de que queria naquele momento era dormir. Dormir por vários anos, se possível.

A culpa e o arrependimento lhe tomavam a consciência todas as noites, quando parava para se concentrar na própria vida.

Não dei valor ao que eu tinha. Muitas das vezes precisamos perder para entender o quão precioso é aquilo que Deus nos dá.

Eusébio ficava horas e horas pensando em como seria sua vida se não tivesse feito o que fez. Como teria sido ver Olívia crescer. Como teria sido os dias de hoje, sem ele beber ou agir como um ogro.

Sentia saudade de Margarida e seus conselhos, quando estava aflito. Suas palavras, por mais que não demonstrasse, eram confortáveis ao seu coração. Tanto que se não fosse por ela, talvez ele tivesse feito coisa pior com sua própria vida.

Antes que o sono lhe tomasse por inteiro, Eusébio lembrou-se do dia fatídico, que hoje, queria poder voltar no tempo para mudar.

O Poder do Perdão - Pelo Espírito AméliaOnde histórias criam vida. Descubra agora